Encontro rapidamente a sala 606 e percebo que ela, além de ser fortemente refrigerada, tem porta dupla, sendo a interior forrada com chumbo, assim como as paredes. Um homem meio grisalho vestindo uma bata de chumbo e enormes óculos protetores percebe minha entrada e me entrega de imediato um equipamento igual ao seu.
Eu noto um painel fumê através do qual se vê uma bola de luz branco-azulada cercada por fios de luz roxa e azul-esverdeada, e reconheço imediatamente como uma versão muito menor do reator de fusão onde eu trabalhei em Curitiba, e gelo dos pés à cabeça lembrando da coluna de fumaça que se ergueu da antiga usina.
- Olá, sou Tomaso Rutino, engenheiro de mineração. Você deve ser o Sr. Huber, certo? Fui eu que o indiquei para o cargo de responsável pela distribuição de energia da nave, pois não tínhamos ninguém com suas qualificações e reconhecimento profissional.
- Muito obrigado, mas... aquilo ali é o REATOR? Vocês construíram isso DENTRO DE UM PRÉDIO REPLETO DE PESSOAS?! É brincadeira?!
- Não gostei do seu tom, moço! Ele é perfeitamente seguro! Oras!!
- Diziam o mesmo do reator de Curitiba, e você deve ter visto na TV o que aconteceu...
- Sim, aquele que explodiu no Brasil há alguns meses, não é? Mas o nosso é duas mil vezes menor e está quase perfeitamente resfriado pela circulação de água. Só tivemos uma pequena diminuição de potência hoje de manhã... Algumas pessoas devem ter tomado banho frio.
- Estão colocando as pessoas em contado direto com essa água?! Está TUDO ERRADO!!!
- Então, Sr. Sabe-Tudo, tome conta disso sozinho! Não é mesmo minha área!
Ele larga o equipamento de segurança em um tipo de cabideiro e sai bufando de raiva. Os técnicos que estavam no fundo da sala me olham com ar desconfiado. Procuro a agenda do Onitel, que segundo o manual deveria ter os números dos principais funcionários do Centro Espacial envolvidos no Projeto Eco-Íris, e ligo para Mouton.
- Fale, Huber! Já estava mesmo indo para a sala do reator! O Tomaso passou furioso por mim agora há pouco. Algum problema?
- Sim, está tudo errado aqui e esse reator precisa ser colocado imediatamente no subsolo ou a uma boa distância de qualquer prédio! E cortem a ligação entre os chuveiros e o reator! É absurda!
Ouço um clique e percebo que ele desligou, mas a porta se abre e ele me chama pra fora.
- Vamos resolver isso o mais rápido possível. Nosso técnico de segurança insistiu desde o primeiro projeto que não teria problema algum fazer um reator interno, e disse que seria bastante econômico esquentar os chuveiros com o sistema de resfriamento do reator. Prometo que as mudanças necessárias serão feitas urgentemente. Mas esqueça isso por enquanto e me acompanhe até a minha sala no prédio da Administração.
- Mas eu li no manual que não devemos sa...
- Esqueça o manual. Aqui entra e sai quem eu quiser.
Saímos pela mesma porta em que entramos ontem, passando pela Biosfera e pela cabine de descontaminação. Andamos até um pequeno prédio em frente aos Simuladores. No corredor do andar térreo ele insiste para que eu tome um pouco de água e fique totalmente tranquilo, pois ele vai me mostrar algo muito chocante.
Se dá o contrário do que ele pretendia e eu fico extremamente tenso, tentando imaginar o que despertaria tanto cuidado da parte dele. Ele faz sinal para dois guardas que se punham na frente de uma porta com tranca eletrônica, ele desativa o sistema e nós dois passamos, descemos por uma escada íngreme e escura, até que chegamos em uma outra porta com guardas. Ele abre, entra primeiro, e faz sinal para que eu entre, trancando a porta logo depois.
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Eco-Íris
Science FictionNo séc. XXII, em um mundo pós-guerra, um engenheiro curitibano com problemas familiares vai da glória à ruína depois de uma série de desastres em poucos dias. O que ele não esperava é que seus esforços para melhorar de vida levariam a uma oportuni...