Sem pensar carreguei no gatilho e nada aconteceu novamente, irritado comecei a chorar, restavam apenas quatro alternativas, à terceira seria de vez, travei a respiração, olhei uma última vez para aquele espaço, preparava-me para disparar, quando ele gritou fazendo-me parar.
Olhei diretamente para os seus olhos cinza esverdeados, os meus encheram-se de lágrimas, bati com os joelhos no chão e fiquei quieto a soluçar, aproximou-se de mim lentamente, ajoelhou-se à minha frente e tirou-me a pistola das mãos, depois manteve-se calado a olhar para mim, baixei a cabeça e fitei o chão, não era capaz de o encarar. A sua mão tocou-me no queixo, pediu-me desculpa pela atitude que tinha tido e depois inesperadamente senti os seus lábios nos meus, o beijo que eu desejara por anos estava a acontecer naquele momento tão dramático, não compreendi e afastei-me.
- Jack ... o que acabou de acontecer aqui? - Perguntei confuso.
- Somos os dois uns idiotas! Eu adoro-te, pensei que sentias o mesmo, mas depois do que vi ontem já não sei nada ... - Admitiu ele. - E ver-te agora aqui com a arma apontada à cabeça pronto a disparar não aguentei.
- Aquilo de ontem não aconteceu porque quis, eu fiz aquilo para te salvar a vida, ele ameaçou-te. - Acabei por revelar tudo.
- Eu ... eu ... não sei bem o que dizer, empurrei-te, desculpa-me, fui um ...- Não queria explicações por isso calei-o com um beijo.
Nesse momento o Frank entrou na sala aplaudindo, enquanto gritava "bravo" e se ria, agora seriamos a chacota da escola, a nossa vida iria transformar-se num inferno. Levantámo-nos e o Jack apontou-lhe a arma à cabeça, o espanto no rosto do Frank foi visível, implorei-lhe para baixar o revólver, mas não me deu ouvidos.
- E agora? - Fez uma pausa. - Quem é que se ri seu monte de merda?
- Achas mesmo que eu acredito que vais disparar contra mim e ser preso? Nunca! - Riu-se.
- Sabes que existem muitas maneiras de morrer socialmente, uma delas é acabar com o teu estatuto superior aqui dentro! - Lembrei eu. Ele continuava com o seu sorriso fingido. - Lembraste do que aconteceu ontem? Tenho uma gravação com tudo registado! - Anunciei eu, a surpresa no rosto de ambos foi imediata.
- Seu cabrãozinho manhoso! - Riu-se friamente o Frank.
- O que é que aconteceu ontem? - A Amy tinha entrado a desfilar nas suas roupas, atrás dela vinha a Beth, que quando me viu olhou para o chão. - Exigo saber! - Quando reparou na arma, assustou-se.
- Se és homem, luta sem armas. - Provocou Frank. O Jack passou-me a arma para as mãos e depois tudo aconteceu muito rápido.
Eles pegaram-se à porrada, não sabia o que fazer, vi o Jack a cuspir sangue, o Frank tinha a testa com um rasgão, estava aflito, de repente a Amy lançou-se para cima de mim e tentou retirar-me a arma que acabou por cair ao chão, tentou ir atrás dela, mas dei um pontapé no revólver que foi parar à outra ponta da sala, a Amy levantou-se e furiosa lançou as unhas à minha cara, puxei-lhe o cabelo, eu que era totalmente pacífico estava a lutar, ainda por cima com uma mulher. Enquanto me tentava desviar das mãos da maluca, prestava alguma atenção ao Jack, nesse momento o tempo parou com o som de um disparo.
A Beth tinha a arma nas mãos, estava a tremer, quando olhei para o Jack para ver se estava ferido, fiquei tranquilo ao vê-lo bem. A Amy caiu com os joelhos no chão, a sua respiração estava pesada, ela é que tinha sido atingida nas costas, o sangue manchava a sua camisola a uma grande velocidade.
- Ela obrigou-me a fazer tudo David! - Confessou Beth ainda em choque. - Desculpa! - Depois virou a arma contra si e disparou, mas nada aconteceu porque esta só tinha uma bala que por sorte ou azar, depende da perspetiva, já tinha sido utilizada.
Começaram-se a aproximar professores, auxiliares, alunos, alguns ainda tentaram ajudar a Amy, mas era tarde demais, não resistiu ao ferimento. Momentos depois surgiu a polícia, que levou a Beth para a esquadra, eu e o Jack tivemos de ir também como testemunhas, no meio da confusão o Frank tinha desaparecido.
Horas depois saímos da polícia, a Beth iria ficar detida até julgamento, íamos em silêncio lado a lado quando senti a sua mão tocar na minha e os dedos a entrelaçarem-se, sorri e continuámos a caminhar até à paragem de autocarro mais próxima.
Recebi uma notificação, desbloqueei o telemóvel e fiquei incrédulo quando vi que era uma mensagem do Frank, "Desculpem todo o mal que vos fiz, sei que nunca terei o vosso perdão e compreendo, mas vou-me embora. Entendo caso queiras mostrar a gravação à polícia. Só te garanto que irei partir para sempre. Adeus", mostrei-a ao Jack que me olhou nos olhos e beijou apaixonado.
- Sabes uma coisa David? - Perguntou ele olhando para o céu.
- Sei algumas sim. - Ri-me. - Agora depende do que queiras ...
- Sabes que te amo? -Questionou criando uma ligação entre os nossos olhos. Sorri e retribui com um beijo.
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Russian Roulette
Dla nastolatkówDavid é vítima de violência física e psicológica na escola, não tem amigos e a única coisa que o preenche é o grupo de leitura. Jack é o rapaz por quem ele está interessado, é uma das poucas pessoas que é genuinamente simpática com David mas é popul...