Sunguinha

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O calor era de matar lá fora, mês de janeiro, Rio de Janeiro, 50 graus.
Ele chegou para ser atendido praticamente sem roupa, uma minúscula sunga era o que lhe cobria o corpo nada sarado.
Era dia do Festival de Camarão e naquele mês havia uma promoção especial.
Casa cheia, cerveja gelada, animação desfilando de mesa em mesa.
No balcão umas mulheres de meia idade, mais animadas, bebiam despreocupadamente, cantarolavam e mexiam com rapazes que passavam pelos corredores.
Quando o Sunguinha resolveu pagar sua despesa, veio ao balcão e se deparou com a mulheres animadas. E a animação dobrou e as piadinhas rolaram soltas sobre o traje minúsculo dele e ele todo bobo, se achando todo lindo começou a paquerar todas elas, na esperança de sair com ao menos uma, acredito eu.
A conta foi esquecida e ele abandonou os amigos da mesa e começou a beber com as "meninas" (termo usado por ele de forma carinhosa e que vou adotar para nomeá-las).
E os amigos da mesa recomeçaram a beber e as meninas seguiram bebendo junto com o Sunguinha que a esta altura já era alisado no peito por uma, apalpado nas nádegas por outra.
E ele seguia. Todo pavão.
Uma mais atirada o abraçou e ele até tentou ensaiar um beijinho, mas ela sorriu e se fazendo de inocente e saiu do lado dele.
Eu seguia servindo cerveja e rindo da situação.
Eles cantaram músicas dos anos sessenta, sambaram ao som do samba campeão do último carnaval, discutiram sobre times de futebol, falaram sobre política e ele tentava agradar a todas. Parecia uma metralhadora naquelas bases giratórias, atirando para todos os lados.
Horas depois ele resolveu finalmente pagar a conta. Aproximou-se do balcão, pagou a conta da mesa onde ficara com seus amigos e quis saber quanto que daria a parte da "morena perfumada", sim a mais atirada, a do quase beijo.
Pronto. Ele pagou a conta dela. Agora ele sairia dali acompanhado. Ou ao menos pensava desta forma.
A promoção, devido ao Festival do Camarão, era de que a cada R$100,00 de consumo o cliente ganhava uma garrafa artesanal temática, feita exclusivamente para a ocasião.
Ele ganhou uma garrafa, demorou na escolha por um dos diversos modelos. Escolheu a garrafa, mas não levou a garrafa.
Quando a menina atirada viu a garrafa nas mãos dele, atirou-se ainda mais, pediu, fez biquinho e ganhou. Ele todo sorridente apertou minha mão, agradeceu e disse em tom de confidência, "é hoje" e saiu disparado em direção à mesa para avisar aos amigos que iria se divertir um pouco com uma nova coleguinha.
O que vi a seguir foi quase que uma maratona. A morena menina atirada saiu rapidamente para um lado, a ruiva sexy pagou rapidamente a conta, a morena magrela correu para outro lado e eu fiquei ali boquiaberta com a rapidez delas. Parecia coreografia muito bem ensaiada.
Quando ele voltou sorrindo a toa, todo GG dentro daquela sunga PP, nem eu estava mais no balcão.
Ele então me chamou e me perguntou se elas tinham ido ao banheiro. Fui contando em câmera lenta a saída ligeira delas. Ele sentou desolado.
Seminu, sem garrafa exclusiva, sem morena.
Saí de perto e o deixei sozinho com suas desilusões.
Soube na semana seguinte, por ele mesmo, que ficou também sem carro.
Na hora que ele foi até a mesa, a chave ficou no balcão e uma das meninas, acho eu, pensou que também era brinde.


Evento mensal realizado no bar.

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Tudo Aconteceu no Bar! Crônicas CariocasOnde histórias criam vida. Descubra agora