Trinta e Nove: Mãe

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— Tem certeza que essa é uma boa ideia, Vic? — questionei quando notei que já nos aproximavamos da enorme mansão Ferraz. — Eu juro que se ela machucar a minha filha, não respondo por mim.

Por amor a Victor e sabendo que isso seria a coisa certa a se fazer, acabei concordando com a proposta dele de levar Mabel para conhecer sua avó. Fiquei insegura, claro, afinal Raquel não gostava nada de mim e não escondia isso de ninguém. Contudo, a confiança do meu noivo na credibilidade que sua mãe lhe passou em aceitar a mim e a bebê como parte da família, me deixou mais tranquila. Ele também prometeu estar ali comigo e isso foi fundamental para minha decisão de aceitar.

— Tenho medo...

— Ei, não tem com o que se preocupar — me interrompeu, segurando e depositando um beijo em minha mão. — Minha mãe não seria louca de te fazer mal e muito menos à nossa ovelhinha. Agora que tem ciência de como sei de tudo, ela anda se esforçando ao máximo para não me perder. — Ele sorriu um pouco meio forçado. — Acredite, até me ligou ontem só pra perguntar se você comia talharim de ricota com brócolis e cogumelos reacheados. — Nesse instante fiz uma sutil careta e claro, Vic percebeu. — Relaxe, seu futuro marido é um homem sábio e pediu por uma culinária simples, vai ser panqueca.

— Pelo menos isso! — falei com uma alegria recheada de ironia e ele riu, apertando minha bochecha em seguida. — Ai, devagar, eu sou sensível, homem.

— Oh, meu coração. — Ele forçou uma voz melosa apenas pra me irritar e em seguida se aproveitou o fato de ter acabado de estacionar o carro para se aproximar e beijar minha bochecha. — Me perdoa? Eu prometo tratá-la com toda a sensibilidade possível daqui em diante.

Ele se afastou um pouco, mas não o suficiente para aliviar meu nervosimo em tê-lo tão perto. Fazia quase uma semana desde que firmamos nosso noivado e eu me sentia cada vez mais apaixonada.

— Claro que perdoo. — Sorri meio embaraçada. — Mas isso não te livrará do peso da sua promessa. Vou lembrá-lo constantemente.

— Não será preciso — ele brincou e eu senti um arrepio quando senti sua mão gentilmente acariciar minha face. — Quando eu me casar com a mulher mais linda de todas, farei questão de oferecer a ela toda atenção possível.

— Espero que essa mulher seja eu — caçoei e o empurrei levemente.

— Mas é claro que é você de quem estou falando. Quando aprecio sua beleza, eu simplesmente... — Ele suspirou enquanto me olhava como se estivesse diante de uma obra de arte. — Quero me casar com você. Assim a terei completamente, não te deixarei fugir nunca mais.

Meu coração acelerou e eu segurei um pouco ar. Todas aquelas emoções me fizeram até mesmo relembrar dos anos anteriores e compará-los, chegando a rápida conclusão de que, sem a menor dúvida, estar fazendo o certo diante de Deus, às claras, sem segredos, era incomparavelmente melhor do que um relacionamento cheio de egoísmo e hipocrisia de duas pessoas que antes pensavam estar agradando ao Rei Eterno quando na verdade idolatravam mesmo o próprio ego e pecado. Estávamos experimentando algo diferente, completamente novo e incrivelmente melhor, pela graça de Deus. Ainda assim, poderíamos cair nos mesmos erros do passado, caso não fôssemos vigilantes quanto a nossa paixão.

— Bem, nós vamos nos casar em algumas semanas. — Desviei meu olhar para Mabel que estava naquele momento distraída tentando puxar o laço da cabeça. — Logo o papai vai nos ver com tanta frequência que vai enjoar da gente, não é?

— Até parece. — Ele revirou os olhos. — Nunca vou me cansar de vocês duas! — declarou enérgico e então abriu a porta do carro, me fazendo perceber que a temida hora havia chegado.

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