Considerações.

347 47 1
                                    

    Em Londres, pontualmente às cinco horas da tarde, Greg e Mycroft estavam na frente do 221B para levar Rosie até a loja de bolos que costumavam frequentar.
Sra. Hudson abriu a porta para entregar a menina aos cuidados do casal, precisando antes pedir informações sobre o caso em Guildford.
- Vocês sabem como estão os meninos?
- Eles estão ótimos, Sra. Hudson. – Greg sorriu para a senhoria, enquanto pegava a pequena Watson no colo.
- O caso foi resolvido e todos estão bem. – Mycroft completou. – Provavelmente John contará os detalhes mais tarde para a senhora.
- Oh, sem problemas. Saber que todos estão bem já é maravilhoso! – a mulher sorriu amável e entregou uma pequena bolsa com alguns itens que Rosie poderia precisar. – Se divirtam!
- Tchau, Sra. Hudson! – a menininha acenou enquanto o grisalho a balançava em seu colo, fazendo-a rir.
Mycroft abriu a porta de seu automóvel para o namorado entrar com a criança e logo se juntou a ele.
Durante o trajeto, de menos de quinze minutos, a garotinha contou as histórias de dois desenhos animados que assistiu na parte da manhã. Ela se empolgava quando descrevia os personagens e as cenas com algum tipo de ação. Mycroft não continha as risadas quando Rosamund acabava exagerando em seus gestos e acertava os bracinhos nele ou no namorado.

Chegando à loja, Watson se desprendeu dos dois homens e correu até o expositor de bolos. Uma das funcionárias, que já a conhecia das outras vezes que fora com o tio Myc, apressou-se em explicar cada recheio dos doces a sua frente.
A menina adorava saber os detalhes para fazer sua escolha, o que sempre encantava as pessoas que estavam por perto. Sempre questionavam como uma menina tão pequena podia ser tão inteligente àquele ponto e o funcionário do governo enchia-se de orgulho.
Não foi diferente naquele dia, e o olhar orgulhoso fascinava o grisalho. Lestrade se viu automaticamente abraçando a cintura do companheiro, querendo-o perto o suficiente para que pudessem admirar a pequena Rosie juntos.
Esses momentos de proximidade, vendo o quanto Mycroft podia ser doce com outras pessoas, e principalmente, com uma criança, fazia com que Greg pensasse mais intensamente em se casamento. Ousava até imaginar os dois adotando uma criança, que seria tão adorável quanto Rosie.
- Lembra-se de quando me chamou para te ajudar a cuidar de Rosie? – Greg perguntou olhando fixamente para o namorado.
- Claro que sim, você me salvou. – o funcionário do governo sorriu carinhosamente, alisando a mão mais próxima do outro.
Os dois estavam pagando os bolos e chás que seriam consumidos, enquanto a menininha já tinha se aconchegado à uma das mesas, esperando pelos tios.
- Aquela noite, falamos sobre filhos...
- E nós dois dissemos que não sabíamos o que estava por vir. Eu lembro muito bem. – Mycroft não deu tanta atenção.
Dirigiram-se para a mesa e Greg tentava encontrar as palavras certas para perguntar sobre o assunto.
- Gostaria de saber sua opinião atual sobre o assunto. – sentaram-se deixando a menina entre eles.
Mycroft o olhou com um sorriso divertido. Sabia que o homem sempre ficava sensibilizado quando cuidava de Rosie, porém não imaginava que tal sentimento evoluíra ao ponto do desejo por filhos aflorar.
Antes que falasse alguma coisa, relembrou o restante da conversa que tiveram na noite mencionada, em seu Palácio Mental. Greg dissera "Se eu entrar em um relacionamento saudável e me sentir seguro, posso considerar."
Aquilo significava... Ele considerava o relacionamento que tinham como saudável e sentia-se seguro. Não era algo inesperado, pois os últimos meses foram os melhores de suas vidas, porém constatações como aquelas eram maravilhosas.
Lestrade percebeu a alteração do sorriso do namorado. Antes era divertido e agora era carinhoso. Ficou feliz, pois entendeu ser um ótimo sinal.
- Podemos considerar a ideia. – o funcionário do governo o lançou um olhar amoroso e passou um braço por trás de Rosie até que chegasse ao grisalho.
Ambos deram as mãos e entrelaçaram os dedos.

