Prólogo

17 3 0
                                    


O homem corria pela floresta. Seu rosto estava mutilado pelos diversos galhos e arbustos que o cortavam na medida em que avançava pela densa mata. As calças já não passavam de farrapos cobrindo suas partes íntimas, e o pouco que restava da camisa fora transformado em uma proteção para as mãos, de modo que ele pudesse se agarrar aos galhos espinhosos sem aumentar a dor de seus incontáveis cortes.

O dia estava amanhecendo, mas os poucos raios de sol não conseguiam penetrar na floresta. Apenas alguns feixes de luz ultrapassavam as folhas das árvores, fazendo com que o ambiente ficasse ainda mais sombrio, agravando as alucinações do homem. A cada passo, ele ofegava e lutava para se equilibrar. Já tinha tropeçado tantas vezes que seus joelhos estavam ensanguentados.

Sons aterrorizantes assombravam sua mente. Ele podia ouvir sussurros ameaçadores através das árvores. Além da dor física que sentia, a mão da insanidade apertava seu cérebro e ele já não podia mais distinguir o que era real ou ilusão. Os ramos pareciam longas mãos que o agarravam, tentando impedir seu progresso. Enxergava diversos vultos nos cantos escuros da floresta e sentia que olhos malignos o observavam do topo das árvores. A certeza de que estava sendo perseguido era o que fazia com que corresse ainda mais.

Finalmente, quando já estava prestes a abandonar suas forças, a mata começou a se abrir e ele pôde sentir a luz do sol aquecendo seu rosto. Os sons e as visões assustadoras diminuíram até desaparecerem por completo. Aliviado, ele se jogou de costas ao chão para descansar, sentindo o vento acariciando seus cabelos. Estava agora em uma trilha aberta de terra e sabia que, se seguisse por aquele caminho, logo chegaria à beira da estrada, e então poderia pedir ajuda.

Seus lábios estavam secos e rachados. Tentou umedecê-los com a língua, mas tudo o que conseguiu fazer foi abrir novos cortes. Sentiu o gosto ferruginoso do sangue e aliviou-se por ter algo para molhar sua boca. Estava desidratado e queimando de febre. Se não conseguisse ajuda logo, morreria ali mesmo.

Juntou suas últimas forças para se colocar de pé. Sentiu as juntas de seus membros rangerem e protestarem, mas ignorou a dor. A passos cambaleantes, seguiu a trilha de terra que parecia não ter fim. Seu estômago doía e seu cérebro parecia estar sendo espetado com ferros quentes. Sentiu os cantos de sua visão começarem a escurecer e tentou apertar os passos.

— Não, não, não! Meu Deus, tenho que conseguir sair daqui... — sussurrava na tentativa de se manter lúcido.

Quando sentiu que estava perdendo o controle de seus membros, deu um tapa no próprio rosto para tentar se recuperar, deixando ali uma marca de terra e sangue. Foi nesse momento que ouviu um som se aproximando. Um carro! Estava próximo da rodovia, apenas mais alguns passos e estaria a salvo.

Lutando contra todos os protestos de seu corpo, ele correu pela última vez. Quando avistou a estrada asfaltada, percebeu que já não sentia mais suas pernas. Ele viu o acostamento vindo em sua direção, como se estivesse sendo atraído por ele. Não entendeu o que estava acontecendo e tentou gritar por socorro. Foi então que ouviu o som de pneus cantando e sentiu a dor do impacto no chão. Depois disso, foi só escuridão e silêncio.

O Vale dos SussurrosOnde histórias criam vida. Descubra agora