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Pequenas gotas caíam por todo o vale montanhoso afastado de Kattegat. A terra descoberta estava cada vez mais úmida, assim como os cabelos de Siggy e Ivar. A cabeça de Ragnar aparentava ser uma esfera de ferro polido com as cocegas da garoa. Mais um baú foi erguido e posicionado abastecendo a carroça de mão. No entanto, um fora deixado, tal qual mostrava-se mais maciço e maior que os demais. Siggy perdia-se em maquinar maneiras de levá-lo até o centro da vila, assim como estava no desejo de  Ragnar. Contudo, a carroça não possuía mais espaço e forças para tal coisa, nem mesmo para uma pequena moeda de cobre. O jovem Ivar tratou de trabalhar em terminar de amarrar toda a carga muito bem justa com as tirar de couro e cordas velhas que seu pai havia conseguido. Quando tudo estava quase no fim, seus olhos vagaram para o último baú, seguidamente os levou até seu pai que descansava mais uma vez em uma pedra alta e larga como um descanso de trono. O jovem considerou-o quase que um ancião, pois parecia morrer esbaforido por carregar alguns baús, sendo que Ivar  e Siggy tinham feito a grande maioria do trabalho. Ragnar possuía alta estatura, quase um gigante aos seus olhos, mas estava velho, seus melhores dias de força e beleza tinham passado e isto era mais que evidente.  Ao perceber o olhar de Ivar, Ragnar virou-se para ele, que guiou seu observar até o baú. Ragnar inspecionou-o, em seguida deu-lhe de ombros, enquanto isto Siggy cogitava a ideia de arrastá-lo ao lado de seu avô, mas sabia que era praticamente impossível por conta do terreno do vale. Havia muitos morros ingrimes e grandes pedras para se desviar, como era formado grande parte do terreno de seu país. Ivar sentia-se descontente por ter amarrado todo a horda de seu pai em uma carroça de madeira gasta para ser dado como suborno aos homens.  No fundo desejava que os tais viessem como moscas para servir seu pai, mas a realidade era completamente diferente, pois o que ele fizera não havia desculpas para o povo a qual perdera parte de sua família, mas ainda assim Ivar tinha em mente que todos não passavam de covardes ingratos. Tendo suas riquezas graças as expedições de seu pai que levantou toda uma geração de guerreiros pilhados em ouro.

Ragnar levantou-se com dificuldade, mas ao portar-se de pé, aproximou-se de seu filho e neta. Os dois olharam-no esperando alguma instrução. 

-- Este último quero que repartam entre vocês.- Ivar e Siggy entreolharam-se. -- Sei que não paga pelos dias de minha ausência e tudo que perdi enquanto cresciam, mas eu ficaria feliz em dar-lhes um pouco do ouro que fez minha vida mudar. Um dia chegará o momento em que vocês derramarão sangue por um brilho como este. Sei que terão sucesso.- Ragnar olhou seu filho e neta por um breve momento com um pequeno sorriso. -- Contanto que não se matem primeiro.

Dito isso, ele deixou ambos os cabos da carroça em mãos, então começou a empurrá-la, por um instante quase que tombando-a. Siggy rapidamente foi-se para junto a ele colocando suas mãos para segurá-la. 

-- Eu vou com você.- avisou ela. Ragnar retirou ambas as mãos de Siggy da carroça com gentileza. 

-- Fique com Ivar. Trarei a carroça de volta para ajudá-los a levar seu ouro.- Siggy instantaneamente contorceu-se em protesto. -- Vá, vá.- Ela afastou-se de Ragnar relutante e voltou para o lado de Ivar, mas afastando-se dele poucos passos para a esquerda. 

Ambos observaram Ragnar apartar-se e quando não se podia mais vê-lo, Ivar tratou de deitar-se ali mesmo. Siggy permaneceu de pé, ainda observando o rastro de Ragnar que já havia se perdido de vista. O rapaz ergueu-se e suspirou ao ver Siggy encarar o nada. Ivar notara que ela admirava seu pai, mas considerava aquilo um tanto exagerado. Ela jamais o vira antes mesmo de conseguir dizer seu próprio nome, porém agora sentia-se grata por ouvir o ranger de seus ossos. Siggy virou-se para o chão e decidiu enfim sentar-se par esperar Ragnar. Ela decidiu abrir o baú dali mesmo onde estava, Ivar só a observava em silêncio. Tio e sobrinha não tinham trocado muitas palavras durante todo dia, pois sabiam que um provocaria o outro e Ragnar se zangaria outra vez. Para evitar tal situação, ambos decidiram internamente manter-se distantes e incomunicáveis. Siggy explorava o interior do baú calmamente, admirando as jóias que estavam quase submersas em moedas de ouro de todos os tamanhos e formas. Ivar continuava a olhá-la discretamente, dando toda sua atenção em não ser pego. Seu observar localizou-se nos longos cabelos livres de Siggy. As jovens guerreiras da vila possuíam cabelos longos e trançados, isto não era novidade a ser visto, porem imediatamente considerou as madeixas da garota em sua frente tão sedosas que não pôde compará-la com as meras moças. Rastejou seu olhar mais uma vez notando os traços de seu rosto delicado. Tudo em Siggy lhe parecia curioso, a garota tinha um rosto de princesa, mas as roupas lhe diziam o contrário. Com isso, deu-lhe  mais atrativo. O mais importante não deixou de mirar na jovem. Seus belos olhos, tendo um azul inegavelmente diferente. Não sabia como exatamente poderia explicar tal cor e tal brilho, mas não havia como deixar de admirá-los. Tentou encontrar uma jovem que fosse mais bela que Siggy, mas nenhum nome e rosto lhe apareceu em mente. Subitamente recordou-se de Sigurd e suas palavras e que talvez ele estivesse certo. Talvez a bela Siggy acabaria casando-se com Ubbe, pois ele era o mais alto e possuía boa fama com as mulheres dentre todos os irmãos. Ou então casaria-se com seu outro irmão Hvitserk. Talvez o filho de earl, Olaf. Como uma farpa em seu dedo o nome levou-o para incio de noite onde seguira Siggy até os estábulos, tinha um rasteiro objetivo de desculpar-se por suas palavras, mas o que vira tinha mais que convencido-o de que nada lhe daria serventia. Ele não poderia culpá-los, estava mais que na época dos jovens guerreiros escolherem suas esposas. Todos passariam pelos olhos seletores de Siggy para enfim casar-se, escolhendo o mais forte, o mais bonito, o mais alto, e certamente um que pudesse carregá-la e dar-lhe filhos. Sua garganta formou-se em um nó, seu queixo apertou-se como a mandíbula de urso faminto desfrutando de seu salmão. Seus olhos tornaram-se profundos e sombrios. Ele manteve-se distraído com seus tortuosos pensamentos em Siggy, até que inesperadamente ela ergueu seus olhos a ele.

IRONSIDE'S DAUGHTER - VIKINGS FANFIC - I. R. R. BorbaOnde histórias criam vida. Descubra agora