CAPÍTULO V: AÇOUGUEIRO

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Ana e o professor continuavam a conversar, ela contou-lhe mais sobre Tião, mas não conversaram muito sobre tristezas, falaram de Joana, de como ela era genuína e um tanto sem vergonha, lembraram de quando Judite chegou e saiu rapidamente, eles estavam cada vez mais íntimos, e Ana achava aquilo tudo muito estranho nunca nenhum homem havia se aproximado dela desse jeito, todos os outros só queriam seu corpo ou seu trabalho braçal, conversaram e riram até mais tarde, e depois foram cada um para o seu leito, sozinha no seu quarto o medo de Ana voltou, mas o cansaço logo fez com que ela adormecesse. 

Ana acordou cedo, quase na mesma hora do professor, Adélia não trabalhava no domingo, e por esse motivo Ana recusou o convite de Carlos para ir com ele buscar hortaliças e algumas coisas na feira.
- Desculpa professor, mas vai ficar para a próxima, ficarei aqui para limpar a casa.
O professor ficou um pouco chateado.
- Já discutimos sobre isso, quantas vezes eu precisarei falar que nessa casa você é hospede e não serviçal.
Ela fingiu não ouvir.
- Vamos meu amigo, vai perder o começo da feira, as melhores verduras são vendidas cedo.
Ana não se incomodava com aquilo, não entendia o porquê que hospedes não podiam dá uma ajudinha, afinal ela não estava fazendo nada.
- Tá certo, Ana se puder acorde a Joana para lhe ajudar, não demoro. E vou aproveitar e comprar um caderno, ou você achou que eu me esqueci da promessa que a senhorita fez de estudar?

Ana balançou a cabeça, que homem era aquele, que vida era aquela? Parece que em um dia ela estava em um real pesadelo e no outro tinha sido jogada no paraíso, o professor ficou ainda alguns segundos parado olhando para ela, envergonhada ela fez um sinal com um pano que tinha na mão dizendo que ele andasse logo.

Depois de algumas horas o professor voltou com um caixote e um embrulho de papel, colocou-os em cima da mesa, a casa estava limpa e ele riu de ver o quanto aquela menina era teimosa, procurou-as, Ana estava no fundo, usava um avental que a muito tempo estava encostado no canto, com os bolsos cheios de pregadores ela estendia alguns lençóis. Retirou as coisas para guardar e separou o caderno que havia comprado para as aulas que ministraria para Ana.

Já eram quase dez da manhã, Joana tinha acordado um pouco mais tarde que eles, mas já estava impecavelmente apresentável como sempre, encheu uma xícara de café e sentou-se na mesa olhando o que Carlos tinha comprado, somente ela sabia do que lhe acontecia nas noites de lua cheia e fazia de tudo pra manter esse segredo.

Carlos foi até onde Ana estava.
- Ana, para com isso, deixe esses lençóis ai, sai desse sol.
Para surpresa dele ela já havia estendido quase todas as peças.
- Chegou tarde professor, já estendi todos – Disse ela colocando o único que restava na corda – Esse foi o derradeiro.

 - Eu não sei mais o que fazer com essa sua teimosia – Ela riu secando as mãos no avental, ele a olhava, a cada dia começava a prestar mais atenção nela – Venha, ajude-me a fazer o almoço então, Joana acabou de acordar e acredite deveria ser exilada pela comida que ela faz.

Os dois riram, ela veio em sua direção retirando o avental e prendendo o cabelo para aliviar um pouco o calor que sentia.
- Por aqui, por favor, vossa majestade. Brincou o professor fazendo uma reverência.

- Muito obrigado senhor, és um rei muito gentil. Retribuiu com outra reverência.

Entraram, Ana lavou as mãos e rapidamente improvisou um lenço, Joana ainda estava sentada na mesa.
- Será que o casal poderia adiantar? Tenho fome. Disse Joana terminando de tomar o café.
- Venha, preciso de alguém com mãos delicadas como as suas para lavar os pratos e cortar algumas coisas – Disse Ana jogando um pano de prato em Joana.
- Nem pensar, tire seu cavalinho da chuva. Retorquiu Joana.
- Adiante rainha da preguiça. Falou Ana.
- Rainha da preguiça. Repetiu o professor rindo.
Os três começaram a preparar o almoço, Carlos e Joana seguindo os comandos de Ana faziam de tudo, brincavam uns com os outros, as vezes Ana juntava-se ao professor para falar mal e criticar o trabalho de Joana, por vezes eram as duas que falavam mal do trabalho do professor, em outras vezes os dois irmãos também falaram do jeito rápido e avexado que Ana tinha para fazer as coisas.

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