Chapter 10 - In love for the first time.

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Depois do incidente do começo da semana, o tempo passou até que depressa. Malory não sentiu mais aquela presença a espiá-la em tudo quanto era canto. E ainda que tivesse de voltar para casa a tempo de cuidar dos gêmeos e ajudar no jantar, deu um jeito de poder se encontrar com Justin todos os dias, na saída da escola. Felizmente, ele não fez mais perguntas. Os dois gastavam o tempo falando de música, de arte, das coisas que Shella e as amigas com certeza estariam aprontando, ou de qualquer outro tema capaz de fazê-los rir.

Até chegar o sábado, por mais incrível que pudesse parecer, já estava se sentindo na verdade quase semi decente.

O dia amanheceu nublado, com um chuvisco constante. Malory vistoriou as nuvens pesadas pela janela, enquanto passava a ferro a camiseta azul-turquesa.

- Eu pensei que não chovesse nunca na Califórnia – Tommy resmungou de mau humor, assistindo desenho animado no sofá, ao lado de Mike.

- Só chove quando você quer muito ir lá fora - Malory respondeu brincalhona, desligando o ferro e tirando o fio da tomada. Estava decidida a não deixar que nada, nem mesmo o tempo horrível estragasse seu dia.

- Detesto ter de lhe pedir isso, Malory, mas acha que pode ficar em casa, hoje? - a mãe lhe perguntou como quem não quer nada, enquanto punha a mesa do café. - Se os meninos vão passar o dia aqui dentro de casa, vou precisar de um pouco de ajuda.

Malory ficou gelada. Ia se encontrar com Justin às dez horas. Eu não vou cancelar esse encontro de jeito nenhum. Respirou bem fundo.

- Desculpe, mãe - respondeu, baixinho. - Já tenho planos para hoje.

- É mesmo? - A mãe parecia ligeiramente surpresa. – O que é que você vai fazer?

- Bom, vou até a casa da professora Lerner às dez. – Malory tinha a mentira pronta. - Ela disse que eu podia estudar piano o dia todo, hoje, caso eu quisesse. Depois eu ia dar um pulo à biblioteca para estudar.

- Bom, e por que você não estuda aqui mesmo em casa? - a mãe sugeriu.

- Porque estou fazendo um trabalho de escola e preciso usar os livros de referência da biblioteca. Além do mais, mãe – Malory acrescentou, sem faltar com a verdade -, as coisas estão meio congestionadas por aqui. É meio difícil concentrar.

Malory já tinha inclusive um falso assunto para seu trabalho: dez páginas sobre Mozart, para o professor de história. Sabia que a mãe engoliria a mentira. Mas a mãe limitou-se a sorrir e dizer:

- Está certo, querida. Eu compreendo.

- Obrigada. - Malory tentou não soar aliviada demais. Sabia que a mãe estava mais preocupada que de hábito; sempre ficava mais sobressaltada nos fins de semana, quando tinha o tempo menos estruturado. Mas nada iria impedir Malory de passar o dia com Justin.

Quase que para compensar o engodo, Malory pôs-se a limpar furiosamente. Poliu a mesinha da sala, que Tommy e Mike viviam deixando grudenta e nojenta. Daria mais dez minutos do seu tempo aos afazeres domésticos, depois sairia para encontrar-se com Justin, no lugar marcado.

Justamente nesse momento, o interfone tocou. Havia alguém na porta lá embaixo.

Malory parou de esfregar. E olhou apreensiva para a mãe.

Quem poderia ser? Ninguém sabia onde moravam. Ninguém a não ser algumas pessoas do FBI. Tinham apenas um número de caixa postal, para receber a correspondência da escola.

Com toda cautela, Kathryn Hunter tirou o fone do gancho e perguntou:

- Quem é?

Através da ligação toda cheia de estática estalou uma voz familiar pela sala.

- Justin Bieber. Sou amigo da Maddy.

O medo fugaz que Malory sentira foi substituído por um tipo diferente de temor: o de ser descoberta pela mãe. No mesmo instante atirou-se sobre o aparelho.

