Inara analisou com calma o lugar, havia muitas partes da floresta que mostravam uso constante. Talvez caçadores ou lenhadores usassem aquela parte com mais frequência por isso ela precisava de cautela. Procurou um local mais fechado onde pudesse descansar e esperar.
O cheiro da floresta não agradou, ao contrário, lhe causou arrepios. Ignorou esses receios e trabalhou por quase uma hora. Depois de averiguar seu trabalho, procurou uma árvore bem alta, escalou o tronco se apoiando nos pequenos galhos.
Encontrou a uma boa altura um galho grosso e robusto, amarrou suas coisas e deitou se ajeitando até ficar segura. Poderia descansar e ainda fazer vigília. Não precisava se preocupar tanto, as inúmeras armadilhas que armou lhe avisariam sobre companhias indesejadas.
Inara respirou fundo e fechou os olhos se sentindo a solidão como um castigo por sua demora em encontrar o dragão azul. Seus pensamentos voltando àquela sala. Lisse... Sua irmã do meio dependia de seu sucesso para voltar à vida, ou pelo menos para ter a chance de viver. As duas opções eram tristes, porque a cada dia que passava, sua esperança de conseguir trazer Lisse de volta diminuía.
Nesses três meses, nenhuma vila, vilarejo ou aldeia de tribos miseráveis tinha lhe dado algo a que se agarrar.
Rumores de criaturas nas florestas, boatos de rugidos, todas as merdas e Inara perseguiu cada boato que ouviu, descobrindo no final que tudo não passava de medos bobos, geralmente era um javali Bate queixo, ou mesmo cantos de pássaros roncadores. Inara aprendeu que rumores eram sempre exagerados, murmúrios viravam gritos, cantos viravam rugidos, ventos viravam verdadeiros furacões na boca dos contadores de histórias. Sempre muitos rumores a perseguir e nada demais para encontrar, somente perda de tempo.
Até agora... E mesmo assim, era apenas uma pequena esperança. Aquelas escamas podiam já estar ali há muito tempo, e talvez a explicação lógica lhe fizesse novamente descobrir que tudo não passava de lendas.
Sua explicação lógica era que se um encontrou, outros começaram a procurar, e por fim, já sabendo o que procurar outros encontraram e assim... Lendas, boatos e mais uma empreitada atoa atrás de pistas falsas. Talvez o dragão nem mais vivesse naquela floresta, talvez ele nem estivesse vivo, talvez no passado...
...Um pequeno estalo foi o suficiente para Inara abrir os olhos. Pela posição da lua viu que algumas horas tinham passado desde que pegou no sono. Ficou imóvel tentando ouvir algum outro barulho que lhe desse a certeza que não estava só. Com a mente mais clara agora que estava completamente desperta, Inara esperou.
Outro estalo, dessa vez mais perto e Inara se moveu devagar, levou a mão às costas, retirou do pequeno bolsinho uma agulha fina e a fechou na palma, manteve o corpo preparado para o ataque.
— Eu já te vi moça. O que faz aí em cima? Medo dos predadores?
Inara torceu a boca. Ótimo, já estavam à procura das escamas. Não imaginou que teria companhia tão cedo e isso lhe trouxe desanimo, não queria matar, pelo menos por enquanto. Isso deixaria rastros e poderia prejudicar sua busca.
— Moça? Está dormindo?
Ela revirou os olhos, claro que ele sabia que ela estava acordada senão ele não teria falado justamente na hora que ela se mexeu. Sem responder a voz insistente e grave do intrometido, Inara levantou agradecendo pelo galho ser grosso o bastante para não precisar se apoiar, assim manteria a agulha fechada na mão. Pulou no segundo galho mais baixo com agilidade e leveza e o usou para impulsionar seu próximo salto. Quando pulou no chão encarou o homem que parecia surpreso com suas acrobacias, porém não parecia nenhum pouco assustado e Inara fechou a cara, teria que intimidá-lo de outra forma.
— O que quer? Porque está se incomodando comigo?
Os olhos dele avaliaram Inara da cabeça aos pés. — Uma caçadora? Claro que me incomodo. Você está nessa floresta então... Deve estar procurando o mesmo que eu.
Inara franziu o cenho. — Não sou uma caçadora, porque acha isso? E como pode saber o que procuro? Sou apenas uma viajante, meu caro. Estou aqui de passagem.
Os olhos azuis do rapaz brilharam de malícia. — Claro... Claro, é o que todas as mulheres com destreza nos saltos dizem quando são vistas por aqui. Existem muitas por essas bandas, e todas estão sempre de passagem.
Ela compreendeu o sarcasmo na resposta e não insistiu com a desculpa falha. Ainda assim não podia ficar quieta deixando o espertinho lhe pressionar.
— Não te devo explicações. — Falou rude na esperança de que o homem fosse embora. — Posso ter me perdido das outras garotas que saltam galhos com destreza e estão por aqui só de passagem. Ou... — Inara o olhou de torto e falou mordaz. — Posso saber fazer mais do que pular galhos, posso conhecer várias formas de matar um intrometido.
Ela esperou que a ameaça velada finalmente o fizesse seguir seu caminho, mas o rapaz a ignorou. Ficou de cócoras e começou a arrumar um punhado de madeira.
Inara estendeu a mão para avisá-lo sobre o perigo, mas ouviu o estalo da pederneira e quando viu a chama criando vida ficou desconsertada. Ele ia espantar sua presa assim.
— Apague isso, seu idiota!
O rapaz se fazendo de surdo tirou da algibeira um naco de carne e enfiou sem cerimônias no primeiro galho verde que encontrou. Sentou tranquilamente e contemplou sua futura refeição chamuscar no fogo. Somente então deu uma rápida olhada na direção dela, voltando em seguida a namorar sua refeição.
— O que procura já se foi caçadora, está tensa e alerta atoa. Relaxe e sente- se um pouco. Coma comigo.
Inara não podia perder o fio, o rapaz sabia de algo, talvez mais do que ela e pelos seus modos, ele poderia saber algo mais do que as crendices e superstições daquela região, poderia até lhe ser útil. Sim... Era uma hipótese que tinha que levar em conta.
Sem nada a perder, sentou na beira do fogo e encarou o pedaço de carne que começava a chiar no espeto.
— Como pode saber se o que procuramos. — Ela enfatizou a última palavra antes de continuar. — Já foi embora dessa floresta? E outra... Eu nem lhe disse qual minha busca nessa região.
Inara fez sua cara mais inocente enquanto esperava uma resposta e ele como se tivesse todo o tempo do mundo, pegou uma faca pequenina e cortou a carne em duas partes lhe oferecendo uma.
Ela pensou por um momento, os olhos azuis do rapaz estavam fixos nela, a mão estendida com o pedaço de carne parecia até estar propondo uma negociação. Ele só responderia quando ela aceitasse a oferta.
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Meu Deus !! Deu a loka na Isa, me segura!!!
rsrs pronto aqui acabou por hoje :D. Obrigada paciência de vocês ao esperar o terceiro livro.
Esse é o último da saga Sanoar. Garanto pelo menos um cap por semana viu. Beijinhos
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Sanoar 3- Herança Cósmica- (DEGUSTAÇÃO)
FantasyEm sua busca incansável pelo dragão do equilíbrio Inara corre atrás de cada pequena pista, até que perto de Bendize ela perde o próprio dragão e se vê prisioneira. Agora ela precisa correr contra o tempo e arrumar um jeito de reaver Ônix. Em meio...