Tudo Aconteceu no Bar! Crônicas Cariocas

Pirola! (in Memorian)

Chegaram ao bar, sentaram e quando fui atender tive certeza que conhecia o rapaz de algum lugar. Voltei com a cerveja e sem dúvida alguma disparei: "Você morou há 25 anos na Rua Flack?".
Morei nessa rua, no subúrbio carioca, dos onze aos dezessete anos. Local aprazível demais.
Espantado diante de minha pergunta, ele disse que ainda morava por lá. Pedrinho, irmão de Renatinho, foi meu vizinho quando por lá morei. Eu muito mudei, mas ele permanece o mesmo. Conversamos, conheci as pessoas à mesa e fiquei feliz por reencontrar alguém de meu passado.
O dia transcorreu normalmente e no intervalo dos músicos, enquanto eu conversava com Zeca, Paulinho veio despedir-se. Quando ele saiu, fui contar para o Zeca sobre o reencontro.
Quando falei da Rua Flack, Zeca me olhou surpreso e disse: "Minha irmã, você morou na Rua Flack, na estação do Riachuelo, no Rio de Janeiro?"
Diante de minha afirmativa, Zeca me contou que morou lá por muitos anos, que isso era muita coincidência.
Ele não sabia o que ainda estava por vir.
Começamos então a falar sobre a rua, o bairro.
Quando fui morar lá, com cerca de 10 anos, Zeca já havia saído.
Foi então que falei para o Zeca que ele deveria ter me conhecido ainda criança, pois a família de papai sempre morou na vizinhança, meu pai crescera na rua vizinha, a Barbosa da Silva.
O dialogo que aconteceu a seguir foi surpreendentemente emocionante.
"Voce deve ter conhecido meu pai, Zeca."
"Pode ser. Quem era seu pai?"
"Ele tinha um apelido engraçado, acho que talvez você o tenha conhecido como Pirola"
Silêncio.
Zeca emudeceu e seus olhos encheram-se de água.
Eu nem esperei para saber o motivo e também já me emocionei.
"Minha irmã" – interrompeu Zeca. "Seu pai e eu fomos amigos de infância e juventude, jogávamos bola juntos"
E mostrou-me o arrepio que lhe percorria o corpo, enquanto olhava para o quadro de São Jorge na parede e agradecia.
Os que estava ao redor não puderam conter a emoção.
De alguma forma temos certeza que papai, de onde quer que ele esteja, deu um jeito de nos conhecermos e, mais que isso, de sabermos quem éramos.
Coisas da vida.

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