14.

166 11 0
                                    

Ele...

Minha primeira transformação em lobo havia sido no mínimo, conturbada.
  Lembro-me que aquilo havia doído mais do que eu poderia imaginar, parecia que havia uma fera dentro de mim rasgando meu peito, desesperada para sair, e de fato havia...
  O lobo tomou conta de meu corpo e de minha cabeça, e não me lembro de mais nada depois disso. Quando acordei tudo estava uma bagunça ao meu redor, eu não conhecia aquele lugar e ao prestar mais atenção nas coisas percebi que havia muito sangue e vários corpos ao meu redor.
  Logo meu pai e meu tio me encontraram e me levaram para casa. Em meu quarto tomei um banho e troquei de roupa, ao olhar no espelho percebi que meus olhos, que antes eram verdes como a grama no verão, agora eram amarelos como âmbar e eu sabia que eles não voltariam a ser como antes, nada nunca voltaria a ser como antes...

※ ※ ※

Fomos levados para os calabouços e trancados em celas separadas e bastante afastadas. As celas eram úmidas e imundas, em um canto havia um monte de feno que provavelmente era usado como colchão e não havia nenhuma janela.
  Ao me sentar no monte de feno fiquei imaginando que Dafne passara anos de sua vida em um lugar como aquele e me perguntei como ela sobrevivera tanto tempo em condições tão precárias...
  — Sabe, eu sempre soube que um dia isso aconteceria... — ao olhar na direção que vinha aquela voz desconhecida encontrei um rapaz de olhos azuis gélidos, pele extremamente branca, cabelos negros e uma face de traços arrogantes; quando nossos olhares se encontraram ele abriu um enorme sorriso ao dizer — Olá Arthur.
  — Franz. — rosnei ao finalmente me dar conta de que ele era o filho do general, o garoto que tentara se casar com Dafne... Tudo o que eu mais queria era bater nele até me cansar, mas me obriguei a permanecer calmo e perguntei em um tom casual — Como vai seu pai? Você ainda vive sob a sombra dele?
  — Se há alguém aqui que vive sob a sombra do pai, este alguém é você! — disse ele — À propósito, tem certeza de que ele é realmente o seu pai? A fama de sua mãe não era das melhores e não me admiraria se ela não soubesse quem é o seu...
  Não deixei que ele terminasse de falar, num piscar de olhos puxei Franz contra as grades da cela e minhas mãos rodearam seu pescoço apertando sem parar, infelizmente Franz era um vampiro e não poderia morrer, não daquela forma...
  — Ora, ora! — sorriu ele em meio às gargalhadas — Mas não é que o garoto virou um homem...
  — Onde está minha esposa? — rosnei farto de ouvir a voz de Franz, ele continuou rindo e minha fúria aumentou ainda mais — Se você não me disser onde Dafne está eu juro que vou...
  — Vai o quê? — perguntou Franz, o sorriso desapareceu de seu rosto — Caso você esteja pensando em fugir eu lhe aconselharia a descartar essa ideia, feiticeiras muito antigas e poderosas lançaram seus feitiços sobre essas masmorras, tornando a fuga impossível, o lugar é encantado para fazer qualquer um que tente sair morrer da pior maneira.
  Relutei um pouco antes de soltar Franz, minha vontade era de matá-lo naquele momento mas eu precisaria de muito mais do que apenas minhas mãos para aquilo. Ao finalmente se ver livre Franz ajeitou sua roupa, deu um passo para trás e sorriu de uma forma provocativa ao dizer:
  — Você combina com esse lugar...
  — E sua cabeça empalhada combina com minha lareira. — retruquei, o que o fez sorrir:
  — Mesmo às portas da morte você não abaixa sua cabeça... Gosto disso, mas se eu fosse você começaria a pesar mais no que diz, às vezes ficar calado garante sua sobrevivência... — fiquei calado observando Franz, naquele momento tudo o que eu mais queria era matá-lo mas antes disso eu precisava me certificar de que Dafne estava viva e bem... — Enfim, vim aqui para lhe convidar para meu casamento com minha adorável Dafne mas acabo de me lembrar que você não poderá comparecer pois tem um encontro marcado com a morte... Que lástima...
  Franz sorriu mais uma vez e foi embora, mesmo após sua partida fiquei com meu olhar fixo no local onde ele estava alguns segundos atrás. Franz obrigaria Dafne a se casar com ele, e isso eu tinha que impedir...
  — Precisamos sair daqui. — disse Joshua de sua cela, parecia até que meu irmão estava lendo meus pensamentos.
  — E como vamos fazer isso? — perguntei olhando em volta, procurando por qualquer saída.
  — Como dizia nosso amado avô, os melhores planos são aqueles arquitetados de última hora. — havia um tom de humor em sua voz, mesmo sem ver seu rosto eu sabia que Joshua exibia um sorriso travesso para a escuridão e não pude deixar de sorrir também...

A Garota No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora