Como coloquei anteriormente o primeiro problema em adaptar seu jogo de RPG para literatura é que, como de livros para filmes, são mídias diferentes que possuem características dispares. O primeiro elemento é a criação do mundo. O foco do RPG é na aventura e na literatura mais elementos devem ser considerados, sendo um mundo totalmente original uma delas, o que inclusive traria à história um elemento de Weird Fiction (para quem não sabe a Weird Fiction é o nome dado ao subgênero consagrado por Lovecraft em que a ambientação tem tanta importância que muitas vezes tem um peso semelhante ao dos personagens). O problema é que a maioria dos mundos de RPG parece somente uma pálida sombra do universo criado por Tolkien, com anões ranzinzas, elfos orgulhosos e orcs malvados tão clichês que isso chega depor contra sua história. Agora, aqui temos dois casos:
Primeiro é ser a adaptação de um jogo dentro de um mundo criado para sistemas, como AD&D ou GURPS, por exemplo. Neste caso, a menos que queira fazer uma fanfic, você deve tirar todos os elementos determinantes do sistema, como nomes de cidade, características do mundo e outras coisas e criar algo seu, ou, no caso de algo mais simples do que um romance adaptar para algo que seja livre e conhecido (eu explicarei mais no estudo de caso à frente), então adaptar a história do RPG para a literatura. Já no caso de toda criação de mundo ser sua... Bom... Eu já comentei a respeito na parte do livro sobre Criação de Mundos, então SEJA CRIATIVO!
Já a respeito dos personagens, como eu já coloquei anteriormente quando falei a respeito na parte de Clichês de Personagens um problema é a maneira como agem. Eu já vi livros apresentando personagens baseados em jogos de RPG como anti-heróis (até porque dizer isso está na moda), mesmo assim a realidade está longe disso. O anti-herói é só um herói diferente daqueles heróis que de tão idealizados e perfeitos são irreais, fazendo o bem pelo bem e se sacrificando por qualquer causa, porque assim que o herói deve ser. O anti-herói é simplesmente um herói crível, com defeitos e características de qualquer ser humano normal. Aventureiros de RPG, como eu já coloquei, em sua maioria das vezes não possuem um elemento histórico sequer, nenhuma ligação com a trama a não ser o objetivo de obter riquezas, itens mágicos ou poder (que é o que a experiência termina sendo no RPG) o mais rapidamente possível. E o pior é que normalmente agem de uma maneira que faz com que seja impossível para o leitor sentir empatia. Ou seja, ao invés de anti-heróis, estão mais para mercenários, sem laços com nada a não ser o dinheiro de quem os contrata.
E se você acha que empatia é um problema (e é!), a questão da verossimilhança é pior ainda, pois normalmente aquele grupo de 'vagabundos' chega à cidade armado até os dentes e sai andando em meio à população com armadura completa e com sua espada, machado, maça ou arco à mostra, pois eles têm de estar "sempre pronto para tudo". Eu sei que a fantasia medieval não é exatamente como nossa realidade e que realmente durante o período medieval não havia tantas regras ou civilidade como temos agora (se bem que a violência de algumas de nossas cidades...), mas imagine se você fosse a um shopping ou supermercado e fazendo compras estivesse um sujeito mal encarado usando um colete à prova de balas, uma automática na cintura e um rifle calibre 12 nas costas. Como você se sentiria?
E o problema é pior ainda, pois como a maioria dos RPGs medievais é de Alta Fantasia (High Fantasy) imagine que, além daquele guerreiro poderoso, no grupo ainda tivesse um ladrão (carinhosamente apelidado de 'chaveiro', outro clichê) e um mago ou feiticeiro capaz de conjurar um raio ou uma bola de fogo capaz de destruir um edifício ou matar centenas de pessoas. Aqui eu não falo nem do povo, mas como você acha que os governos das cidades lidariam com eles? Na maioria dos mundos de RPG de Alta Fantasia não se considera isso em favor da diversão, mas SERÁ QUE REALMENTE O LEITOR ACHARÁ QUE ISSO É REALISTA?
E ainda na questão da criação dos personagens, embora já na história, na maioria dos casos de aventura de RPG, a mesma envolve um grupo de personagens. Inclusive, na maioria deles, como eu já comentei, tendo em vista que pouco tem com a história da qual eles farão parte, eles não só mal se conhecem, quando se conhecem, como, num dos maiores clichês do RPG, vão a alguma taverna ou estalagem local em busca de "aventura". E para piorar, quando partem na mesma o fazem botando suas vidas nas mãos de contratantes que mal conhecem. Se sacrificando as vezes por uma causa que nem é a sua (o que novamente é inverossímil, mas me recorda fracassos cinematográficos como O Esquadrão Suicida).
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