Capítulo 17

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Lis chega a balada que já estava cheia, com uma fila ao lado de fora. A fila ia até a esquina, desanimando as jovens.

— Isso vai demorar a noite toda! — reclama Júllia.

Lis concorda enquanto espera pacientemente, até que um homem elegante passa na frente de todos e cochicha no ouvido do segurança. O mesmo aponta para a Lis enquanto a chama com a mão.
Lis olha para os lados e vai em direção ao homem meio temerosa, até que ele abre espaço para ela passar. Lis chama a sua amiga e avisando que ela está acompanhada da jovem. Elas entram aliviadas, até que a ficha cai:

— Quem era aquele homem? — pergunta Júllia com certo tom de humor.

— Não sei e nem quero saber — responde Lis irritadiça.

Elas passam pelas pessoas que ocupam a pista que dança — que é quase todo o espaço, a não ser o bar.

As meninas abriram espaço e foram direto ao bar.

— Eu estou tão feliz de estar aqui com você — agradece Júllia.

Lis sorri em resposta e logo a menina que estava no bar entrega um drink para a Lis.

— O que é isso?! — indaga com certa ânsia.

— O senhor ali mandou para você — diz apontando para o mesmo homem elegante que havia deixado-as entrar.

Lis devolveu o drink e acenou ao homem com desgosto. Ela estava tão irritada que foi até a mesa que ele estava para falar umas boas verdades a ele:

— Obrigada pelo drink, mas não sou dessas garotinhas que são levadas por caras ricos e que se acham românticos — ela diz e só agora a ficha cai.

Essa era a situação dela com o Felipe, e ela a estava descrevendo, mesmo sem nem perceber.
Sentiu suas pernas fraquejarem e logo o homem a segurou para que não caísse.

— Você está bem? — perguntou ao vê-la tonta.

— S-sim — diz ao se sentar.

Ela olha ao seu redor e logo percebe que está no lugar errado e na hora errada. Ela não deveria estar ali. Não gostava desse tipo de coisa. Sua vó tinha razão.

— Eu estou bem. Com licença — diz andando na direção oposta a dele.

Ele coloca um cartão na mão dela e Lis o lê.

"Calebe Luis, advogado."

Calebe?!

Ela lembrava desse nome.

Lembrava da sua morte.

— Milena, está na hora de trocar de turno — ouviu alguém dizer a menina que estava no bar.

Milena?!

Meu Deus!

Parecia que todos os nomes e todas as mortes estavam voltando.

Lis correu para fora do bar e mesmo sem ter comido nada vomitou do lado de fora. Recebeu olhares enojados e logo virou a esquina, só querendo se desvincular deles.
Viu que tirando a casa de festas a rua estava vazia. Achou o celular dentro da bolsa atravessada ao seu peito, e viu que já marcava onze e meia da noite. Na esquina haviam algumas pessoas conversando, e a visão dela clareou, ao ver três homens trocarem olhares com ela. Lis olhou para trás e viu que estavam olhando para ela.

— E aí, gatinha? — pergunta o loiro que estava com eles.

Lis tenta os ignorar, mas um moreno impede o seu caminho.

— Por favor, me deixe passar — ela pede com a voz embargada.

— Por que tanta pressa? Só queremos conversar — ele responde enquanto acaricia o ombro dela.

Lis passa a mão no local que ele havia passado a mão e sente um nervosismo. Ela estava encurralada.

— Eu não quero conversar, quero ir embora! — diz mais alto.

Lis corre na direção oposta e o homem a puxa pela cintura.

— Vai com calma, linda — o homem diz enquanto cheira o pescoço dela.

Lis pisa no pé desse homem e corre para qualquer direção, até trombar com alguém.

— Me solta! Me solta! — ela grita batendo no abdômen da pessoa.

O homem segura os pulsos dela e suas lágrimas descem.

— Por favor... — ela pede em um sussurro e desmaia.




Lis acorda e reconhece o lugar que um dia fora o seu refúgio: a casa da Júllia. Sua visão clareou e viu duas pessoas conversando na cozinha, Júllia e um homem alto.

O mesmo homem que ela havia esbarrado. Queria gritar para alertar a amiga que ele tentara algo a força com Lis, mas suas forças eram poucas.

O homem olhou em sua direção e deu um sorriso angelical, enquanto eles vinham em suas direção.

— Lis! Que bom que acordou — exclama Júllia preocupada.

— Ela não deve ter se alimentado direito, por isso o desmaio e a tontura — ele diz.

— E-eu estou bem — Lis tenta dizer com convicção, contudo sai como um quase sussurro.

— Não, não está. — Júllia responde. — E eu vou fazer questão de contar isso ao Max e a sua vó. Quero que eles fiquem no seu pé. — diz a amiga ameaçadora.

Lis fecha a cara e olha para o rosto do homem.

Era o tal de Calebe.

Advogado.

— Você estava perto do bar. — ela diz em tom baixo.

— Sim. — ele responde normalmente. — E também do lado de fora, quando você correu, trombou em mim e também me bateu. — continua com humor.

— Me desculpa. Tinha uns caras lá fora mexendo comigo, nem reparei que a pessoa que eu acertei não tinha nada haver com isso. — responde.

Ele fecha a cara e Lis vê a veia do pescoço dele saltar.

— Tome mais cuidado, a noite guarda muitas coisas ruins. — diz misteriosamente. — Bom, tenho de ir, adeus, meninas — ele se despede e Júllia o leva até a porta.

O homem diz mais algumas palavras que Lis não consegue ouvir, e a porta é fechada.

— Que homem estranho — diz Lis furtivamente.

— Peculiar, eu diria — responde Júllia.

Lis ri tímida e seu rosto se envolve de tristeza e lágrimas escorrem pelo sua face.

— O que foi, Lis?! — pergunta Júllia afagando seus ombros.

Ela funga por alguns instantes antes de responder:

— Eu não aguento mais, Ju. Lembrar e lembrar de tudo que aconteceu comigo. — diz secando as lágrimas. — Preciso sair desse lugar, sair da morte do Calebe, da minha mãe, da minha irmã... Vou buscar a minha caixa que estava juntando para viajar, vou pedir um ajuda a minha vó e vou para qualquer lugar. — diz Lis determinada.

Júllia confirma, e leva a amiga para casa, sabendo que não a veria tão cedo. Mas ela entendia que a amiga não conseguiria passar mais nem um segundo com todas essas lembranças, e ela a apoiaria o máximo que pudesse, contudo não antes de fazer algo.

Lis foi para casa e assim que chegou e que explicou para a sua vó que estava bem, ela reuniu toda a sua coragem e fez as malas. Pegou tudo que tinha e jogou em duas malas grandes e em uma pequena de mão. Enquanto isso sua vó comprava a passagem de primeira classe que Lis não recusou, na promessa de que iria devolver o dinheiro.

Contudo Lis não sabia o que a aguardava, porém de uma coisa ela deveria saber; essa seria uma noite de surpresas, e será mesmo que ela conseguirá fazer essa viagem?.

Depois da Meia-NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora