Capítulo IV - Cinderela

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Cinderela 

Por: Arabella Wallis 


Till April in Paris,

whom can I run to?

What have you done to my heart?

Ella

Eu nunca tinha pensado na possibilidade de me casar antes dos trinta anos. Era uma realidade distante, guardada em uma pequena caixa cheia daquelas coisas que sonhamos e guardamos para depois. Para pensar em outra hora. Para o dia de amanhã.

E se o amanhã fosse hoje?

E se esse fosse meu vestido de casamento?

Branco, rodado e cheio de renda. Olhando-me no espelho, eu realmente parecia uma linda noiva. O cabelo preso em um coque perfeito, com um grande véu esvoaçante, um sorriso enfeitando meu rosto perfeitamente maquiado e os olhos brilhando por um amor muito bem correspondido. Exceto que este não era meu dia e este não é meu vestido especial.

Era, certamente, o vestido de uma alguma noiva sortuda que o levaria para casa. Mas eu somente o vestia para fazê-lo parecer mais atraente que um cabide, enquanto o fotografo escolhe meus melhores ângulos. Essa era minha vida agora, a vida que eu escolhi.

Do canto, perto da porta, Jake me observa com um olhar brilhando de admiração e encanto. Não por enxergar nosso futuro em um vestido bufante de noiva, mas porque ele sempre manteve esse olhar para mim, algo que nem eu sou capaz de descrever, mas que me mantém acordada todas as noites sonhando com ele.

Jack Farrel ainda me causava frio na barriga.

-TEMOS! – O fotografo gritou, sorrindo como lúcifer, o gato que roubei da minha tia, faz em seus momentos de pura maldade. O sorriso da vitória. – Obrigado por hoje, pessoal. Você foi maravilhosa, Ella. Vou mandar o material ainda hoje.

- Obrigada. – Sorri, satisfeita com meu trabalho, mas agradecendo que eu pudesse apenas ir para casa hoje.

- Eu passei por uma igreja no caminho para cá... – Jack me surpreendeu, impedindo que eu saísse do lugar. – Se você me aceitasse, chegaríamos lá em 15 minutos e depois que você se tornasse a sra. Farrel... – Ele se aproximou, passando uma mão por minha cintura e depositando um beijo molhado na minha bochecha – eu tiraria este vestido lentamente de você, em um voo particular para passar a nossa lua de mel em qualquer lugar que você queira. – Sua barba arranhava em meu rosto enquanto ele falava, fazendo com que as sensações fossem diretamente para a área abaixo da minha cintura.

- Você é tentador, Jack... – Puxei seu rosto para beijar seus lábios, sorrindo. – Mas eu posso ir tirar esse vestido complicado e vestir minha saia, sem nada por baixo e que você tem muito mais facilidade em tirar.

- Não me provoque Ella... – Ele mordeu meu lábio, me deixando ir após um leve tapa em minha bunda. –Vou te esperar aqui, mas quero conferir no carro se você realmente tem palavra.

- Nenhuma calcinha para você, meu amor. – Confirmei, sorrindo enquanto caminhava até o banheiro.

...

Eu acho que, na verdade, nós nunca superamos. O passado vai estar sempre ali, a espreita, como um monstro em baixo da cama. Nossos medos, anseios... Eles continuam a nos atormentar de sua própria maneira.

Eu não culpo Sra. Tremaine por tudo que aconteceu, tampouco eu me culpo. Hoje eu vejo que nós temos parcelas iguais. "Ninguém é de fato inteiramente bom. Pelo menos é o que eu acho. Tentar ser bom, ou menos tentar não ser mau, provavelmente é o mais perto que conseguimos chegar". Ela me dominou tanto quanto eu me deixei ser dominada.

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