CAPÍTULO II: NOTÍCIA

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- Me solta seu desgraçado. Gritava Ana desesperada tentando livrar-se das mãos de alguém.
- Xi, fica quietinha. Respondeu o homem.
Estava muito escuro, ela não conseguiu enxergar, apenas sentia que duas mãos fortes que a seguravam, ouvia os risos que a perturbavam constantemente, estava aterrorizada, conhecia muito bem o cinismo na voz que mandara ficar quieta era Tião, sabia o que aquilo significava, como em outras noites aquela tortura se repetia, no escuro seria despida e sexualmente abusada, para logo em seguida ser espancada. Sentiu o suor gelado escorrer pelo seu pescoço, mesmo já tendo passado por aquilo algumas vezes não se acostumara, na verdade nem um animal se acostumaria a tão bárbaro ato de prova da imundice e da crueldade humana. Outros homens que ali estavam imobilizaram-na e tiraram sua roupa, sentia um cheiro forte de homem sujo, aqueles porcos não se permitiam nem um banho, homens imundos por dentro e por fora. Sentia órgãos genitais encostando no seu rosto e nas suas costas, mãos tocavam suas partes íntimas, lágrimas desciam pelo seu rosto, tudo que ela mais queria naquele momento era morrer.
Começou então a penetração, a dor fez com que ela gritasse, e gritando despertou daquele pesadelo maldito.
Ofegante levantou e foi até a cozinha tentar se tranquilizar.

~*~

São duas horas da manhã, e tudo estava em paz na Jequié do século XX, as ruas da cidade estão desertas a essa hora da noite, exceto por alguns mendigos ou andarilhos que por vezes dormiam na frente da igreja ou na varanda de alguma casa. O silêncio era profundo, não parecia ser a mesma cidade com todos os comerciantes, senhoras, moças, rapazes e beatas que rezam o dia inteiro, a cidade dorme.
Ás vezes algum bar ou casa noturna ficavam abertos até mais tarde, muitos homens frequentavam esses lugares, a boemia é encantadora, até os poetas se rendem a ela, e na noite quente da cidade nada melhor que bebida, música e mulheres, todo homem que e se presasse frequentava as claras ou escondido um desses lugares.

Na esquina deserta de uma das ruas surge um homem, alt, cala e sapatos sociais e uma camisa listrada, faltando alguns botões, cambaleando, na mão uma garrafa de bebida já vazia e cantarolava algo que não se podia entender, um homem de uns trinta e cinco anos com uma aparência de europeu, pele clara castigada pelo sol, olhos e o rosto vermelhos graças ao álcool. E seguiu, trocando as pernas, pobre diabo.
Quando chega à metade da rua, mesmo com a vista embaçada consegue ver a silhueta, alguém mais à frente encostado numa parede, a figura estranha estava parada. Usava um tipo capa que cobria todo o corpo, não dava para ver direito, o escuro daquela rua e os efeitos do álcool não ajudavam, o homem continua andando e a estranha figura continuava inerte, um chapéu enorme cobria-lhe a cabeça e o rosto e lá estava aquela silhueta amedrontadora no meio da rua, não era muito alto, em seus pés um par de botas.
O bêbado continua andando, estava tão mal que não conseguia nem raciocinar, passou a mão nos olhos para novamente olhar e tentar saber do que se tratava, mas assustou-se ao ver que a silhueta havia desaparecido como fumaça. "Eu preciso parar de beber". Pensou ele, e continuou sua caminhada desengonçada.
Alguns minutos depois fez-se ecoar no beco o barulho de vidro quebrando, era a garrafa que o homem tinha na mão, em seguida o homem ajoelhou-se devagar, com a cabeça ferida por uma pedra, apoiou-se no chão para se recuperar da dor e gritou amaldiçoando quem tinha feito aquilo, em seguida ouviu passos em sua direção, quando chegou perto à figura estranha chutou-lhe a cabeça o que fez com que ele caísse no chão tonto urrando de dor, em seguida pisou em seus dois pulsos o que impossibilitou qualquer reação, com uma faca de quarenta centímetros e dois ligeiros golpes arrancou os dois olhos do homem com tamanha brutalidade que aquele pobre ainda vivo gritava angustiantemente, dos enormes buracos em seu rosto o sangue saia aos montes, depois de deixar que ele sofresse por alguns segundos o estranho empunhou sua faca e com rapidez atravessou os quarenta centímetros no pescoço da vítima, terminando o serviço.

~*~

No dia seguinte, Ana acordou descansada e muito bem-disposta, nem se lembrava mais do pesadelo horrível da noite anterior, a cama em que dormiu era umas das coisas mais maravilhosas que ela já tinha visto, nunca tinha se deitado em nada tão macio, muito melhor que a da casa de Zacarias a vontade que tinha era de não se levantar dali nunca mais. Mas na vida nada supera os costumes, e ela nunca tinha passado dás cinco horas da manhã dormindo, mesmo acordando tão cedo imaginou que Carlos ainda dormia, e ficou deitada olhando para o teto por algum tempo pensando em tudo que lhe acontecera e como sua vida tinha mudado desde que encontrou aquele bom velho em sua carroça. Depois de algum tempo perdida em pensamentos foi interrompida, o professor bateu na porta, quando abriu, ela se surpreendeu, ele estava segurando uma escova de dentes em uma mão e noutra um vestido preto, igual ao que dona Marli havia lhe dado no dia que a trouxe para a casa de Carlos.

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