Vinte e três

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Christopher foi até o estúdio. Hoje ele tem muito trabalho a fazer.
Eu por enquanto não tenho ido ao consultório. Graças a Deus consegui um atestado, pois com tudo isso que esta acontecendo eu não conseguiria mesmo ajudar as pessoas.
Hey, olhem pra mim. Eu preciso de ajuda agora.
*
Estou me arrumando pra sair com Andressa. Ela ja me ligou várias vezes dizendo que ja esta chegando no shopping e eu ja disse que estou saindo de casa.
Eu e minha velha mania de falar que estou saindo de casa quando na verdade não sai nem do banho..
Escolhi uma roupa qualquer e me vesti. Passei uma maquiagem leve no rosto e prendi os meus longos cabelos em um rabo de cavalo. Peguei a minha bolsa e coloquei nela a minha carteira, meu celular, chaves e um batom.
"Se comporta, Melzinha!" - brinquei com a Mel e logo sai trancando a porta.
"Bom dia mocinha." - alguém diz.
Me viro pra trás e quem fala é um senhor de idade com um chapéu na cabeça aparentando ser um tanto humilde.
"Bom dia senhor!"
"Desculpe incomoda-la, mas é que essa noite vi alguém entrando na sua casa pela janela. Eu não sei se é da família, pois me mudei para o lado por esses dias. Mas estranhei por ser um cara de capuz e se fosse da família usaria as chaves, não é mesmo?" - riu.
Por incrível que pareça, não me assustei ao ouvir isso. Alguém está entrando e saindo da minha casa a dias. Isso é só a pontinha de todo o mal que essa pessoa está trazendo pra minha vida.
"Muito obrigada por avisar senhor ....?" - agradeci, tentando adivinhar o seu nome.
"Só Sérgio, por favor moça."
"Muito prazer Sérgio. Sou Camilla e seja bem vindo a vizinhança." - falei ja entrando ao carro.
Pela janela pude ver o seu sorriso amarelo e um aceno. Que senhor simpático. É uma pena ter mudado para o lado da casa de uma menina tão azarada.
*
"Put* que pari* em! Estou te esperando a horas." - diz Andressa ao me ver estacionando.
Ela odeia esperar e eu realmente havia demorado.
"Vamos se acalmar? Ja cheguei."
Recebo um olhar furioso seguido de um abraço sufocante.
Entramos no shopping e fomos direto a praça de alimentação. Aquelas mesinhas virou o nosso lugar da fofoca.
"Então, o que houve ontem pra mocinha ter sumido?"
"Ah. É uma longa história. Mas eu te chamei aqui pra falar sobre o que aconteceu depois disso."
Ela me olha com um ponto de interrogação e pergunta:
- Como assim? O que aconteceu depois disso?
Ao receber a pergunta lembranças da noite passada tomam conta da minha mente me fazendo derramar uma lágrima sem querer. Tento limpar rapidamente na tentativa de Andressa não perceber.
Um fato sobre mim: Odeio demonstrar fraqueza.
Falhei. Ela percebeu e se sentou mais perto de mim e perguntou preocupada:
- Camilla, tudo bem?
Tenho a certeza de que ja aconteceu de você estar em um daqueles momentos em que seu mundo esta desmoronando, mas você o segura com a força que você não tem até que alguém pergunta "tudo bem?". E aí ferrou. A força rapidamente vai embora e seu mundo finalmente desmorona. Uma pergunta é capaz de acabar com você. Basta que alguém a faça pra que você chore como nunca chorou. Você acha que esta bem, mas é só escutar um "tudo bem?" pra que caia a ficha de que não. Não está tudo bem. E aí você desaba.
Foi isso que aconteceu. Eu não estou bem e ao ouvir a pergunta, as palavras me fugiram e eu apenas chorei.
Andressa entendeu o meu silêncio com lágrimas e apenas me abraçou.
Eu me senti acolhida naquele abraço então chorei. Chorei tudo que tinha pra chorar. Chorei. Chorei mais um pouco. E chorei de novo.
Coloquei a Camilla pra fora. Eu fui boneca, eu fui torturada, eu perdi os meus pais, me partiram o coração e traíram a minha confiança. Depois me cuidaram, eu fui feliz até que mais uma vez me partiram o coração traindo a minha confiança. Ele está em pedacinhos agora.
Alguém pode me ajudar a pegar os míseros caquinhos?

Para sempre, boneca. - Livro 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora