Capítulo 12 - Não preciso de inimigos

5 1 0
                                    

Depois de 2 dias sedado, Jó finalmente melhora e é submetido a mais exames. Apesar da melhora, continua sentindo muitas dores. Depois que o enfermeiro do Presídio tira uma amostra de sangue, o dr. Valdir chega para visitá-lo e é encaminhado à enfermaria.

-Olá irmão Jó. -Cumprimenta Valdir.

-Bom dia. -Responde Jó -Não se espante pela minha reação. Hoje estou sentindo muita dor.

-Bom, se você quiser, posso voltar aqui mais tarde, ou amanhã. - Questiona o dr. Valdir.

-Não, não. Se eu começar a conversar um pouco talvez esqueça um pouco da dor. Sente-se.

Valdir senta-se num banquinho próximo à cama onde ele estava sentado. Jó Pergunta:

-Quais são as novas? Como estão todos lá na igreja?

-Sem muitas novidades da igreja. Estão todos bem. Eu vim aqui primeiro para te fazer uma visita e para conversar com você sobre o seu caso. - Responde o dr. Valdir.

-Espero que sejam boas notícias... - Comenta Jó - Porque acho que não tem nem como haver mais notícias ruins.

-Pois é, Jó, pelo que eu vi as notícias não são boas e nem ruins. - Começa a falar o dr. Valdir. - Li os documentos relativos ao seu caso diversas vezes e tudo o que consta nos autos está devidamente correto. Entrei em contato com o setor jurídico da sua companhia, solicitei mais informações relativas ao seu caso, mas todas as informações que eu recebi diretamente dos setores administrativo, jurídico e até mesmo da Tecnologia da Informação só corroboram para o veredito dado previamente.

-Mas como assim? - Retruca Jó - Eu tenho certeza absoluta que não emiti nenhum relatório com informações falsas. E, menos ainda, tenha enviado qualquer tipo de informação dos novos produtos para ninguém! Esses documentos são falsos!

-Pois então. - Emenda o dr. Valdir - Eu também tentei trabalhar com essa hipótese. Mas todos os documentos gerados dentro da sua companhia são assinados digitalmente com certificados geridos pela sua própria companhia e auditados semestralmente por empresas externas. Todos esses fatores reduzem a possibilidade de falsificação desses documentos para um percentual muito abaixo do que se esses documentos e e-mails não fossem monitorados digitalmente.

-Tudo, Jó. Tudo mesmo indica que você originou ou encaminhou os documentos e e-mails anexados ao processo. Eu preciso de um pequeno ganchinho para poder tentar provar a sua tese. Mas até agora é a sua palavra contra muitas provas apresentadas pela acusação.

Depois de um pequeno tempo em silêncio. Jó continua pensativo sobre o que fazer. O dr. Vadir quebra o silêncio.

-Olha, Jó, quando estou com um cliente em situação similar, eu mesmo pressiono o cliente porque não tem como ele não ser culpado e a tese da defesa passa a ser pleitear uma redução na pena ou substituição por penas alternativas. E, até hoje, todos os clientes que eu precisei tratar dessa forma confessaram haver feito o que as provas indicaram. Nós estamos a sós aqui, somos irmãos em Cristo, e não cabe a mim fazer nenhum tipo de acusação contra você. Sei que você pode ter tido suas razões para ter agido dessa forma e, pela minha experiência, este é o único caminho para podermos tentar pleitear uma pena mais condizente com o crime cometido, envolvendo talvez algum caso de assédio moral ou excesso por parte da empresa.

Jó interrompe, se levantando da cama irritado com a acusação do dr. Valdir.

-Eu já falei prá você, prá comissão e prá todo mundo: Eu não enviei informação nenhuma para nenhum concorrente, eu não forjei nenhum relatório da minha Gerência, eu não fiz nada incondizente com as minhas atribuições dentro da Companhia! Se ser um pai ausente de vez em em quando é crime, me prenda por isso! Se não ir no culto num domingo porque está cansado ou programou um evento em família é pecado, então acuse-me disso. Se não ter cargo em nenhum ministério ou não pregar ou não dar aula na EBD é pecado, então acuse-me disso. Se você ou qualquer um outro em qualquer lugar quiser me acusar eu estou aqui, não corro. Mas por favor, acuse-me de algo que eu realmente tenha feito, de pecados que eu realmente tenha cometido. Em qualquer tribunal seja ele terreno ou celestial eu assumirei a culpa das minhas ações. Mas nunca, nunca mesmo vou assumir a culpa de ter feito algo que eu não fiz. Ainda que tivesse sendo premiado por uma realização extraordinária que eu não tivesse feito rejeitaria tal reconhecimento. Eu não forjei relatórios ou números e tampouco compartilhei qualquer informação confidencial que soubesse. Faça o que você quiser, mas diante do juiz eu relatarei apenas a verdade.

Clássicos Bíblicos Recontados - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora