Trégua

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Ele a encarou por um momento e Inara levantou o olhar para confrontá-lo, precisava de uma explicação para aquela loucura de trazê-la como refém e pensar em sua fuga logo em seguida.

Acabou se distraindo com a visão a sua frente, não tinha reparado que seu turbante tinha caído, e viu uma cascata escura cair pelo rosto de Argo. Não soube interpretar se achava ele mais bonito que antes ou mais parecido com ela.

Cabelos negros e longos... Olhos azuis... Balançou a cabeça. — Vai me responder?

Ele percebeu o interesse nos olhos de Inara, achou graça naquilo, porém respondeu polido.

— Eu a trouxe aqui porque você foi atacada, e seria perseguida pelos guerreiros negros assim que eles encontrassem um local seguro para seu dragão. Era para você se esconder, ser mais discreta no território deles, mas você tinha que parar naquela propriedade...

Inara levantou a mão para que ele se calasse. — Eu precisava de um disfarce. E como eu não os percebi? Nem mesmo meu dragão percebeu o perigo. — Inara franziu o cenho ao se dar conta do significado da resposta dele, ficou furiosa e o encarou empurrando seu peito com força de modo acusatório. — Você estava me seguindo?

Argo não se incomodou com os empurrões, mas também não saiu do lugar. — E dei a pista, não precisei te seguir, só saber qual direção você tomaria, o que claro, você fez lindamente quando mencionei algo de seu interesse, quando segui o mesmo caminho que tomou na floresta, não a encontrei por algum tempo, só que você se demorou naquela propriedade, por isso eu tive tempo de me aproximar o suficiente para ver quando ficou encrencada.

Inara abaixou a cabeça, pela primeira vez se entregando a tristeza, se odiou pela fraqueza, por ter sido tão tola e desesperada por algum resultado. Não se importou com a fragilidade que mostrava, precisava deixar sua angustia sair para ter forças para lutar. Enxugou as lágrimas e falou chorosa.

— Por causa dessa armadilha... Você o tirou de mim, arrancou de mim minha família e agora estou sozinha. Um dia eu irei matá-lo por isso.

— Eu preciso dele, só que eu pretendia tirá-lo de você de outra forma, não era para perceberem a presença de vocês assim tão rápido, minha intenção era outra, eu sabia que você não conseguiria entrar na cidade com um dragão, sem contar que ele ficou escondido quando você estava nas Salinas, então eu ia esperar que o deixasse em algum lugar para entrar na cidade de Bendize sozinha e a partir daí seguiríamos somente o dragão. Mas... — Argo levantou os ombros. — Os outros chegaram primeiro, e você não os percebeu porque estava muito perto do território deles, deve ser alguma magia já que eles se aliaram a pessoas que lidam com isso.

Inara o sondou de olhos cerrados. — Então você achava que ia conseguir capturar meu dragão com um bando de ladrões? — Ela riu e secou os olhos se sentindo até melhor ao ouvir aquela baboseira. — Queria ver isso, juro que sentaria no chão e ficaria somente a observar, faria a soma de quanto tempo levaria para vocês serem destruídos por ele. Se tivesse me dito que sua intenção era esse logo de cara, eu até teria esperado para assistir isso. — Ela balançou a cabeça e apontou um dedo acusatório em sua direção. — Seu bobo, poderíamos até ter feito até uma aposta.

Argo cruzou os braços. — Você é estranha sabia? Ainda não consegui interpretá-la, moça. Nunca sei se está irada ou exultante de alegria. Não sei agora se está calma de verdade ou esconde seu nervosismo. Nem consigo saber se ainda está com raiva.

Inara ia aproveitar a trégua de seu próprio coração que parava de bombear veneno em sua saliva. O interesse de Argo por Ônix poderia lhe ser útil. Sorriu triunfante para ele.

Sanoar 3- Herança Cósmica- (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora