11.

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Ela...

Era meu aniversário de 15 anos e eu não estava com a mínima vontade de comemorar.
  — Tem certeza Dafne? — perguntou minha irmã pela centésima vez, e isso só naquele dia.
  — Sim, eu tenho. — respondi — Mamãe está morta, papai vive afundado em um poço de tristeza e a cada três meses temos que nos mudar. Não há motivos para comemorar, eu pelo menos não vejo nenhum...
  — Pois eu vejo! — respondeu ela se colocando à minha frente.
  — E qual seria o motivo miraculoso que só você consegue ver? — perguntei cruzando os braços sobre o peito.
  — O papai. — respondeu ela — Como você mesma disse ele vive afundado em um poço de tristeza, Tristan e eu tentamos de tudo para alegrá-lo mas apenas você consegue fazê-lo sorrir de verdade... por favor Dafne, faça isso pelo papai...
  — Eu não quero comemoração nenhuma! — falei após passar um longo tempo calada — Já está decidido.
  Não esperei pela resposta de minha irmã, simplesmente saí de casa e fui andar pela floresta, Tristan brincava no riacho que havia ao lado de nossa nova casa e meu pai estava na cidade trabalhando com o padeiro.
  Para muitas pessoas uma floresta e um bosque eram completamente diferentes, para mim eram a mesma coisa: natureza em seu estado mais puro e mais bonito, solo sagrado, algo para ser respeitado... A floresta protegia aqueles que a amavam, eu não só a amava como também a respeitava e cuidava dela o máximo possível...
  Enquanto caminhava pude sentir uma brisa suave acariciar meu rosto, as raízes das árvores se enroscavam de uma forma carinhosa em meus pés e eu sorri ao acariciar o tronco da árvore mais próxima, aquela era a forma da natureza me desejar feliz aniversário...
  Caminhei até um rio que havia ali por perto e me sentei às suas margens observando suas águas correrem, por um instante imaginei o que aconteceria se eu simplesmente fosse embora à procura de Arthur mas logo retornei à realidade, meu pai estava devastado e arrasado, Isobel era uma desmiolada e Tristan era apenas uma criança, ele precisava que alguém tomasse conta dele, todos precisavam, e além de tudo isso, minha história com Arthur estava acabada, já havia acabado há muito tempo atrás...
  — Está um belo dia, não acha? — assustada me voltei na direção daquela voz desconhecida e me deparei com o homem loiro de olhos azuis que eu havia visto no dia de meu casamento com Arthur, ele exibia um sorriso em seus lábios e perguntou ao se sentar ao meu lado — Porque está aqui sentada sozinha? — permaneci calada observando a água e quando ele percebeu que eu não iria responder, disse — Não vai me responder?
  — Quem é você? — questionei ao me voltar para ele.
  — Não se lembra de mim?
  — É claro que me lembro. — respondi — Digamos que você seja alguém bastante difícil de se esquecer, mas saber apenas que você é um suposto amigo da minha mãe não basta.
  — Suposto amigo? — questionou ele ao erguer as sobrancelhas.
  — Sim, suposto amigo, eu conheci todos os amigos de meus pais e ouvi várias histórias sobre os que não pude conhecer, mas sobre você meus pais nunca falaram nada... — ele continuou me olhando da mesma maneira e eu revirei os olhos — Eu nem mesmo sei o seu nome!
  — Vlad Vaubadom ao seu dispôr senhorita. — respondeu ele ao se levantar e fazer uma reverencia pomposa.
  — Isso já é um começo... — falei completamente indiferente à sua educação e seus bons modos, eu havia sido criada num bosque, não num palácio, para mim aquilo não fazia a menor diferença.
  — Mais alguma pergunta? — disse ele ao se sentar novamente.
  — Muitas. — respondi — Mas a principal é: o que diabos queres comigo senhor Vaubadom?
  — Por ora, apenas lhe dar um conselho. — fiquei olhando para ele, apenas esperando o tal conselho, e ele olhou no mais profundo de meus olhos ao dizer — Não volte para casa, não hoje.
  Assim que a última palavra saiu de sua boca pude ouvir o grito apavorado de Isobel, imediatamente me coloquei de pé e corri pela floresta. Ao retornar à minha casa me dei conta do que estava acontecendo, me dei conta de que meus pesadelos se tornaram realidade, os mercadores de escravas nos encontraram...

A Garota No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora