Ganhamos uma folga extra para recebermos mais treinamentos de segurança, saúde, manutenção e emergências gerais dentro da "nave". Entramos na sala dos bombeiros para aprender alguns procedimentos.
Dois bombeiros se apresentam como instrutores. Montezuma, um argentino alto e com marcas de espinha, e Hermann, um alemão atarracado e com orelhas torcidas.
Passamos a hora seguinte aprendendo sobre o uso de extintores, alarmes e sprinklers espalhados pela nave através de modelos reais e hologramas mostrando sua localização em todos os pontos do Simulador, mesmo que estes sistemas estejam programados para funcionar automaticamente.
Aprendemos também sobre luzes de segurança, evacuação de dentro da astronave para as pequenas aeronaves que se encontram no hangar (de vez em quando é possível ouvir o zumbido de uma delas decolando do penúltimo andar do Simulador), métodos para cozinhar e usar outros aparelhos básicos da nave sem provocar acidentes, e muitas outras coisas.
Voltamos lá no dia seguinte e, junto com enfermeiras, médicos e paramédicos, Montezuma e Hermann nos explicaram os principais procedimentos de primeiros socorros usando um androide perfeitamente realista nos mínimos detalhes anatômicos, exceto por um grande "R" azul anil pintado em sua testa, exigência do Comitê Internacional de Robótica depois que geminóides passaram a ser usados para cometer crimes e incriminar pessoas reais.
Curiosamente os robôs da área de lazer que chamam de "boate" não têm esse "R".
Após uma ordem de Montezuma, o androide começou a se modificar e a pele de seu tronco se abriu junto com músculos e costelas, revelando sistemas orgânicos completos e em aparente funcionamento, como coração batendo, pulmões respirando e estômago "roncando".
Nos pedem pra passar nossos Oniteles por cima dos órgãos do andróide, mostrando que até os monitores biométricos podem ser ludibriados por órgãos artificiais tão perfeitos. Como prova, passamos o Onitel também perto de nós mesmos e dos nossos colegas, e as funções fisiológicas acusadas na tela são semelhantes.
De repente, a uma ordem de Montezuma, o andróide começa a se transformar em um ginoide.
Podemos ver sua próstata se contraindo enquanto uma pequena dobra carnosa em sua base cresce imensamente e assume a forma e local do útero, que repuxa os antigos testículos que vão aos poucos se transformando em ovários.
Também é possível notar outras correspondências anatômicas que nunca me passaram pela cabeça antes, como a que existe entre o pênis e o clitóris. As glândulas mamárias quintuplicam de tamanho, os ossos do quadril mudam de forma, e então seu tronco se cobre novamente de costelas, músculos e pele.
Algumas pessoas pareciam enojadas pela visão daquelas vísceras úmidas, mesmo sabendo que tudo ali é artificial.
Hermann digita algo em seu Onitel e a barriga do ginoide se expande imensamente em poucos segundos até o tamanho aproximado de uma gestação de nove meses.
É possível ver os movimentos do bebê por dentro, e as contrações uterinas. Hermann pega o material necessário, como toalhas limpas, uma bacia com água, tesoura, linha de algodão, e luvas.
A bolsa se rompe e o líquido logo é reabsorvido pela pele das pernas do ginoide. Hermann esteriliza as mãos e o material, e mostra como fazer um parto de emergência.
Depois o "bebê", que chora, grita e se move como se fosse real, é recolocado no útero através da pele moldável do abdômen e ele repete o procedimento mais duas vezes, representando um parto com o cordão umbilical enrolado no pescoço e outro com o bebê "sentado" no útero.
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Eco-Íris
Sci-fiNo séc. XXII, em um mundo pós-guerra, um engenheiro curitibano com problemas familiares vai da glória à ruína depois de uma série de desastres em poucos dias. O que ele não esperava é que seus esforços para melhorar de vida levariam a uma oportuni...