The Game

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Fora questão de uma hora até minha campainha começasse a ser tocada que nem um demônio parindo (Vocês imaginaram isso, eu sei).

Desci as escadas correndo e abri a porta me deparando com Vivian e Gustavo lutando para não se molhar com a curta cobertura que havia sobre a porta.

- Porra Alana, podia demorar só mais 5 minutos, aí eu virava parte da chuva também! - Gustavo quase berrou passando pela porta.

- EPAAAAAAAAAAA, VOLTA AQUI PORRA! - Gritei com ele, desculpa o carpete da minha mãe é sagrado e todos sabem disso. Fiz ele voltar até a porta, enquanto Vivian já tinha é largado o tênis na soleira e pulado no sofá macio. - Tirei esse seu sapato sujinho antes de pisar no carpete da Dona Gabriela, sou eu que limpo esse capeta e não vocês.

Gustavo revirou os olhos e arrancou os tênis de qualquer jeito enquanto eu caminhei até a sala.

- Lucas e Clara tão trazendo as bebidas. - Se pronunciou Vivian pela primeira vez, com a voz meio cansada ou distante, como se procurasse me evitar e obrigasse a si a mesma a não fazer isso. Que estranha.

- Você tá bem? Não venha que agora a grávida é você!? - Brinquei empurrando ela levemente, que abriu um sorriso sereno.

- Eu tô de boas, sabe como é, odeio dias assim, é um saco. - Poderia dizer que ela teria inventado uma desculpa qualquer, mas ela realmente costumava a ficar estranha quando chovia. - Ah mais que droga, eu quero chapar!

- Somos dois loira! - Gustavo pulou, quero dizer, se jogou em cima da gente no sofá. Ô carinha da folgado!

- Aí saí daqui demônio! - Empurrei ele para o lado levemente, enquanto os dois loiros riam da minha cara.

Eu adorava esses poucos momentos de confraternização. Mesmo que fôssemos amigos, as vezes só parecíamos unidos por causa da liderança daquela escola.

Algo bem supérfluo, eu sei. Isso me desaponta, pois prezo momento como estes, são eles que nos fazem percebem que tudo pode não ser um mar de rosas, mas mesmo assim sempre vai haver motivos pra rir.

Gustavo acabou caindo no chão quando a campainha tocou novamente e eu fui abrir e porta.

Lucas, Henrique e Claro entraram pela porta mais secos que areia, até estranhei. Dei espaço para eles entrarem vendo as sacolas de bebidas em sua mão.

- Agora o jogo começa seus viados! - Vivian levantou rindo e jogando o cabelo para o lado - Vamo logo que eu quero ver todos vocês passando vergonha. Aquela escola precisa saber porquê somos os donos daqueles paga pau - Sorrio de lado, maliciosa. Conheçam o lado "paguei micão" de Vivian Gomes, aquele que adora causar.

Comecei a rir e caminhei até a cozinha, nem percebi que Henrique me acompanhou, apenas quando me virei para abrir a geladeira que o vi encostado na parede ao lado da porta.

- Você tá meio afastada... Tá tudo bem? - Perguntou olhando me com sua típica cara de tédio, como se estivesse cansado da situação.

- Querido, você sabe que eu não procuro as pessoas - Falei leve, me aproximando dele, apoiei meus braços em seus ombros, olhando-o serenamente.

- Alana, se importar por dois, não dá certo... Sabe disso - Suspirou como se estivesse cansado - Tem certeza de que quer levar o que nós temos para frente? - Perguntou, eu não sabia o que ele queria ouvir e nem o que responder.

Então, apenas beijei ele. Calmamente e sem fogo nenhum, brincando com a raiz de seu cabelo na nuca. Ao terminar, fiquei com o rosto ainda próximo.

- Relaxa, só deixar levar. - Sorri e dei um selinho me afastando dele e pegando copos de plástico de baixo na pia e o limão na geladeira. Voltei para sala com o garoto ao meu lado e vi Clara já bebendo - Meu Deus garota, você não era crente?

- Aí não me xinga! - Fez expressão de ofendida brincando e vimos por trás, Gustavo de cara feia, ele era cristão - Pode mas nem beber que nossa, tá faltando Deus na vida - Brincou novamente bebendo mais um gole.

- Notícia da semana, Clara Gonçalves não é a Universal! - Lucas puxou graça roubando a garrafa de sua mão e recebendo um tapa da garota.

- Ô seus demônio, eu não peguei copo a toa não, caralho - Coloquei os copos sobre a mesa abrindo outra garrafa e despejando o conteúdo sobre o copo.

- E então... O jogo não vai começar viado? - Gustavo brotou em cena, desdenhando todo o assunto que estávamos falando.

- Opa, super apoio - Vivian sentou no carpete de pernas cruzadas.

☁☁☁

       — Perguntas idiotas? Você não as julgava idiota quando estava amarrada sobre um divã. - O cara rebateu com um leve sorriso de canto, fazendo a minha raiva crescer minimamente, ele queria o passado? Ele teria o passado.

       — Presta atenção, quem conta aqui sou eu, então você cala a boquinha. Dessa vez minhas mãos estão livres e não te garanto que outro acidente não possa acontecer. - Tinha a certeza de que a raiva era transmitida por todos os poros do meu corpo enquanto as palavras saíam pela minha boca, sem filtro e sem raciocínio.

       — Então você quer repetir tudo? - Arqueou a sobrancelha como se estivesse me questionando de uma forma em análise. Era como se estivesse na psiquiatria de novo, isso era terrível, aquilo era um garoto, que com certeza vai ingressar na faculdade agora e não um doutor com diploma, ele estava brincando com meu psicológico e a diferença é que ele sabia o que havia acontecido após a psiquiatra.

        — E se eu quisesse, qual seria o problema? - Voltei ao batuque inconstante na beirada no edifício, enquanto cada vez mais percebia que minha insanidade era perceptível. Meu subconsciente me obrigava a acordar e ser alguém decente, fazendo todas as cenas do passado remoto a minha lembrança. — Ninguém saberia, não restaria problemas para mim e continuaria com a minha vida.

         — Você quis dizer... Continuar com a máscara que esconde toda a tua instabilidade? - E então ele riu, como se aquilo fosse a coisa mais engraçada do mundo enquanto o fitava pasma. — Convenhamos, Correia, você é mais profunda que qualquer saco que coloque sobre sua cabeça.

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⏰ Última atualização: Jan 30, 2017 ⏰

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