Capítulo 2

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Ayana

Acordei com uma dor de cabeça latejante, minhas pálpebras estavam pesadas, mas fiz um esforço para abri-las. Olhei ao meu redor e entendi onde estava: numa floresta. Árvores de diversos tipos estavam a minha volta e alguns animais também.

Tentei levantar da árvore em que eu estava apoiada, mas imediatamente me senti presa,  não tive sucesso algum ao tentar me mover. Puxei uma respiração, apenas para sentir uma fita na minha boca; eu estava amordaçada e amarrada. Desespero tomou conta de mim, imagens dos meus avós e de Cristian – provavelmente mortos — passaram por minha mente e não consegui segurar minhas lágrimas. Sequer pude limpá-las, afinal minhas mãos estavam presas atrás de minhas costas. Olhei para baixo; eu estava com as costas apoiadas contra o tronco de uma árvore e uma corda prendia meu abdômen nela, além de outra corda prendendo meus pés juntos.

Controlei o choro, porque não ia adiantar em nada, não quando eu estava amarrada e amordaçada e precisava de um plano para poder me libertar. Limpei minha mente, olhando ao redor para ver se algo poderia ser útil, mas não havia nada, absolutamente nada que me ajudaria a escapar dessas cordas e dessa fita. O que eu deveria fazer, então? Esperar pela iminente morte, que com certeza viria, porque eu não tinha água nem comida?

Talvez sim. Teria sorte se eu morresse assim, melhor que ser devorada por algum animal selvagem que vivia naquela floresta.

Som de passos ecoaram além de murmúrios de duas vozes masculinas, e meu coração deu um salto. Fechei meus olhos, fingindo que dormia, enquanto os passos ficaram cada vez mais altos.

— Nada da garota acordar. Menina mais fraca! Tem certeza que é ela? — uma voz forte e rouca perguntou.

Tem certeza que sou o quê?

— É ela, sim — a voz que respondeu era leve e jovial, o que acalmou um pouco as batidas de meu coração. — Não está vendo a marca no ombro esquerdo dela?

Me forcei a não franzir a sobrancelha. O que a marca em meu ombro significa? E como assim "É ela"? Eu queria gritar e perguntar o que diabos queriam comigo.

— Deixe-me dar uma olhada mais de perto — a voz rouca novamente se pronunciou, maliciosa.

Senti alguém se aproximar de mim e meu coração, que tinha se acalmado com a voz do rapaz jovem, disparou novamente. Uma mão tocou meu ombro esquerdo e desceu a minha regata. A ideia de ser abusada por esses caras me desesperou, porém continuei com os olhos fechados.

— Ei! O que diabos pensa que está fazendo? Não toque na garota, a não ser que queira ser esquartejado por Solaris... ou por mim — rosnou o rapaz mais jovem e isso me fez gostar um pouquinho dele. Um pouquinho.

— Calma — ronronou o primeiro homem. — Só estou conferindo a marca no ombro e quem sabe...

Sua voz foi interrompida pelo jovem:

— Quem sabe nada, tira sua mão imunda de cima dela — ele gritou.

Eu não sabia se ficava aliviada ou não, afinal ele poderia muito bem fazer com que o outro saísse para abusar de mim. Mas, se isso não acontecesse, eu seria eternamente grata a ele.

— Qual o problema, esquentadinho? Ninguém vai saber, não.

— Já disse, você não vai tocar nela — grunhiu o jovem.

Ouvi passos se aproximando e a mão asquerosa do homem foi tirada de cima de mim. Quase suspirei de alívio não fosse pela seguinte frase:

— Volte para a caverna, Luke, tentarei acordá-la — a voz do jovem era firme, não era um pedido; era uma ordem, sem espaço para o outro contestar.

Rainha da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora