O DIA

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Saberá o louco que está louco? Ou os loucos são os outros, que se empenham em convencê-lo da sua insanidade para salvaguardarem a sua existência de quimeras?

ZAFÓN, Carlos Ruiz - A Sombra do Vento.

O dia

Após três anos a sofrer diariamente naquela escola vítima de maus tratos, todos os insultos que ouvi, as dores que senti, socos, pontapés, puxões de cabelos, decidi pegar na arma que é do meu pai, comprou-a depois da morte da minha mãe, nunca percebi porquê, talvez também se quisesse matar, a minha vontade de viver tinha chegado ao fim. Não aguentava mais aquele ambiente das trevas, o meu castigo final tinha chegado.

Beijei a bala e coloquei-a num dos seis buracos do revólver, fechei o tambor e girei,encostei-o à têmpora direita, olhei pela última vez em redor, ouvi o silêncio,seria irónico ser encontrado morto na sala de aulas onde já tinha sido agredido por cinco rapazes, claramente fizeram-no com toda a justiça, eu mereço sofrer,sou um erro genético, uma monstruosidade. Fechei os olhos, inspirei fundo,interroguei-me se seria logo à primeira ou teria de disparar várias vezes até encontrar a bala, disparei, nada aconteceu, azar no jogo e no amor, na segunda acertaria, pensei na minha família, o meu pai não merecia um filho assim, um guerreiro como ele devia poder orgulhar-se mas tal era impossível, recordei aquela que pensava ser minha amiga, uma manipuladora brilhante, por fim cheguei à conclusão que ninguém precisava de mim, todos iriam ultrapassar a minha morte.Sem pensar carreguei no gatilho e nada aconteceu novamente, irritado comecei a chorar, restavam apenas quatro alternativas, à terceira seria de vez, travei a respiração, olhei uma última vez para aquele espaço, preparava-me para disparar, quando ele gritou fazendo-me parar.

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