Coluna Savaget
A tropa do general Cláudio do Amaral Savaget partira de Aracaju. Fizera alto nas cercanias de Canudos, depois de uma marcha de setenta léguas. Viera pelo interior de Sergipe em brigadas isoladas até Jeremoabo, onde se organizara em 8 de junho, prosseguindo a 16, unida, para o objetivo das operações.
Forte de 2.350 homens, incluídas as guarnições de dois Krupps ligeiros, caminhara passo folgado e firme, para o que contribuíra dispositivo mais bem composto para as circunstâncias.
Aquele general, sem avocar a si, inteira e rígida, uma autoridade, que sob tal forma seria contraproducente, repartira-a, sem deslize da inteireza militar, com os seus três auxiliares imediatos, coronéis Carlos Maria da Silva Teles, Julião Augusto da Serra Martins e Donaciano de Araújo Pantoja, comandantes da 4ª, 5ª e 6ª Brigadas. E estes realizaram até às primeiras casas do arraial uma marcha que se destaca das demais.
Não havia instruções prescritas. Não se ideara justapor ao áspero teatro da guerra a esquadria das formaturas, ou a retitude de planos preconcebidos. A campanha, compreenderam-na como a deviam compreender: imprópria a opulências de teorias guerreiras exercitadas através de um formalismo compacto; e girando toda em tática estreita e selvagem, feita de deliberações de momento.
Pela primeira vez os lutadores suportavam-na numa atitude compatível: subdivididos em brigadas autônomas, para se não dispersarem; e móveis bastante para se modelarem à rapidez máxima das manobras ou movimentos que, subtraindo-as a surpresas, as preparassem a aguardar a única coisa que na guerra aventurosa e sem regras lhes era dado esperar — o inesperado. As três brigadas, ágeis, elásticas e firmes, abastecidas de comboios parciais, que lhes não travavam os movimentos; feitas para desenvolverem a envergadura à ginástica das guerrilhas e às asperezas da terra, repartindo a massa da divisão, substituíam-lhe a importância do número pela da velocidade e vigor das evoluções aptas a se realizarem nas mais circunscritas áreas de combate, sem os entraves dos elefantes de Pirro de uma artilharia imponente e imprestável.
Viera na frente a 4ª composta dos 12º e 31º Batalhões, comandados pelo tenente-coronel Sucupira de Alencar Araripe e major João Pacheco de Assis.
Carlos Teles
Dirigia-se o coronel Carlos Teles — a mais inteiriça organização militar do nosso exército nos últimos tempos.
Perfeito espécime desses extraordinários lidadores riograndenses — bravos, joviais e fortes — era como eles feito pelo molde de Andrade Neves, um chefe e um soldado: arrojado e refletido, impávido e prudente, misto de arremessos temerários e bravura tranquila; não desadorando o brigar ao lado da praça de pré no mais aceso dos recontros, mas depois de haver planeado friamente a manobra.
A campanha federalista do Sul dera-lhe invejável auréola. A sua figura de campeador — porte dominador e alto, envergadura titânica, olhar desassombrado e leal — culminara-lhe o episódio mais heroico, o cerco de Bagé.
A campanha de Canudos ia ampliar-lhe o renome.
Compreendeu-a como poucos. Tinha a intuição guerreira dos gaúchos.
De posse de sua brigada e, abalando com ela, isolado, para Simão Dias, onde chegou a 4 de maio, modelara-a em pequeno corpo de exército adaptando-a às exigências da luta.
Aligeirou-a; adestrou-a; e como era impossível transmudar a instrução prática dos soldados que vinham de um severo exercício de batalhas nos campos do Rio Grande, procurou, malgrado o antagonismo do terreno, dar-lhe, em parte a mesma celeridade das marchas, o mesmo arranco vertiginoso das cargas. Escolheu, entre as companhias do 31º, sessenta homens, cavaleiros adestrados, decaídos "monarcas das coxilhas" inaptos ao passo tardo dos pelotões de infantaria. E constituiu com eles um esquadrão de lanceiros, entregando-os ao comando de um alferes. Era uma inovação; e parecia um erro. A arma "fria e silenciosa" de Damiroff, feita para os arrancos e choques nas estepes e nos pampas, à primeira vista se impropriava em absoluto àquele solo revolto e recamado de espinheiros.