Capítulo 14

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— E então a sua irmã gêmea que até há pouco tempo você não conhecia, te colocou no hospício que ela estava desde pequena, roubou os dois amores da sua vida e queria te prejudicar e não te matar. — Diz o policial fazendo uma pausa. —E lá na clinica você conheceu o Calebe, o mesmo que agora está morto porque o seu melhor amigo deu um tiro nele. — Mais um pausa. — O Max sabia do plano deles e na verdade era um detetive que sua avó havia contratado para te proteger do seu pai e da irmã louca. — Outra pausa. — O Calebe iria te matar e matar o seu namorado para conseguir a herança de vocês. Max fingiu que estava participando do plano deles e quando o outro atirou em você ele atirou no Calebe, o tiro que era para pegar em você pegou na sua gêmea. — Termina extenuado.

— Tirando a parte dos dois amores... foi mais ou menos isso que aconteceu — responde a jovem.

Outro policial se aproxima deles e sussurra algo no ouvido do homem que estava anotando o depoimento dela:

— O seu amigo está bem, os dois —  diz o policial com ironia.

Lis solta o cobertor que estava usando nos ombros e vai em direção a outra ambulância, encontrando o seu amigo, ou ex amigo:

— Me desculpa por não ter contado, Lis. — Responde antes mesmo que a jovem fale alguma coisa.

— Então era tudo mentira?— pergunta a jovem com os olhos marejados.

— Claro que não! — ele aumenta a voz. — Eu sempre te amei e sempre vou te amar.

Lis sente seu coração pulsar forte com essas palavras, mas ela sabia que o mesmo não pulsava mais por ele. Ela o amava, contudo o amor que nutria por Felipe era maior que esse.

— Quando eramos pequenos, você era sozinha, nunca teve muitos amigos. Então sua vó pediu para eu me aproximar de você, e esse tempo que eu passei fora, foi para terminar o meu curso de detetive e trabalhar oficialmente para a sua vó. O meu trabalho era te seguir e não deixar que você soubesse da sua irmã e nem que ela te ameaçasse. — Diz decepcionado. — Eu não falhei, te protegi, mas deixei que duas pessoas morressem... — continua agora olhando para as suas mãos. — Não há nada mais duro que ter o peço de morte nas costas — lamenta por fim.

Lis balança a cabeça e acidentalmente olha para as suas mãos, achando vestígios de sangue da falecida irmã. Lágrimas desceram pelo seu rosto e ela se deixou ser abraçada pelo seu amigo. Duas perdas em pouco tempo.
Viu Felipe de relance, olhou-o e após alguns segundos, correu. Correu para longe dali. Para qualquer lugar que retirasse toda a sua tristeza e todo o turbilhão de sentimentos de dentro do seu ser. Correu até sentir que seu corpo se dissolvia em várias estrelas no céu, contudo sentia como se ele fosse a lua, a observando a cada passo.

Parou e logo tocou a campainha:

— Quem é? — uma voz idosa soou.

— Sou eu, vovó — prediz entre lágrimas e suspiros.



— Minha filha, o que aconteceu?! — indaga a senhora surpresa.

A velinha Rute nunca se surpreendera fácil, contudo quando soube da gravidez inesperada da sua rejeitada nora, seus olhos quase saltaram das órbitas e seu coração quase parou. Ela e seu falecido marido tinham grandes planos para o herdeiro, contudo tudo isso foi para o ralo após ele assumir essa criança.
Depois do nascimento da netinha, ela mudou de ideia, contudo nunca aparentou. Sempre foi fria e rígida, ela achava que crianças teriam uma melhor criação desse jeito, mas errou. Seu filho era fraco, bem diferente dos pais, e após a situação piorar, o mesmo simplesmente desistiu, e Rute não teve outra alternativa a não ser ajuda-las.

Ela olha para a neta envolta em um lençol — que depois seria queimado — e lembra da imagem da jovem assim que a viu. Estava trajando roupas de um paciente; estava com a feição abatida; e tinha sangue, muito sangue em sua roupa, além de terra e lama.

