CAPÍTULO VI: BEIJO DE OGUM, LAMENTO DE IANSÃ

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 Os atabaques choravam, e ouviam-se as batidas que ditam o ritmo de uma raça e de uma nação, Cristina trajava-se de branco, em seguida colocou colares sobre o peito, estava se preparando para festa, fez sinais de devoção, momentos de silêncio, perfumou-se com alfazema.

 Menino estava sentando próximo dos tambores com outros homens, eram fortes homens, já suados, tocando rapidamente os instrumentos emitindo um som único que só se ouve na Bahia, o som envolvia todos de cores e alegria e convidava o povo a sambar, Dália com uma enorme saia branca e de cabeça coberta por um turbante de renda já sambava radiante e junto com elas algumas mulheres também já entravam no ritmo.

Mãe Cristina agora sentada numa cadeira coberta de tecidos brancos e de vários outros objetos como fitas, búzios e também um chifre de boi, símbolo de Oiá, ao seu lado Judite a costureira, numa cadeira tão alta quanto a de Mãe Cristina, trajava um vestido branco rodado, tinha uma grande variedade de colares e pulseiras, e cantava junto com os homens as músicas do samba, ao contrário da mãe do terreiro que permanecia calada, e não parecia mais estar tão feliz como antes, Judite quis saber, mas não perguntou nada, continuou cantando Cristina parecia saber algo.
Carlos, Ana e Joana chegaram, foram recebidos por Menino, Carlos o cumprimentou cordialmente e depois saiu para saudar Cristina e Judite e outros conhecidos que ali estavam, Menino quis saber o nome de Ana, Joana toda alvoroçada disse o nome da jovem, o capoeirista beijou sua mão e convidou as duas para sambar, Joana esperou um beijo mas não recebeu, ela tinha um certo desejo pleo capoeirista, eles se conheciam a muito tempo e desde a juventude ele sempre chamou a atenção de Joana, agora homem feito era ainda mais forte o efeito daquele homem sobre ela. Menino gora olhava sem parar para Ana, e não conseguia disfarçar o desejo. Após conversar algum tempo com as moças deixou-as, sentou-se novamente junto aos ogãs.

Joana que desde sempre frequentava aquelas festas começou aos poucos contar algumas coisas e dá pequenas explicações a Ana.

A festa estava como de costume calorosa, Mãe Cristina havia se levantado, fazia sozinha uma particular e rápida saudação aos orixás, aquela sensação estranha que lhe atormentava não queria passar, o samba continuava, ela ausentou-se do terreiro, foi ao seu quarto. Dois guardas municipais montados em cavalos, por ocasião da festa faziam uma pequena ronda aquela noite, alertas e um pouco inseguros, a crença de que um lunático vestido de açougueiro que matava pessoas por prazer reinava na cidade e para aqueles homens, guardas eram sempre o alvo de lunáticos e bandidos, pararam na porta do terreiro um tinha seus vinte e oito anos e era novo no oficio, o outro já tinha seus quarenta e nove anos, era um homem sério e calmo, montado em seu cavalo negro e forte, aquele senhor mantinha os olhos longe, recusava-se olhar para as pessoas sambando tinha particular ojeriza por aquelas festas, era desonesto e frio o que facilitava ainda mais que a raiz do preconceito o envolve-se, o outro assoviava e fazia sinais para umas menininhas que dançavam mais recantadas e elas gostando do flerte sorriam de volta sinalizando que queria vê-lo mais tarde, na cadência dos tambores levantavam as saias discretamente para pôr suas pernas a mostra em forma de convite aquele jovem e a outros homens que as olhavam sem parar.

 O professor agora sentando entre duas senhoras conversava com elas e sorria, e de quando em vez olhava para Ana e Joana que agora envolvidas na festa repetiam os versos batiam palmas sem parar, estavam todos contentes, Dália continuava a sambar, era naquele chão de terra batida dentro daquelas saias e deixando-se levar pelos tambores que ela sentia-se sempre realizada, Mãe Cristina havia voltado e por fim entrou na roda.

 Menino levantou-se devagar, não estava mas em si, tinha um olhar sério, com uma enorme força, Mãe Cristina sentiu, ''Ogunhê'' , saudou ela a energia que se fez presente, pedindo a benção, do Mestre Menino só estava ali o corpo, pois agora até seu cheiro havia mudado, tinha outra personalidade, outro olhar, outro gingado.

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