EXEMPLOS DE OBJETIVO DE CENA & DIÁLOGOS

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EXEMPLOS DE OBJETIVO DE CENA

Esta CRISE, contudo, pode se apresentar das mais diversas maneiras, dependendo efetivamente do OBJETIVO por trás da cena. Veja bem, normalmente, devido ao cinema e a TV, tendemos a pensar que uma cena com crise é algo que deverá conter ação ou violência, mas na verdade qualquer situação de relacionamento, por exemplo, pode ser considerada uma "CRISE".

Exemplos de OBJETIVO de uma cena podem ser apresentar um personagem, ou uma situação, ou mesmo sua localização geográfica (e, portanto, onde a história está acontecendo), de modo a fazermos o leitor entender, e aqui voltamos aos "SEIS SERVOS HONESTOS" apresentado anteriormente: QUEM é o personagem, ONDE ele está, O QUE está acontecendo e PORQUE ele está nessa situação. As vezes numa cena, as vezes em várias. Deste modo, para darmos continuidade à cena, através de sua Sequência ou Consequência, muitas vezes a REFLEXÃO, o DILEMA e a DECISÃO são aspectos subjetivos, podendo ser somente apresentados pelo narrador.

Um texto com diversos aspectos acima mencionados pode ser visto nesta cena de uma noveleta minha chamada ASSALTO AO TREM PAGADOR, publicada no livro STEAMPUNK – HISTÓRIAS DE UM PASSADO EXTRAORDINÁRIO e parte do primeiro capítulo de meu romance CONSPIRAÇÃO STEAMPUNK:

"Isso é uma loucura, Cláudio pensou, lembrando das duas últimas semanas. Uma, gasta no desenvolvimento do projeto. Outra, na construção de todas as partes do aerostato. A maioria em duplicata para que ninguém na universidade desconfiasse. E mais aquele final de semana na montagem do dirigível. Tudo isso e ainda não estavam prontos.

– Duas da manhã. Já estamos na segunda-feira! – Bella comentou alto, chegando próxima ao brasileiro que verificava o funcionamento do pequeno gerador de hidrogênio que montara para a ocasião. – Como está o processo de encher o balão?

– Estamos a oitenta ou noventa porcento. – ele calculou, verificando as quantidades de água, ácido sulfúrico e ferro que, em combinação, formavam o gás. – Eu diria que em mais duas horas estaremos prontos. Como estão os motores?

– O meu já está pronto. – a alemã respondeu, olhando com uma certa pena para seu triciclo, agora sem o motor, depois para o velho casco que eles haviam conseguido para suporte do dirigível. – O Samuel deve estar terminando de instalar o elétrico dele.

– Pronto. – o inglês gritou de cima do convés – creio que já podemos testá-los.

Os três, então, passaram todo o aerostato por uma revista minuciosa e, com o balão cheio, deram partida nos motores, testando todos os mecanismos. Reuniram-se na cabine de comando para discutir como e o que fariam no ataque."

Este, no caso, é o primeiro parágrafo da história em questão. Assim, a ideia aqui é não só dar uma prévia dos personagens principais, os quais serão apresentados mais tarde, como, utilizando os diálogos, mostrar a situação na qual eles se encontram e o que estão fazendo para resolvê-la.

Perceba, inclusive, que essa ação culmina numa narração, uma sequência de ações não tão importante a ponto de ser trabalhada numa ou mais cenas, mas que por ser uma continuação da cena inicial, termina por dar mais informações a respeito da mesma.

DIÁLOGOS

O essencial ao dialogo é que o mesmo tenha credibilidade, que ele seja simples, direto, útil, e que emocione o leitor. Isso quer dizer que, ao contrário do que a maioria pensa, diálogos literários estão longe de ser semelhantes às falas na vida real. Na verdade é exatamente o oposto (apesar de não parecer). Por exemplo, na vida real se pode ter uma conversa por horas sem que se fale, ou sequer se conheça o nome de seu interlocutor. Na literatura isso não é possível. Como existe uma terceira figura, a do leitor, externa a cena, é necessário que os nomes sejam utilizados para que não se perca a noção de quem está falando e de com quem este personagem está conversando. Especialmente se existirem mais de dois personagens falando.

Lembre-se, diálogos devem ser simples, diretos, úteis, diferentes de bate-papos entre amigos, que podem acontecer só para passar o tempo, o que na literatura aconteceria em narrações mais sucintas (ou seriam simplesmente cortados por não influenciarem na trama).

Junto com as cenas os diálogos o cerne da história. Isso, pois é através deles que o leitor fica conhecendo todos os aspectos dos personagens. Mais importante do que como o personagem se parece, como ele fala, age, e principalmente o que ele sente, é o que fará o leitor se identificar com ele. Para isso, quando necessário, se usam os incisos que, mesclados às falas dos personagens.

Além disso, o diálogo, em especial com os incisos, serve como fio condutor da trama, dando continuidade a cena e complementando as informações da mesma.

Para os incisos, muitos profissionais gostam de dividir as situações em normais, quando a fala do personagem não tem ênfase alguma, situações de dúvida, ou de agressividade. Assim, para os primeiros o inciso iniciaria com 'disse', 'falou' ou 'contou'; usando 'indagou', 'questionou' e 'perguntou' para indicar dúvida; e 'exclamou', 'gritou' ou 'berrou' para indicar agressividade. Na realidade essa definição de incisos é uma questão de estilo. Até porque existem diversos outros indicadores de situação que não se encaixam nestas três 'situações'. Por exemplo 'respondeu' e 'replicou', ou 'sussurrou' e 'murmurou', ou ainda 'sorriu', só para citar alguns.

Eu pessoalmente estou tendendo a não usar colocações como 'disse' ou 'falou' caso a frase não tenha ênfase nenhuma, pois creio que a simples presença do travessão, ou das aspas no texto em inglês, já indica que o personagem está falando, de modo que não vejo necessidade de reforçar essa informação se ela efetivamente não estiver acrescentando informação alguma. Neste caso, atualmente o que eu faço é já indicar no inciso o que mais o personagem está fazendo enquanto fala. O mesmo não acontece em casos como 'gritou' ou 'sussurrou', que estão efetivamente indicando o modo que a frase foi falada.

Ainda do ASSALTO AO TREM PAGADOR, noveleta publicada no livro STEAMPUNK – HISTÓRIAS DE UM PASSADO EXTRAORDINÁRIO e parte do primeiro capítulo de meu romance CONSPIRAÇÃO STEAMPUNK , segue o exemplo:

"– Bom, o almoço estava ótimo, – Eduard se levantou – mas precisamos acomodá-lo, Cláudio. Vamos, que eu lhe mostrarei seu alojamento. Com licença, por favor."

Perceba que ao invés de começar o inciso com "disse Eduard" e continuar com "se levantando", eu simplesmente cortei o disse, já indicando que ele se levantava.

De qualquer modo, como eu já coloquei, aqui é mais uma questão de estilo do que uma regra. Existem diversos livros de autores renomados onde os incisos repetem 'disse' ou 'falou' incontáveis vezes durante o texto. A ideia aqui é ler muito e encontrar um estilo de apresentar seu inciso que lhe pareça agradável.

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