- Eu desço já - gritou.

A mãe olhou-a confusa.

- Malory, eu não sabia que estava esperando um amigo...

- Ah, é o filho da professora... ele está no mesmo ano que eu. Esqueci. Ele me ofereceu uma carona - Malory interveio rápido, inventando à medida que falava. Por que ele decidiu vir até o apartamento? E como descobrira qual era o número? Mas não podia se preocupar com esse tipo de coisa agora. - Ele tinha um compromisso e era caminho - concluiu.

Kathryn Hunter mordeu o lábio.

- Bom, eu fico contente - disse ela, incerta. - Mas você sabe que não podemos deixar que ninguém fique sabendo o nosso endereço...

- Não se preocupe - Malory começou a dizer, enfática, com a intenção de encerrar o assunto.

- A Malory tem um namorado! A Malory tem um namorado! - os gêmeos entoaram em coro.

- Quieto os dois! - disse ela, ficando vermelha como um pimentão. Pondo um abrigo azul de náilon, para se proteger da chuva, correu para a porta.

- Acho que seria melhor se você me apresentasse a esse seu amigo. Por que não o convida a subir? - disse Kathryn Hunter, examinando mais de perto o rosto ruborizado da filha.

- Mãe, ele não é um amigo... ele é só o filho da professora Lerner. Agora eu tenho de ir. - Malory embarafustou pela porta, antes que a mãe pudesse lhe fazer alguma outra pergunta.

- A que horas vai voltar?

- Eu dou uma ligada!

Sentindo-se leve e livre, voou escada abaixo até onde Justin esperava, na porta do prédio. Em instantes estava do lado de fora, quase a ponto de se atirar nos braços do rapaz.

- Oi! - exclamou, os olhos azuis escuros cintilantes de felicidade.

- Oi - disse Justin.

De repente, os lábios dele estavam tocando nos dela, delicadamente a princípio, depois com intensidade maior. Os corpos se uniram também, durante o beijo, agarrados um ao outro como se nada mais no mundo existisse.

Recobrando o bom senso, Malory afastou-se e olhou em volta. Justin não pareceu reparar.

- Cara, que bom te ver - ele sussurrou.

- Também acho - Malory cochichou de volta, ainda abalada com a paixão do beijo de Justin. - Mas, espere... o que está fazendo aqui?

Ele sorriu.

- Por quê? Não está contente de me ver?

- Não. - Ela sacudiu a cabeça, confusa. - É que... por que veio me buscar em casa? Como conseguiu meu endereço? Quer dizer, meus pais ficariam malucos se...

- Escuta, Maddy, não foi muito difícil descobrir qual era o seu apartamento. A única campainha sem nada escrito; vocês ainda não tiveram tempo de pôr o nome - ele interrompeu, seco.- E eu vim apanhá-la aqui porque... estava esperando que você voltasse atrás e me apresentasse a seus pais. Achei que já que você conhece a minha mãe, eu podia ficar conhecendo a sua.

- Mas... mas... a sua mãe é minha professora - Malory resmungou. - Claro que eu tinha de conhecê-la.

Justin parou de andar. Por alguns instantes, deu a impressão de quase estar bravo. Depois disse:

- Claro que sim. - Virando-se, começou de novo a andar em direção ao jipe.

Malory não sabia o que dizer. Queria ficar brava com ele. Afinal de contas, ele descobrira onde ela morava sem sua permissão. Mas não era culpa dele. Nada era culpa dele. Naquele momento, quis correr de volta até o apartamento e gritar para a mãe, para o mundo, que estava apaixonada por Justin Bieber.

Sim. Agora percebia. Era exatamente isso o que sentia. Estava apaixonada. Pela primeira vez na vida, Malory Hunter estava apaixonada.

Chegando ao carro, Justin estancou.

- Você vem ou não?

Ela atravessou correndo a rua e entrou no jipe.

The Secret of MaloryOnde histórias criam vida. Descubra agora