ㅡ Filho, acorda! ㅡ dizia minha mãe. — Você precisa arrumar suas malas para ir à faculdade.
Era 7 horas da manhã quando minha mãe me acordou. O sol estava a entrar pela janela do meu quarto, demonstrando o quão belo seria aquele dia de verão.
Do meu quarto, pude sentir o cheiro delicioso do café da manhã que meus pais prepararam. Desci as escadas lentamente, ainda com sono, encontrando meu pai lendo o jornal e bebendo uma xícara de café, como fazia todos os dias.
ㅡ Bom dia, Hansol.
ㅡ Bom dia. ㅡ respondi sentando na cadeira ao lado.
Como nas últimas semanas, a única coisa que conseguimos conversar era sobre a minha viagem. Meus pais estavam ansiosos e apreensivos, afinal seu único filho ficaria quase quatro anos fora, sozinho e em outro estado, para fazer sua tão sonhada faculdade de artes cênicas. É, de certa forma, clichê, tenho consciência disso: em uma família de médicos e advogados bem sucedidos, um artista era como ser a única ovelha negra em meio a tantas brancas. Posso dizer com toda a certeza do mundo que minha situação só piorou quando disse que era homossexual.
Meus pais me aceitaram e respeitaram, pois, como eles mesmos disseram, minha felicidade era o mais importante. Porém, o resto da família não. Sempre estive ciente de que isso não seria um mar de flores. Principalmente se você vive no século XX, onde a grande maioria ainda desrespeita qualquer coisa ou alguém que fuja dos padrões tradicionais.
As chacotas que recebi durante meu ensino médio não me afetaram muito. Apesar de ser o único homossexual da sala, e, consequentemente, o maior alvo de palavras ofensivas de lá, elas me deixaram ainda mais forte.
Tenho orgulho de ser quem sou, pensava sempre.
Contudo, não são todas as pessoas que lidavam bem com esse tipo de situação.
Há dois anos, em 1973, quando eu ainda fazia o segundo ano do ensino médio, conheci um menino que carinhosamente apelidei de Josh.
Ele também era americano, em específico, da Califórnia. O mais velho mudou-se para Nova Iorque junto à sua família, porque, em seu antigo colégio, sofria homofobia. Tentando uma vida nova, em uma escola nova e com pessoas diferentes, por destino, acabamos nos conhecendo e criando um laço muito forte de amizade.
Josh era do terceiro ano e eu, do segundo. Nossas turmas dividiam o mesmo recreio e isso nos ajudou a ficar cada vez mais próximos. Depois de alguns meses, começamos a namorar e, bem, cada dia era um desafio diferente, cada dia mais uma prova de que nosso amor era tão forte quanto aquela situação.
Lembranças, inverno de 1973
Estávamos entrando na escola. Era nosso último dia de aula e, ao contrário de Joshua, eu estava extremamente feliz por isso.
ㅡ Josh, é nosso último dia de aula. Como se sente? ㅡ perguntei segurando em sua mão.
Josh olhou para trás e logo soltou sua mão da minha, colocando-a dentro do bolso de sua calça.
ㅡ O que está acontecendo com você? - perguntei com um alto tom de voz. ㅡ Por que está assim?
ㅡ Estou normal. Por favor, vamos entrar.
ㅡ Não está.... Josh, cadê aquele sorriso pelo qual me apaixonei? Hein? Vamos... Sorria para mim!
ㅡ Hansol... ㅡ dizia ele parecendo apreensivo.
Ouvi risadas vindo atrás de nós. Agora isso faz mais sentido, pensei.
ㅡ Por que não consegue ser feliz sem se importar com opiniões alheias?
ㅡ Não vamos começar uma briga, apenas vamos entrar e evitá-las!
Ignorei-o e, bufando de raiva, fui em direção aos meninos que estavam rindo de nós. Levantei minha mão esquerda, com a intenção de dar um soco certeiro no rosto de um deles.
ㅡ Hansol, não força a barra! ㅡ ouvi Joshua gritar.
ㅡ Não ouça seu namorado, Hansol. Bata em mim. Não é isso que você quer? ㅡ dizia Henry. ㅡ Mas, lembre-se de que, a todos os nossos atos, há consequências.
ㅡ Venha comigo, amor, por favor.
Respirei fundo e acompanhei o mais velho. Não valeria a pena gastar meu tempo com pessoas como Henry.
ㅡ Vou te esperar na frente da escola. Assim que o sinal bater, estarei lá, OK?
ㅡ Tudo bem. ㅡ respondeu enquanto beijava minha testa. ㅡ Tenha uma boa aula, Hansol.
— Não demore. Se acontecer alguma coisa, diga-me. Beleza?
— Beleza.
Se conhecessem um porcento da pessoa que é, tenho certeza que nunca fariam isso com você. Não fique triste, meu amor. Essa dor será passageira. Vamos ser felizes, pensei, vendo-o entrar em sua sala.
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1975: Trem Azul
FanfictionApós tantas perdas, decepções, ninguém é mais o mesmo. Quando Vernon perdeu seu namorado de forma tão trágica, tornou-se totalmente submisso ao medo de apaixonar-se e aquele inverno de terror de 1974 se repetir. Mudando-se para Califórnia no ano se...