— Eu sou o traidor? — Rosnei enquanto a bonita me olhava como se ela tivesse toda a razão do mundo.
Faith tinha esse problema: Ela se achava a dona da razão nas 99% das vezes. 99% para ser legal, porque ela sempre achava que ela tinha razão. A mesma assentiu, com os seus braços cruzados sob o seu peito e sua perna esquerda batendo furiosamente sob o chão de mármore que revestia toda a escola.
Faith e eu já havíamos saído do vestuário masculino. Tínhamos andado algum tempo até chegar nessa sala escura e com cheiro de mofo, no terceiro andar da escola. Apenas uma lâmpada fraca iluminava o local sujo, o que era uma ironia, pois a placa que estava presa na porta de madeira arranhada dizia que era o armário do faxineiro.
Soltei um espirro quando uma poeira voou em meu nariz, o que fez Faith dar um pulo pra trás e contorcer seu rosto em nojo. Comecei a rir por causa da expressão de seu rosto, esquecendo um pouco da merda que ela estava nadando.
Faith olhou para mim enquanto limpava o ar com a mão, como se aquilo fosse fazer as bactérias de meu espirro sair do ar. Ela continuava com a expressão nojenta, mas algo mudou em seu olhar ao me ver rindo. Eu não conseguia parar de rir e espirrar por causa do local cheio de mofo, e ela não conseguia não rir disso tudo e tentar se manter imune a bactéria. Pela primeira vez no dia todo, reparei de verdade nela.
Como sempre, ela estava linda, mas parecia ainda melhor naquele dia. Faith estava com seu cabelo preso em um rabo de cavalo, uma camisa de Star Wars e uma jaqueta de couro escura. Eu sabia que estava usando calça jeans pois essa era sua segunda dela, mas não dei tanta atenção para isso. Geralmente, eu carregava um reportório de piadas sobre o guarda-roupa de Faith.
Naquele dia, eu nem ao menos conseguia raciocinar direito, pois havia sentido tanta falta dela durante aquele final de semana, que eu sabia que eu nossas piadinhas idiotas estavam perdidas naquele espaço pequeno.
Naquele momento, olhando para Faith sorrindo como uma criança alegre da rua Green, tudo que eu conseguia sentir era minha pele formigando pelo toque dela. O toque que eu não sentia desde de sexta feira, e mesmo sendo tão recente, minha pele já havia se acostumado com os seus lábios contra os meus e os dedos dela sob a minha pele. Minha risada havia aprendido a se misturar com a sua, e eu só estava rindo naquele momento porque eu estava feliz por estar perto dela. Realmente feliz.
Ela poderia ser uma tranbiqueira, e sim, ela poderia quebrar o meu coração em um estalar de dedos, mas eu não me importava. Tudo que eu conseguia me importar era no seu grande sorriso em seus lábios, enquanto ela enxugava suas lágrimas divertidas com os dedos. Num piscar de olhos, parei de rir e passei a admira-la, pois sempre conseguia fazer isso comigo: Sempre me deixava bobo.
Faith foi parando de rir comigo, até ficar em silêncio e me encarar. Continuei encarando seus olhos claros, fazendo contato visual longo com ela. Fechei os olhos soltando um suspiro e soltei um grunhado de frustração, puxando meus próprios fios. Ela se assustou.
— Faith. — A chamei por seu nome. — O que você está fazendo?
Ela piscou inocentemente. Desgraçada! — Do que está falando?
— Você sabe do que eu estou falando. — Rebati imediatamente. Eu não ia deixar Faith agir comigo como se eu fosse o vilão.
— Que você é um traidor? Sim, você é. — Cerrei meus olhos para ela. Abri minha boca para falar, mas ela me calou levantando a mão. Metida. — Você foi a primeira pessoa que eu conheci nessa escola de verdade e eu escutei você dia e noite reclamando de basquete estudantil...
— Por isso estou jogando futebol americano. — A cortei e pude ver seu rosto mudar o tom. Ela foi ficando pálida, me olhando de canto de olho enquanto eu continuava olhando para ela como vencedor. Touché.
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DEZESSEIS
Teen FictionAh, o amor! Tão lindo... Pra alguém que nunca o viveu. Daniel tem dezesseis anos e nenhuma expectativa em relação ao amor. Enquanto todos pensam apenas em amor e sexo, ele apenas quer terminar logo o Ensino Médio, para sair de Portland e começar...