Rosamund quebrou o clima tão concentrado nos dois ao se jogar levemente para trás, utilizando as mãos dadas dos homens como seu encosto. Percebendo como assustou o casal, riu alto.
- Está ficando igual a Sherlock, nos interrompendo. – Mycroft brincou, fazendo Greg rir.
- Vou conversar com John sobre isso, mocinha. – o grisalho levou a mão livre até a barriga da menina, fazendo algumas cócegas.
- Deixe meus papais fora disso! – ela disse entre risadas, incentivando mais outras no casal.
Todos se divertiam, sendo aquele programa muito mais interessante que apenas comer bolos e beber chás.
Rosie contou aos tios que conversou ao telefone com os pais e que eles voltariam na noite do dia seguinte. Também contou o enredo de mais um episódio de desenho animado e terminou comentando sobre o passeio que fez com Sra. Hudson até a mercearia da rua do lado.
Os dois escutavam tudo atentamente, sendo que Mycroft tinha a mesma mania do irmão e consertava cada pronúncia errada da menina. Ao contrário do que se pode pensar, os Holmes faziam tais correções com muito bom humor, sempre através de brincadeiras e parabenizando a menina quando esta acertava as palavras.

- Vamos pra casa, lindinha? – o inspetor a ajudou a descer do banco em que estava sentada.
- Pra de vocês! – ela bateu um dos pezinhos, pegou uma mão de cada um e foi se dirigindo para a saída.
- Nós não combinamos com a Sra. Hudson, Rosie. – Mycroft sentia-se terrível em negar os pedidos da menina, então sua voz não tinha nem metade da firmeza que deveria.
Os olhos azuis da pequena encaravam os tios, acompanhados de um biquinho de frustração.
- Myc... – Greg estava no mesmo nível do namorado. Os dois sempre amoleciam.
Holmes mais velho olhou Rosamund por mais alguns segundos e logo suspirou fundo, puxando o celular para conversar com a senhoria. Soltou a mão da criança para se afastar um pouco e ter privacidade durante a conversa.
O grisalho cuidava para que a pequena não se afastasse, estavam na calçada, perto do carro do funcionário do governo. Rosie dava pequenos pulinhos, repetindo "ela vai deixar" diversas vezes. Greg tentava conter o riso, porém era impossível ao ver a vontade da garota em passar mais tempo com eles.
Mycroft voltou para perto dos dois, com a feição um tanto preocupada. Imediatamente Rosie interrompeu os pulinhos, fixando os olhos nos de Holmes.
- Ela deixou? – disse infantilmente.
O homem começou a negar com a cabeça, o que a fez soltar os ombros em desanimo. Porém, a voz suave tinha um tom divertido.
- Infelizmente... Ela deixou. – ele sorriu ao ver a mudança súbita de semblante da pequena.
- idiota! – Rosie sorria abertamente, se apressando em abraçar as pernas do tio zombador.
- Rosie! Não pode falar essas coisas. – Greg advertiu, passando uma mão pelo cabelo dela.
- Desculpe. – ela colocou uma mão sobre a boca. Aprendia esses termos com o pai detetive, enlouquecendo John constantemente.
Mycroft abaixou-se um pouco para poder pegá-la no colo. Dessa vez, Greg abriu a porta do automóvel para que entrassem e fossem direto para a casa.

A criança cochilou, como era esperado, enquanto rumavam para a residência do casal. Sabiam que ela acordaria com muita energia em poucos minutos, então resolveram aproveitar o momento de calmaria.
- Se tivermos filhos, devemos lembrar de não deixar Sherlock se aproximar deles. – Greg sussurrou, lembrando-se do termo utilizado pela garota mais cedo.
- Concordo. Até porque, ele ensinaria seu nome errado de propósito. – os dois riram, sabiam que era algo totalmente possível.
- Sabe o quanto te amo, não é? – o inspetor encostou a cabeça no apoio de seu assento, deixando-a levemente de lado para olhar o outro.
- Claro que sei, até porque sinto o mesmo. – Holmes sorriu.
O funcionário do governo esticou o rosto o suficiente para depositar um beijo cálido nos lábios do outro. Sentiu todo o resto desaparecer, como se só houvesse ele e seu amado no mundo.
Tinha a certeza de que poderia enfrentar qualquer novidade ao seu lado, como já vinha fazendo nos últimos meses.    

Everybody's Changing.Onde histórias criam vida. Descubra agora