Capítulo 6

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Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

[...]

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você.
                                   (Chico Buarque de Holanda)

- É claro que eu não vou, Nina!

Ao telefone,Nina tentava me convencer a ir a tal festa.

- Não adianta Nina, eu não vou!

Berrei em seu ouvido exatamente às 8h da manhã. Já estava atrasada para a aula de Escrita Criativa e Nina não parava de me pentelhar querendo ir a qualquer custo à festa do Blog da "simpaticíssima" Maya Lemont. Era óbvio que eu não iria. Primeiro porque não sou dada à festas. Segundo porque essa garota me irrita. Parece encantar todos a sua volta, como uma feiticeira. É isso, estava decidido que eu não seria enfeitiçada por ela. Porque ela insistiu em me cumprimentar? Em me convidar para a tal festa? Porque eu seria interessante a ela? Estava lá rodeada de tantas (belas, magras e elegantes) amigas. Eu seria mais uma pequena não notável em meio a um turbilhão de seguidores de Maya Lemont. Olha isso, até o nome dela era autoritário.

Eu sou metade francesa e meu nome não "berra" em ninguém.

É claro que eu não iria àquela festa, gente, como assim?! Aquela garota é perturbada, só pode. Ela é exibida, se acha a último tango em Paris. Só porque ela é uma das yotubers/blogueira mais popular da atualidade? Quem se importa com blogs e youtubers?! Cara, eu não leio blogs nem assisto yotuber! E daí que o pai dela é dono da minha cafeteria preferida? Ué, eu posso encontrar uma nova cafeteria preferida. E o que é que tem eu estar me importando tanto com isso? Não vou me importar mais. Pronto, estou oficialmente "desimportada". Inclusive vou até falar de outra coisa. Não quero falar nessa garota metida e insuportável. Que usa Prada e foi garota propaganda da Versace. Tudo futilidade. Quando vê não tem nem meio cérebro. Espera, uma notificação no meu celular.

"Nina publicou na sua linha do tempo"

Checo e post e:

"Ei amie, dá uma sacada nesse link. Muito sua cara. Besitos"

Título do link: "Manual sobre Frida Kahlo para pseudo-cults-desconstruídos-de-condomínio : o que você pensou que sabia sobre Frida e algunas cositas más." – 

Uau! - penso - Um título um tanto intimista, escrito, inclusive, por uma pobre-garota-rica-deconstruída-de-condomínio-de-luxo. Achei pernóstico e prepotente. Ainda mais para quem é aficionado por Frida Kahlo, seus derivados e decendentes, como je ici. Euzinha aqui. Juro gente, até cd da sobrinha-neta dela (Dulce María), tenho em casa. 

Clico no link e ele me direciona a um site que não me é muito estranho. "Tudo-Ao-Mesmo-Tempo-Agora". Ok, agora era oficial, Nina era a stalker mais stalkeadora filha de uma mãe do universo mítico das esferas do dragão. Apelando mesmo viu. Mas já que estou aqui, vamos ver o que essa pretensiosa tem a me dizer sobre Frida que eu ainda não saiba. Ou como ela sugere, penso que sei.

"Falar sobre a espetacular Frida Kahlo, nos dias de hoje, virou um sincretismo de tudo o que existe de mais poser desde a rua da Moeda,no Recife, à rua Augusta, em São Paulo . Vemos seu rosto, suas obras e frases estampando camisas, mochilas, canecas e os mais variados apetrechos. Coisa típica de apreciador de indie rock, filmes de Almodóvar ou daqueles cineastas que fazem filmes que nem eles conseguem entender.

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