Lis após perceber o olhar da vó, olhou para si mesma e viu o seu estado deplorável, ela nem tinha percebido que a caminho da casa de sua vó havia caído algumas vezes, juntando terra e lama em sua roupa hospitalar e no roupão que usava.

— Tudo, vó. Milena morreu, minha mãe também, o Max mentiu para mim, a pessoa que eu acho que amo só está piorando a minha vida que já não era instável. — Solta a bomba no colo da avó.

O problema era que a senhora não reagiu, pois ela já sabia da morte da neta, e já havia se derramado em lágrimas secretamente.

— Eu sinto muito, mas ninguém nunca falou que seria fácil — responde a idosa. — Siga em frente, você ainda é jovem, tem muito pela frente. — Faz uma pausa. — Termine a sua faculdade, vá viver a sua vida e seja feliz. Não chore sobre o leite derramado, você não é assim, você é forte como eu e como um dia sua mãe foi.— Diz afagando pela primeira vez os cabelos da neta.

Lis se sente melhor depois das palavras sábias da vó e de seu carinho. Ela estava pronta para esquecer tudo isso e seguir em frente, realizar o seu sonho.

— Obrigada, vovó — responde com carinho.

— Tem um quarto de hóspedes vago, pode dormir aqui o tempo que quiser, só tome um banho — comenta Rute levantando-se com a arrogância de sempre.

Contudo Lis sabia que por trás daquela capa de ranzinza existia uma pessoa amável, só precisava da chuva certa e do cultivo correto.



Alguns dias haviam se passado e Lis estava se mantendo bem. Max a visitava na casa da vó e as vezes jantava com as duas mulheres. A jovem estava se adaptando e decidiu que o melhor era ficar com a vó, ela era uma pessoa boa e não merecia mais viver sozinha na enorme casa dela. A jovem fazia as compras, as refeições e limpava a casa. Não gostava de estar de favor e simplesmente não fazer nada.
Ainda trabalhava no Gellato, contudo mudou o seu horário para não encontrar más companhias — no geral pessoas da faculdade. Sua vó havia subornado alguns jornalistas para não mandarem a história dela a público, e se mandassem era para mudar os nomes e não envolvê-la de forma alguma, se não seriam processados.

É claro, que postaram a história. Mas foi como o combinado, e logo um escândalo — mais um — saiu envolvendo o filho do candidato a governador. Depois de um tempo ela foi esquecida e substituída por outras histórias mais interessantes, porém Lis sempre ouviu os mesmos comentários no trabalho; "Bizarra essa história né?!", ou "Quem será a garota misteriosa? E os outros?" E Lis sempre tentava ignorar.

A faculdade ia bem. O único contratempo é que ela se formaria depois de todos da sua classe por ter perdido as aulas por tanto tempo — contando com o tempo de recuperação da morte da sua irmã, que ainda não havia passado totalmente.

Lis abriu a gaveta da cômoda do quarto que ela estava e logo guardou algumas coisas que o Max havia pego no seu apartamento, e logo achou algo inesperado.

Um diário.

Era da Milena.

Ela pegou-o correndo e passou a noite toda a lê-lo. Pelo manhã ela já conhecia a irmã como a si mesma, e sabia que ela era uma boa pessoa, contudo com a pressão do próprio pai ela quis se vingar da Lis.
Lis não acreditava nessas palavras. Seu próprio pai fez tudo isso só para conseguir chegar mais perto da Lis, ignorando totalmente a outra irmã que estava sendo ferida. Também descobriu que a mulher que havia visto na clinica e o cheiro da sua mãe, era tudo armação do seu pai. Lis estava mais do que magoada.
Seus pensamentos foram interrompidos ao ouvir a campainha tocar, logo pelas sete da manhã.
Avançou o corredor e a escada e assim que olhou pelo olho mágico não acreditou no que viu.

Era ele.

Depois da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora