Dezenove: Ciúmes

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— E no sétimo dia Deus descansou, ou seja, Ele se alegrou com a sua obra criada — finalizei a história e fechei o livretinho colorido quando já não podia mais manter a atenção de Mabel e Arthur em mim. O filho de Luana estava muito mais interessado em seus brinquedos e a minha pequena, sem dúvidas, preferia saborear e rasgar as páginas do livro ao seu conteúdo. — Gostaram da história? — fui ignorada pelos dois bebês distraídos em seus próprios mundinhos lúdicos. — Pois é, vocês são um público difícil de agradar, mas sou uma mamãe previnida, eu já esperava por isso, então trouxe um suborno — Fiz suspense e tirei da bolsa de Mabel uma vasilha repleta de deliciosas frutas tropicais cortadas, e fui bem sucedida em recuperar a curiosidade dos pequenos. — Muito bem, crianças.

Enquanto Mabel e Arthur devoravam parte do piquenique, eu aproveitei o tempo para contemplar toda aquela beleza natural ao meu redor. Notei como o sol beijava a copa das árvores e me deliciei com o perfume exalado pelas flores da estação. Além de tudo, havia um lindo lago, sobre o qual os passaros traçavam o rasante de seu voo e cuja superfície abrigava elegantes cisnes, patinhos e tartarugas. Tanto esplendor fez meu coração se encher de gratidão pelo fato de pertencer a um Deus tão criativo e caprichoso em suas obras.

— Pronto. Eu trouxe água para todos nós. — Luana entregou para mim uma das duas garrafinhas as quais segurava em suas mãos. — Graças a Deus achamos essa árvore, hoje está muito quente.

— Realmente. — Abanei meu rosto e aproveitei a deixa para saciar minha sede. — Mesmo assim a ideia de vir a esse parque foi brilhante. Eu já estava cansada de ficar sem fazer nada no Instituto. — Relaxei as costas no tronco logo atrás de mim.

— Deve ser bem entediante quando Coelho não vem te ver, não é, espertinha? — ela questionou e ergueu suas sobrancelhas de modo sugestivo.

— Provavelmente aquele bobalhão deve vir no fim dessa tarde — expliquei sem muito interesse e segurei Mabel quando ela pediu por meu colo. — Mas apenas para deixar claro, Josué não vem apenas para me ver.

— Ora, e qual seria o problema se você fosse a razão das visitas dele? — A expectativa contida nos olhos de minha amiga, não passou despercebida por mim nem mesmo depois dela me dar as costas a fim de jogar uma bola para Arthur chutar do jeitinho desengonçado dele. — Você e o Coelho são perfeitos um para o outro.

— Lu, não comece — pedi, buscando finalizar aquela conversa o mais rápido possível.

Ela olhou-me de soslaio.

— Analise bem, os dois são jovens, Josué é um homem bom, empregado e responsável e você também já é uma mulher madura. — Virou o corpo completamente em minha direção e fez um gesto com a mão, esperando de mim alguma reação frente aos seus argumentos tão bem colocados. — Seria perfeitamente aceitável se vocês casassem e ele assumisse a paternidade da bebê.

Mordi o lábio com força, inspirei o ar profundamente e o soltei bem  lentamente, usando todos os recursos disponíveis para não perder a calma.

— Essa é sua ideia brilhante, Luana? — escarneci. — E quanto ao Victor, pai da minha filha? Já pensou como seria desagradável entregar um convite de casamento a ele e dizer: "Sim, vou me casar com o seu melhor amigo, e tem mais não o quero como pai da Mabel. Suma daqui!" — ironizei e o seu bico de criança mal criada só evidenciou o rumo nada agradável daquela conversa.  

— Como você pode ser assim, hein? — Ela bateu com a palma na testa. — Depois de tudo que o doutor Victor te fez, você ainda sente pena dele? Se um homem te abandonou uma vez e voltou, ele o fará novamente, confie em mim. — Apontou com o indicador em direção ao próprio peito. — Veja o meu exemplo, Sarah — aumentou o tom de voz. Ela queria me fazer ouvi-la a qualquer custo. — Perdi a conta de quantas vezes perdoei o Leandro e ele sempre me traía na primeira chance. Sua história não será diferente, se continuar dando espaço para o seu estimado médico ser mais do que o pai da Maria.

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