Jequié, 01 de junho, de 1913.
O primeiro dia de junho amanheceu fresco na cidade, um mês havia se passado desde que Ana tinha chegado a casa do professor, as aulas que o professor a ofereceu ainda não tinham começado, todos aqueles acontecimentos não deram espaço para que Carlos e Ana se dedicassem aos exercícios, Carlos se culpava e queria que Ana já soubesse ao menos ler.
- Carlos, fique sossegado, não foi culpa sua. Justificava ela, o fazendo lembrar das situações do mês anterior.
- Mas isso não é desculpa, olhe, eu lhe ensinarei esse mês, sem desculpas. Disse ele com uma cara de seriedade e preocupação, não era de sua natureza não cumprir suas promessas.- Adiantem, as pessoas estão nos esperando, a festa começa hoje. Disse Joana apressando-os.
Ana levantou as sobrancelhas, Carlos entendeu, ela estava dizendo que Joana mais uma vez demonstrava o ciúme que começou a sentir as uns dias, depois que percebeu que seu irmão e Ana estavam se dando cada vez melhor, é bem verdade que Ana e Carlos estavam cada vez mais ligados e os dois já alimentavam um sentimento muito além de amizade um pelo outro.- Vamos! Disparou Carlos com os olhos fixos em Ana e um sorriso enorme no rosto.
Joana vestia um dos seus vestidos, era branco, rodado na altura dos joelhos, deixava ela com cara de uma menina ainda no colegial, sapatos fechados num tom azul escuro e na cabeça um chapéu largo de feltro com uma enorme pena, chapéus eram a marca de Joana, tinha o rosto levemente pintado, costume que ela aprendeu nas suas viagens e o cabelo solto balançava roçando as costas. Ana usava um vestido preto bem marcado na cintura e com um decote bem avantajado, calçava um sapato preto e tinha o cabelo preso no alto da cabeça com um cacho caindo no lado esquerdo do rosto, sem pintura ela era naturalmente linda, Carlos usava calça social e uma camiseta, não era muito forte, mas tinha boa aparência e uma masculinidade bem aflorada, após fechar a porta voltou-se para as jovens.
- Que sorte a minha, tenho o privilégio de andar com as duas mulheres mais belas desse Estado. Disse ele entrelaçando os braços entre os braços das duas.
Joana deu-lhe um tapa no braço e Ana deu-lhe um beijo no rosto, mesmo com tantas coisas para se preocupar e com a magoa pela morte de Zacarias e do Mestre Menino a convivência daqueles três era tão feliz que juntos sentiam-se um protegido no outro como uma família. Cruzaram o portão e já na rua desceram em direção a igreja.As ruas como de costume estavam movimentadas, carroças subiam e desciam e algumas pessoas começaram a armar barracas em frente à igreja, era costume que alguns feirantes e artesãos vendessem seus produtos durante a festa de Santo Antônio de Pádua, o trio caminhava, o sol já começava a esquentar, carroças subiam e desciam transportando vários produtos, além de madeira para as barracas traziam também infinidade de objetos, umas mulheres lavavam as escadas da igreja e cantavam alegres, alguns homens dava um retoque nas laterais e nas portas da igreja, trabalho que já deveria estar feito a algum tempo e não no primeiro dia da festa, mas os homens se ofereceram para fazer o trabalho sem cobrar, assim sendo o padre deixou que eles começassem quando quisessem.
Haviam muitas pessoas nas ruas, senhoras conversavam na porta de casa, outras estavam enfeitando suas casas para festejar os três santos de Junho. Alguns homens em andaimes de madeira enfeitavam a frente do templo com bandeiras dando um colorido bem junino e completando a decoração típica que o agrupamento das barraquinhas trazia todo ano para aquela festa. Lavadeiras passavam umas com roupas já limpas e outras com balaios cheios em direção ao rio.
O trio não passou despercebido, as pessoas paravam para olhá-los, Carlos e Ana cochichavam a todo o momento, Joana percebendo os olhares retribuía com um piscar de olhos paras os moços mais jovens e bonitos.
- Viva Santo Antônio, viva Jequié. Gritou um homem de cima da estrutura de madeira, mas não tinha nenhum intuito religioso, gritava por que via Joana passar.
- Viva!
- Viva!
Respondiam outros homens olhando para Joana.
Chegaram a igreja e entraram, desde pequenos Carlos e Joana vinham para ajudar a preparar a igreja para a festa, dona Lívia, devota do ilustríssimo santo vinha todos os anos, agora os irmãos continuavam o que a mãe os ensinou, ao passarem pela porta da igreja Carlos foi até a pia batismal, molhou o dedo e traçou a cruz sobre a testa, Ana repetiu o gesto, Joana não fez, dirigiu-se ao primeiro banco , fez uma brevê reverencia, sentou-se e bateu três vezes ao peito em sinal de reconhecimento pelos seu atos falhos, Ana observava Joana, nem parecia a mesma mulher.
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ALGAROBAS
RomanceUma mistura de ação e emoção nessa história numa cidade do interior baiano. Uma menina da caatinga que passa por uma jornada avassaladora e descobre como a vida pode ser cruel, no meio dessa história o ser humano se revela e as emoções se manifestam...