Mudanças.

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Após todos os eventos relacionados à aparição (ou reaparição) de Eurus Holmes, muita coisa mudou no 221B. O Dr. Watson mudou-se de volta para o apartamento, agora acompanhado de sua pequena filha Rosamund, para continuar sua vida ao lado do amigo Sherlock Holmes.

Especialmente devido à criança, o imóvel era constantemente visitado. Greg Lestrade, Molly Hooper e, até mesmo, Mycroft Holmes, marcavam presença para auxiliar os dois homens e mimar a garotinha. Sra Hudson abandonou totalmente sua frase habitual "I'm not your housekeeper! " e tornou-se uma faz-tudo para todos do apartamento.

Era o primeiro natal após todas as mudanças.
Chovia finamente em Londres e antes mesmo das 18hrs a presença de Lestrade e Molly já estava consagrada. Diferentemente de outras vezes, Sherlock interagia com os demais, dando atenção especial à Rosie, algo comum nos últimos meses. John e Sra Hudson discutiam sobre o modo de preparo de determinados pratos tradicionais da ceia e Molly bombardeava Greg com informações que obteve recentemente sobre a importância de brinquedos educativos nos primeiros anos de uma criança.
Em meio a tal cenário, a chegada do Holmes mais velho causou surpresa em todos os presentes.
- O que você faz aqui, irmão? Pensei que não apreciasse esse tipo de festividade. - Disse Sherlock enquanto deixava Rosie nos braços de Molly e caminhava na direção do irmão.
- Por favor, Sherlock! Onde estão seus modos? Seja bem vindo, meu querido! - Sra Hudson apressou-se gentilmente, levando um copo de mulled wine*.
- Obrigada, Sra Hudson. - disse Mycroft à senhora, dando um leve sorriso. - Quanto à sua pergunta, irmãozinho, continuo não sendo grande apreciador de tal festa, entretanto julguei que não seria tão ruim participar por algumas horas.
Sherlock deu de ombros e voltou para pegar Rosie, a levando para área da cozinha, junto a John.
Logo a presença de Mycroft adequou-se ao ambiente e o clima de antes retornou. Greg preferiu mil vezes conversar com o Holmes mais velho sobre política, casos da Scotland Yard e a família real às informações de Molly sobre brinquedos para crianças.
Quem olhasse para todos naquela noite não poderia ser capaz de imaginar como as coisas eram há meses atrás.
Sra Hudson não se importava em cuidar de tudo no apartamento dos seus meninos ou em paparicar a pequena Rosie, enquanto John não deixava que toda a sua dor e luto tomassem conta de si. Greg mostrava-se mais relaxado e menos ressentido sobre acontecimentos frustrantes de sua vida pessoal e profissional. Sherlock, agora, sorria mais, conversava de maneira razoavelmente aberta com Hooper e até mesmo auxiliava John e Sra Hudson na cozinha. Molly não possuía aquela tensão e timidez habituais, sentia-se confortável com aquelas pessoas e principalmente com o homem que tanto amava.

Semanas antes, Sherlock a procurou para conversarem sobre a constrangedora - e aterrorizante - conversa telefônica "manipulada" por Eurus Holmes. Provavelmente, pela primeira vez na vida o detetive admitiu seus erros e foi capaz de ser sincero sobre seus sentimentos. Contou à patologista toda a situação, admitiu que o modo como a tratava não era adequado e, por fim, desculpou-se por não ser capaz de retribuir os sentimentos que a garota nutria. A conversa foi um tanto desajustada, ainda que com boas intenções Sherlock não possuía tato suficiente para uma conversa tão delicada, sendo um tanto objetivo demais. Por sorte, já acostumada com a personalidade do moreno e simultaneamente surpresa pela atitude deste, Hooper facilitou a situação.
Embora fosse algo difícil de ouvir, ela finalmente sentia-se livre da incerteza e até mesmo do desprezo do amado que sempre a atingia. "Será mais fácil seguir em frente", pensava ela.
A leveza que sentia, independente de estar no mesmo ambiente que o detetive mostrou que o pensamento estava se concretizando. Não era fácil esquecer um amor, porém a sinceridade sempre é libertadora. Talvez, isso era o que ela sempre esperou de Holmes e ao conseguir, transformou-se.

Greg já estava há um número considerável de horas sem fumar e sentiu a necessidade de sair do apartamento para alimentar o vício. Mycroft o acompanhou, dando continuidade a conversa que durava muito mais tempo do que qualquer um dos dois poderia imaginar.
Estavam encostados na porta do 221B, observando o movimento inexistente da rua.
- Aceita? - Greg estendeu um pouco a caixa de cigarros enquanto tentava acender uma unidade que foi rapidamente para sua boca.
- Obrigado. De vez em quando não faz tão mal. - Mycroft deu uma leve risada pegando um cigarro para si.
- Não quero ser desagradável como o seu irmão, mas você ter vindo é mesmo uma coisa que nenhum de nós podia ter imaginado.
O funcionário do governo deu um longo trago antes de falar, fitando o nada.
- Pois bem, creio que aqueles copos de mulled wine vão te ajudar a arrancar informações. - respirou um pouco mais fundo - O episódio com Eurus me fez pensar muitas coisas. Eu sempre abominei grandes expressões sentimentais, porém isso não quer dizer que eu não sinta nada.
- Imagino. Você sempre cuidou muito de Sherlock, embora nenhum dos dois admita isso. - Greg disse com um sorriso divertido e ao mesmo tempo carinhoso.
- Sim, isso é verdade. Viu? Estou admitindo! - Holmes riu de leve, sendo acompanhado do inspetor, e continuou - A grande proximidade com a morte, que seria efetuada pelo meu próprio irmão, para salvar John, mediante à provocações minhas... Eu só conseguia pensar que se fosse minha hora, eu não gostaria de morrer deixando as coisas nessa configuração.
- Não gostaria de deixar como legado a imagem de um homem ranzinza? - Greg descontraiu, sentindo que o rosto de Mycroft relaxou um pouco.
- Bom, é uma forma de dizer... - seguido de outro trago, continuou - Não estou virando um sentimental, porém não quero ser um ranzinza. - disse a última palavra em um tom parecido ao do outro.
- Acho que visitar seu irmão mais vezes foi um bom começo. Ele também é teimoso e talvez não tenha tido o mesmo incentivo que você, mas é certeza que ele gosta.
- Eu espero. - um sorriso quase imperceptível passou pelo rosto do moreno, que logo admitiu - De qualquer forma, devo confessar que a pequena Rosamund é um estimulo a mais para minhas visitas. É uma espécime adorável.
- Ah! Aquela menina é maravilhosa! Eu nunca me dei muito bem com crianças, mas com ela... Já até me aventurei a levá-la para passear sozinho e foi maravilhoso! - o grisalho riu entusiasmado, era realmente revigorante falar se Rosie.
- Realmente, é uma criança extremamente dócil. Uma das razões que tornou mais fácil relevar uma estúpida festa natalina.
- Estúpida festa natalina? - Greg riu balançando a cabeça - Você ainda tem muito o que melhorar, Mycroft...
- Estou tentando. - Mycroft sorriu levemente, sabendo que o inspetor estava certo.

No fim das contas, a criança era realmente um grande elo entre todos que passavam a noite de Natal no apartamento da Baker Street. Independente de qualquer diferença e gostos, tudo desaparecia quando a menina estava por perto.

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