Lucas na Caverna de Cristal - Uma viagem ao mundo dos portais

8º Capítulo - O Raio Azul - A alegria de voltar a ser criança

Lucas abriu os olhos novamente, mas agora via que parecia estar mais baixo que antes. Esfregou os olhos para se olhar no cristal, por que apesar de enxergar bem, a luminosidade da caverna deixava sua vista cansada. Ao seu ver, entendeu por que se sentia menor. As costas curvadas denunciavam a idade que seu espírito, com todo o aprendizado de uma noite refletia. Estava com uns oitenta anos.

- Sim, mas com um corpinho de setenta e cinco. - brincou Clara.

- Verdade. Não posso reclamar, mas acho que vão me estranhar um pouco quando eu acordar - riu Lucas -. Pelo menos vou poder jogar dominó com os amigos de meu avô, sem reclamarem que sou muito novo para ganhar deles.

Lembrou-se de seus avós. Pensava o quanto era difícil para um homem que teve toda a vitalidade e agilidade, se sentir cada vez mais desprotegido com o passar dos anos. O estado de dependência, para quem antes era chefe de família, com responsabilidades, faz com que as pessoas de mais idade se sintam desrespeitadas quando seus filhos os impedem de sair para dar uma volta sozinha no quarteirão. Remédios que são tomados quase de hora em hora, caminhadas somente acompanhados no parque para tomar sol, sopa à noite, brigas para tomar banho. Enfim, tudo faz com que os idosos se sintam aprisionados dentro de um corpo que os impede de aproveitar todo o conhecimento que adquiriram durante sua vida na Terra.

Lucas entendia a amargura de seu avô, principalmente depois de sua avó Nena falecer. Ele se sentia sozinho, sem ninguém para conversar, alguém que entendesse e respeitasse a sabedoria que os anos lhe proporcionaram. Era muito fácil para um idoso acumular dentro de si sentimentos de solidão e amargura, coisas que são somente superadas com o carinho, a compreensão e o respeito das pessoas que os cercam. Ele começou a pensar nas grandes conversas que teria com o avô dali por diante. Queria saber tudo de seu avô agora. Sua vivência, como ele veio da Espanha para o Brasil, como era sua família, todas as incríveis histórias que somente uma pessoa que viveu plenamente sua existência poderia contar.

Clara, ouvindo seus pensamentos, começou a falar:

- A ilusão da matéria, junto com a necessidade de ganhar, de ter, que é própria do ser humano nesta etapa da evolução, faz com que as pessoas vejam com desprezo os mais velhos, já que muitos não podem mais trabalhar, por causa das limitações de seu corpo, desgastado pela idade. Mas isto acontece somente em alguns planetas menos evoluídos, Lucas. Nos mais evoluídos, as pessoas mais velhas são responsáveis pela educação das crianças mais novas, até porque eles sabem que sua experiência e sua sabedoria irão nutrir a mente dos pequenos e inspirá-los a levar uma vida correta. E em troca, as crianças lhes dão carinho e alegria, sem se preocuparem em dar amor demais ou atenção demais, nutrindo os mais velhos com vitalidade. São povos sábios...

- É verdade Clara. Mas nem imaginava que existia vida em outros planetas. Acho que é um pouco demais para mim ainda.

- Lucas, não vou discutir com você sobre isso agora, por que hoje está aprendendo sobre os mistérios dos Portais de Libertação, e é muita informação. Mas vou te dar algo para pensar... Realmente acredita que Deus criou milhões e milhões de estrelas, planetas, satélites somente para iluminar com pontinhos brilhantes as noites dos terráqueos? - e Clara deu uma grande gargalhada, tão grande que contagiou Lucas, que começou a rir também.

Sabia o quanto a sua mentora era evoluída. Certamente, para guiar uma pessoa, uma criança, por todo aquele aprendizado em uma noite, era necessário ter muito conhecimento, muita sabedoria. Percebeu durante toda a sua aventura que Clara conhecia todos os mistérios e era iniciada em todos os portais pelos quais passara. Conhecia todos os seus mentores e eles conversavam com ela de igual para igual. Porém, suas ações, suas constantes brincadeiras e risos, faziam parecer que ela era pouco mais que uma criança.