7.

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Ela...

Minha mãe me ajudou a vestir o vestido branco e arrumou meus cabelos, ela colocou em minha cabeça uma coroa feita de Chuva de Prata e em meu pescoço ela colocou um colar que possuía uma única pedra de rubi, a única jóia que ela possuía... Quando eu já estava pronta, minha mãe sorriu e disse:
  — Minha pequena rosa... você está tão linda...
  Sorri e sequei a lágrima que havia escorrido pelo seu rosto, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa à ela meu pai apareceu na porta do quarto com um buquê de lírios laranja em suas mãos, e assim que me viu, sorriu ao dizer:
  — A noiva está pronta? 
  Fiz que sim e caminhei até meu pai,  ele me entregou o buquê e demos as mãos ao descer as escadas, logo depois fomos para a varanda de onde vi Arthur e Tristan nos aguardando embaixo da grande árvore que havia visto várias gerações da família Rolfe. Isobel ia à minha frente jogando pétalas de rosas brancas pelo chão onde eu iria passar e minha mãe caminhava logo atrás de nós.
  Arthur abriu um sorriso enorme quando parei à sua frente e meu pai colocou minha mão na sua. Minha família se reuniu ao nosso redor sob a sombra da grande árvore e então meu pai começou a celebrar a cerimônia de casamento, tudo era muito simples mas ainda assim muito bonito. Uma brisa suave soprou e com ela veio o doce aroma de flores que nem eu mesma sabia identificar, durante toda a cerimônia tive a sensação de estar sendo observada mas resolvi deixar aquilo de lado pois haviam quatro pares de olhos em mim e em Arthur – isso sem contar com o próprio Arthur que me olhava com um sorriso enorme em seus lábios...
  — Arthur Wayland,  — disse meu pai — você promete que fará minha filha feliz?  Promete que fará o possível e impossível para que ela tenha sempre um lindo sorriso estampado em seus lábios? Promete que nunca a fará chorar?
  — Eu prometo senhor Rolfe.  — disse Arthur se voltando para meu pai.
  — Dafne, tem certeza de que é isso o que você quer para a sua vida?  — meu pai sabia a resposta, mas queria ouvir de minha boca.
  — Sim, eu tenho. — sorri ao olhar nos olhos de Arthur e perceber que aquela havia sido a maior verdade que eu já havia dito em toda minha vida...

※ ※ ※

Dean me jogou na cama com violência e ficou andando de um lado para o outro, enquanto isso fiquei calada apenas observando-o e quando tomei coragem para dizer algo, ele disparou:
  — O que você tinha na cabeça?! O que estava pensando?! — seu corpo inteiro estava tenso e suas mãos tremiam por causa da raiva — Você tem ideia do que eu fui obrigado a fazer?! Eu matei um vampiro em seu próprio território e isso pode resultar em uma guerra que demoraria muito mais tempo para chegar e tudo isso apenas para lhe proteger! 
  — Então porque me salvou?! — suas palavras fizeram meu sangue ferver e falei sem pensar, Dean me olhou surpreso e aquilo me deu ainda mais motivos para prosseguir — Você já parou para pensar que talvez eu estivesse lá por algum motivo?! Já parou para pensar que talvez eu não quisesse ser salva?! 
  Dean me olhou surpreso, o silêncio tomou conta do quarto e eu me encolhi na cama com medo do que ele poderia fazer.
  — O que quer dizer com isso? — perguntou ele finalmente, a raiva havia o abandonado por completo e em seu tom de voz restava apenas a dúvida.
  — Fui capturada pelos mercadores de escrava quando tinha quinze anos, desde então não sei mais o que é liberdade... — falei finalmente — tudo o que eu mais quero nesse mundo é ser livre novamente e... — respirei fundo e olhei no mais profundo de seus olhos cor de âmbar ao completar — talvez a morte traga essa liberdade que tanto almejo...
  Dean passou um longo tempo me olhando de uma forma surpresa, o único som no quarto era o de minha respiração pesada e eu estava com medo até mesmo de me mover. Passamos um bom tempo assim até que Dean saiu do quarto, e durante o longo tempo em que ele passou fora não arrisquei me mover, apenas fiquei ali, parada olhando para a porta.
  Quando Dean retornou ele estava com o livro púrpura que eu havia tentado inutilmente descobrir o título em suas mãos e disse ao estender o livro para mim:
  — Não posso lhe oferecer sua liberdade, mas em partes entendo como se sente, também me sinto preso e sempre que me sinto assim consigo escapar pelas páginas de um livro... — passei um longo tempo fitando seus olhos cor de âmbar sem dizer nada, e pela primeira vez desde que o conheci, vi Dean corar um pouco sob meu olhar — Olhe, eu sei que um livro não é nada comparado à liberdade de uma pessoa, mas... é o melhor que tenho para te oferecer.
  — Eu não sei ler. — respondi quando Dean insistiu para que eu pegasse o livro, ele me lançou um olhar incrédulo e eu encolhi meus ombros ao dizer sem olhar em seus olhos — Fui criada no campo, nem mesmo meus pais sabiam ler, meu pai tinha a esperança de que com um bom casamento eu aprendesse tudo o que na infância não pude aprender, mas... — dei um sorriso fraco e fitei aqueles olhos amarelos que me eram tão familiares mas que eu não me recordava de onde... — nada disso nunca aconteceu...
  Sem dizer uma palavra Dean se sentou ao meu lado e começou a me falar sobre as letras, sobre o som de cada uma delas e como quando unidas elas formavam todas as palavras que existiam... Fomos madrugada à dentro assim, após algum tempo meus olhos começaram a pesar por causa do sono, quando o cansaço começara a me vencer recostei minha cabeça em seu ombro e ele ficou tenso e surpreso ao mesmo tempo mas logo se acalmou e fez de tudo para me deixar o mais confortável possível.
  A voz de Dean foi me embalando até que o sono finalmente me venceu e fui jogada em meus sonhos onde Arthur sempre me aguardava com um sorriso enorme em sua face de criança...

A Garota No BosqueOnde histórias criam vida. Descubra agora