13.

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Ela...

Eu já estava completando meu primeiro ano naquele inferno, e como fazia todos os dias fiquei apenas deitada no chão esperando hora em que o filho do mercador decidisse se divertir. Fiquei ouvindo os barulhos ao meu redor, os sons das garotas que haviam chegado a pouco tempo e tentavam escapar a qualquer custo, os poucos sons que as garotas que assim como eu já estavam lá a um certo tempo e já haviam se conformado com a vida que agora tinham, e havia também o som daquelas garotas doentes e que morriam lentamente em pura agonia, aquele era de longe a coisa mais horrível para se ouvir...
  — De todos os futuros que imaginei para você, esse era o que eu menos apostava... — ao olhar para o corredor fora de minha cela vi o tal amigo de minha mãe, o tal Vlad.
  — Veio fazer mais uma visita de amigo da família? — perguntei com o sarcasmo evidente em minha voz, logo depois gesticulei para o ambiente ao meu redor e prossegui — Como você mesmo pode ver não há mais nenhum Rolfe aqui além de mim, e se as coisas continuarem do jeito que estão, irei fazem companhia para eles em breve.
  — Pensando assim você não irá muito longe. — disse ele em um tom reprovador, exatamente como um pai faria.
  — Pensar positivo não irá me tirar daqui. — falei ao lhe lançar um olhar raivoso.
  — Por que está agindo assim Dafne? — perguntou ele ao me lançar um olhar intrigado e preocupado — Você não era assim, você era doce, era gentil, não respondia mal nem a mais vil das criaturas...
  — Quem é você para me dizer quem sou ou quem deixei de ser? — falei ao me aproximar das grades e colocar meu rosto entre as barras de metal para poder olhar em seus olhos frios — Você mal me conhece, mal sabe quem sou e sinceramente, duvido que um dia tenha conhecido meus pais.
  — Você está assustada, — disse ele em um tom tranquilo — está com raiva, não sabe o que fala, por isso não levarei à sério isso o que acabou de dizer...
  — E quem é você para considerar ou não o que eu digo ou deixei de dizer?
  Eu nunca havia agido daquela maneira, nunca havia falado com ninguém daquela forma, mas havia algo naquele homem, algo que eu não sabia o que era e que me irritava profundamente; eu não sabia quem ele era, mas sentia uma vontade enorme de tomar todo o seu sangue e não deixar nenhuma gota para trás, se é que sob aquela pele extremante branca houvesse alguma gota de sangue...
  Ouviu-se o barulho do molho de chaves se agitando e olhei na direção do som apenas para ver um dos carcereiros fazendo umas das muitas rondas diárias, naquele momento tive certeza de que aquele era o fim de Vlad e consequentemente o meu também, mas ao olhar em sua direção novamente percebi que ele havia sumido, como se nunca tivesse estado lá...

※ ※ ※

Haviam me levado de volta para o reino onde eu havia crescido, onde tudo havia começado...
  Franz havia nos levado até o palácio, apesar de tudo estar igual havia algo de diferente mas eu não sabia o que... Ao reparar na forma com que as pessoas se comportavam com Franz percebi que ele possuía um cargo de respeito entre os vampiros e ao perceber que eu o observava, ele sorriu ao dizer:
  — Fique calma Dafne, ainda lhe darei aquela vida de rainha que prometi à seu pai. — ele esticou a mão para me tocar e eu me esquivei, o sorriso de Franz cresceu ainda mais, parecia que quanto mais eu me negava, mais ele gostava...
  Fui levada à um quarto gigantesco e luxuoso onde, assim que entrei, ouvi as portas serem trancadas; poderia ser pior... , pensei comigo mesma, afinal, eu já havia ficado em locais bem mais deploráveis. Duas criadas extremamente pálidas entraram no quarto com uma bandeja em mãos, haviam várias iguarias dispostas apenas para mim e apesar do som incessante de meu estômago implorando por qualquer coisa, até mesmo um pedaço de pão velho, me recusei a comer qualquer coisa que viesse de suas mãos nem deixei que elas me tocassem, se havia uma coisa que eu aprendi com os lobisomens essa coisa era: nunca, em hipótese alguma, confie em vampiros!
  Conforme o dia ía chegando, pude perceber pelos sons que o palácio ía perdendo a vida, mais que depressa uma das garotas fechou as cortinas pesadas quando a luz do sol começou a entrar no quarto, assim que se viu à salvo de sua única fraqueza ela se voltou para mim e disse:
  — Milady, a senhorita precisa comer, não pode...
  — Não vou comer nada que tenha sido preparado pelas mãos de um vampiro! — falei — Não confio na sua corja, não confio nem um pouco na sua raça...
  — Se ela quisesse te matar, já teria matado. — ao olhar em direção à porta vi uma figura alta e esguia de pele extremamente pálida, cabelos dourados e olhos azuis gélidos, aquele vampiro era Vlad, o "amigo" de meus pais... — Demétris é uma de nossas melhores caçadoras, sabe como acabar rapidamente com sua vítima.
  — E porquê ela não me mata? — questionei ao lhe lançar um olhar frio e erguer o queixo.
  — Porque se ela a matar, eu mesmo a matarei.
  — E por que você se importaria se ela me matasse ou não? — perguntei ao erguer as sobrancelhas enquanto aquelas garotas saíam do quarto.
  — Por que eu sou seu pai. — respondeu ele como se aquelas fossem as palavras mais naturais do mundo.
  — O que? — perguntei achando aquilo tudo muito ridículo — Eu já tenho um pai, e o nome dele era Heitor Rolfe!
  — Dafne, eu sei o quanto isso pode ser estranho, mas eu sou o seu pai, Heitor apenas lhe criou...
  Ele tentou se aproximar e eu recuei assustada, num movimento rápido abri as pesadas cortinas e o quarto inteiro se iluminou, a luz do sol banhou todo o ambiente e quando tocou o vampiro não lhe ofereceu nenhum incômodo, o que me deixou completamente sem ação, que droga de vampiro era aquele que não se incomodava com a luz do sol?! Ele deu mais um passo em minha direção e perguntei assustada:
  — O que é você?
  — Como eu lhe disse a alguns anos atrás, meu nome é Vlad Vaubadom, mas sou mais conhecido como Conde Drácula. — respondeu ele em um tom calmo — Eu sou o primeiro vampiro a caminhar sobre a Terra.
  — Se você é meu pai, — falei ainda desconfiando daquele homem e sentindo o medo invadir cada fibra de meu corpo — então quem é a minha mãe?
  — Jasmine Rolfe. — respondeu ele.

A Garota No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora