Com a ideia e a proto-ideia (as seis questões, O Que, Por Quê, Quando, Onde, Quem e Como, que definiram a ideia e a temática) trabalhadas, as particularidades relativas ao universo em que a história acontecera definidas e criados os personagens principais e secundários (ao menos parte deles), chegou a hora de desenvolver a estrutura, o esqueleto da história.
Muitas pessoas que estão começando na literatura vão dizer que não entendem o porquê de tal ferramenta, afirmando que preferem após a criação dos personagens, 'apresentar a eles situações' e escrever de acordo com 'como eles respondem'. E eu digo isso, pois não somente era como eu, e muitos autores novos trabalhávamos, como também porque a primeira vez que me apresentaram a estrutura como uma ferramenta válida na Escrita Profissional, me explicaram errado e eu achei que ela iria cimentar minha criatividade, o que não é verdade, inclusive muito pelo contrário, como veremos mais a frente.
Isso sem contar colocações de profissionais da área que, mal interpretadas, terminam por atrapalhar os autores iniciantes, que romantizam as palavras de seus ídolos, terminando assim por seguir um caminho mais tortuoso do que o necessário.
Estudo de Caso: Jardineiros ou Arquitetos
O mais recente caso aconteceu em questionamentos relativos uma entrevista com George R.R. Matin intitulada 'A Mão por Trás do Trono', publicada na edição 70, de Julho de 2012, da revista Rolling Stone, em que quando perguntaram: 'Alguns autores tramam cada página com todo o cuidado; já outros improvisam a coisa toda. Em que ponto desse espectro você se encontra?
Ele respondeu:
'Eu tenho nomes para estes tipos de escritores: eu os chamo de arquitetos e de jardineiros. O arquiteto, antes de cravar um prego em uma tábua, tem todas as plantas e sabe como a casa vai ser e por onde os canos vão passar. Depois, temos os jardineiros, que cavam um buraco e plantam uma semente e a regam – às vezes com o próprio sangue – e algo aparece. Eles sabem o que plantaram, mas mesmo assim há muitas surpresas. Bom, mas é raro encontrar um autor que seja um arquiteto puro ou um jardineiro puro; eu estou bem mais próximo de um jardineiro. Eu sei qual é o fim definitivo da série e eu sei qual é o destino de todos os personagens principais, mas há muitos personagens menores e outros detalhes que vou encontrando ao longo do caminho. Para mim, tanto como leitor quanto como escritor, o mais importante é a viagem, não o destino final.'
Tal colocação fez com que diversos profissionais de literatura começassem a usar parte das palavras do autor para criticar não só autores que se utilizam de formulas, como também ferramentas literárias, como a estruturação.
Perceba contudo que, apesar de dizer que existe o 'escritor arquiteto' e o 'escritor jardineiro', explicando que enquanto o primeiro "antes de cravar um prego em uma tábua, tem todas as plantas e sabe como a casa vai ser e por onde os canos vão passar", o segundo é mais espontâneo, George Martin também afirma que "é raro encontrar um autor que seja um arquiteto puro ou um jardineiro puro", completando que ele mesmo sabe antes de escrever "qual é o fim definitivo da série e (...) o destino de todos os personagens principais".
Ou seja, na verdade ele não está criticando o escritor de best-sellers, que normalmente possui uma fórmula que usa sempre, muito menos o profissional que estrutura sua história antes de escrevê-la. Afinal, não só ninguém começa uma viagem sem saber como e onde ir, temos que considerar que o jardineiro também prepara e aduba a terra antes de plantar, e tem total noção de que, se ele plantar margaridas, não nascerão petúnias.
Isso mostra o cuidado que se deve ter ao ler tais colocações para ver se as mesmas estão colocadas na integra, pois às vezes a pessoa quis dizer uma coisa, mas, fora do contexto, parte de sua colocação pode soar exatamente o oposto.
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