Prólogo

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— Eu amo você, Sarah. Seremos muito felizes juntos, eu prometo.

Aquelas palavras doces ecoavam em minha mente enquanto as lágrimas salgadas molhavam a minha face.

"Como pude ser tão tola? Como pude me entregar desta maneira? Meus sonhos estão acabados!" lamentava mentalmente.

— Eu pequei contra ti, meu Deus — urrei entre lágrimas e tentei cobrir meu corpo exposto com os lençóis de linho sobre a cama onde eu havia praticado o ápice da minha rebeldia. Perambulei pelo quarto e não aguentando ficar lá dentro, abri a porta da varanda e sentei-me, derrotada, na cadeira de balanço. 

Minha alma doía muito. Eu estava envergonhada e todos os sentimentos belos, a inocência do primeiro amor e a liberdade tornaram-se em podridão e cárcere.

Fiquei imovel e chorando de arrependimento por muito tempo. Eu não conseguia pensar em outra coisa senão em minha própria depravação. Cai em tentação e desamparada, não me restava nada além do vazio mais sombrio do que a morte em meu coração.

— Sarah, o que você está fazendo aí fora? Está muito frio — a voz de Victor, mesmo sonolento, soou gentil como sempre.

Estranhando meu comportamento, o rapaz veio a varanda e tomou lugar ao meu lado. Ele logo notou as lágrimas em meus olhos e assustado, perguntou: — Por que está chorando, meu amor? Eu a machuquei ontem?

Ontem.

Milhares de coisas aconteceram no dia anterior e nenhuma delas era motivo de orgulho para mim.

— Fale comigo, Sarah —  Victor insistiu e quando ameaçou tocar meu rosto eu desviei rapidamente. 

— Sabe qual era meu maior sonho antes de ontem? — perguntei monótona enquanto observava os primeiros raios solares tocarem as árvores em derredor da chácara onde Victor e eu viemos nos abrigar na noite anterior. 

— Ser enfermeira? Trabalhar comigo no hospital da minha família? — arriscou, fazendo-me rir com escárnio.

— Eu queria te apresentar ao meu pai, receber a benção e me casar com você, Victor. — Surpirei e sequei meu rosto. — Então, eu entraria num lindo vestido branco e nós iríamos firmar uma aliança diante de Deus. — Juntei forças para encara-lo e disse: — Teríamos a nossa noite de núpcias e eu me entregaria você. Nosso casamento seria puro e sem mácula, como o Senhor deseja.

— Casamento? Sou um médico recém-formado, Sarah. Tenho prioridades. Em alguns meses estarei indo trabalhar com meu pai e precisarei de muito tempo até conquistar alguma independência. — informou perdendo um pouco da calma. — Não posso me prender a alguém agora.

— Então, o que você queria de mim? — gritei, sentindo a raiva subindo. — Dormir comigo? Só isso?

— Não, eu...

— Você disse que me amava, seu mentiroso! — Fui para cima dele e bati em seu peitoral rígido com os punhos fechados. — Só queria me usar!

Ele segurou meus braços e tentou me acalmar. — Eu a amo sim, mas, você precisa enxergar a verdade, querida. Nós pertencemos a mundos diferentes. Meus pais jamais permitiriam que um de seus filhos casassem-se com alguém de classe tão inferior a nossa.

— Classe inferior? Agora você pensa como sua mãe? Acredita que eu sou apenas uma aproveitadora desejando seu dinheiro? — acusei indignada.

— Sarah...

Empurrei-o para longe e falei com ódio: — Não, Victor! Você alegou ser um cristão, mas não passa de um garoto mimado e libertino.

Perdendo a cabeça de vez, ele contra-atacou: — E você é o quê, Sarah? Uma santa? Se quer saber não foi nada difícil te levar pra cama. Bastou uma taça de vinho e você já estava aos meus pés.

Mesmo sabendo como ele tinha razão sobre o meu caráter sujo, fui impulsiva e acertei o rosto dele com um tapa. Em seguida, deixei-o na varanda, fui em direção às minhas roupas jogadas no chão e as vesti com agilidade. Pretendia deixar aquele lugar o mais rápido possível. 

— Quais são seus planos agora? — Victor perguntou e notei pela seu maxilar rígido e a respiração ofegante o tamanho de sua raiva naquele instante.  

— Vamos acabar logo com isso. Leve-me para casa — ordenei terminando de abotoar o vestido e pegando minha bolsa sobre o criado-mudo.

Victor assentiu sério, foi ao banheiro trocar de roupa e quando voltou eu já o aguardava do lado externo do casarão.

Sem trocarmos nenhuma palavra, entramos no carro e envoltos naquele clima pesado, Victor iniciou o percurso de volta a minha casa.

No caminho peguei meu celular da  bolsa e ao desbloquear a tela notei a quantidade de ligações acumuladas do papai e os meus irmãos. O arrependimento bateu mais forte e o medo por reencontra-los após ter sumido sem dar explicações, afligiu-me ainda mais. 

Mesmo sabendo das grandes chances de ter minhas orações negadas, pedi forças ao Senhor para lidar com as consequências por vir.

O caminho pareceu durar uma eternidade, e quando Vic finalmente estacionou o veículo em frente ao portão de minha casa eu não soube bem o que fazer.

— Sarah, eu fui um idiota. Nós não precisamos acabar desta maneira. — Victor tocou em meu braço.

Neguei com a cabeça. — Jamais alcançarei seu padrão.

— Meu amor...

— Chega, Victor! — Puxei meu braço para longe dele. — Nada mais me prende a você. Vá viver sua vida como médico e me esqueça. Eu farei o mesmo.

Ganhando o estímulo necessário, eu  abri a porta e parti em direção a minha casa, sem saber que aquele homem a quem jurei nunca mais ver havia deixado um pedaço seu dentro de mim.

Nota da Autora: Esse livro ainda está sendo escrito, então paciência comigo. Nos vemos em breve 💕

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