Capítulo Bônus (Final Versão Nicholas)

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Uma semana sem vê-la. O beijo que lhe roubei da última vez ainda reverbera no meu corpo, na minha ama e no meu coração. E verdade que não é a primeira vez que fiquei tanto tempo sem sentir seu cheiro ou ouvir sua voz, mas dessa vez é diferente. Ela está com raiva de mim e com razão. Eu não deveria ter mentido pra ela. Mas como eu poderia magoá-la ainda mais quando ela já estava destroçada por causa do acidente e das suas sequelas? Eu jamais me perdoaria se visse lágrimas vertendo dos olhos dela após saber que tinha perdido um filho nosso naquele dia. E Deus sabe que eu já estava corroído por dentro o suficiente para uma vida toda.

Agora estou aqui, em pleno dia dos namorados, e meu aniversário, sozinho no Tonny's, bebendo uma cerveja barata e ouvindo alguma espécie de música horrível. Meu dia não poderia estar sendo pior, além é claro do fato de ter tido que suportar a reunião mais maçante da história sobre o futuro da HHE, que se Deus quiser, não estará mais sob minha direção. Fiz meu papel, bem o bastante, para nunca mais ter que entrar naquele escritório da presidência. O senhor Julian Todo-poderoso Hoffman pode muito bem agora ir para a puta que pariu com essa merda que ele arrumou. Graças a ele eu tive que me distanciar de Miami e da Ellen na época em que eu mais precisava estar lá. Na época em que ela mais precisava de mim.

— Um brinde à sua covardia e por estragar a minha vida, papai. — digo a mim mesmo, erguendo a cerveja para o alto e sorrindo tristemente.

Nem as vinte e duas chamadas da Ellen hoje me fizeram melhorar o ânimo. Não sei o que ela quer. Ela pode ter se lembrado do meu aniversário e ter ligado para me dar os parabéns como qualquer outra pessoa. Como as centenas de pessoas sem importância que fizeram isso. Pode ter lembrado que hoje é dia dos namorados e ter ligado porque sente minha falta e me quer de volta. Ou pode simplesmente ter ligado porque teve mais algum motivo – a essa altura eu não duvido mais de porra nenhuma – para ficar com mais raiva de mim e quis gritar comigo até ter sua garganta seca.

E a mínima chance de que as ligações dela fossem para acabar comigo de uma vez por todas foi suficiente para não me deixar atender a nenhuma delas. Chame-me de covarde, mas não quero ouvir a mulher que eu amo me dar um chute na bunda a duas mil milhas de distância.

— Esse lugar está ocupado? — a voz aveludada que tenho ouvido com tanta frequência nos últimos dois meses preenche meus ouvidos tão de repente que quase me faz saltar da cadeira de susto.

— O que faz aqui, Ada? — pergunto entre os dentes, sem sequer precisar olhar para ela.

— Sem mau humor comigo, ok. Não fiz nada para merecer isso.

Quase posso ver seu rosto vermelho de irritação e sua carótida pulsando por causa do meu tom. Ok, convenhamos, ela não tem nada a ver com o meu mau humor ou minha atual situação de solidão. Não serei tão cretino.

— Desculpe. Mas é uma péssima hora para o que quer que você tenha a me dizer.

— Estou aqui por dois motivos. — ela diz, ignorando-me e sentando na cadeira ao meu lado — Um deles, talvez você não queira compartilhar comigo, mas o outro, se dúvida acho que vai te deixar feliz.

— Se eu ouvir em silêncio o motivo que vai me deixar feliz, você me poupa de ouvir o que não vou querer compartilhar com você? — pergunto sorrindo, com a voz um pouco mais bêbada do que eu gostaria de demonstrar. Ficar bêbado perto da Ada nunca dá coisa boa.

— Não e não seja malvado. — ela diz maliciosamente — Vim em missão de paz, eu juro.

— Bom, então me conte logo de uma vez por todas o que está tomando seu tempo aqui comigo.

— Primeiro as coisas divertidas. — ela tamborila os dedos sobre o balcão com animação — Por que você está bebendo essa.. uuh, cerveja barata sozinho? Não que alguém queira te acompanhar nesse drinque, é claro.

Recomeço (SR #2)Onde histórias criam vida. Descubra agora