Querido diário

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VOCÊS NÃO ACHARAM QUE EU VOLTARIA HOJE AINDA NÉ? adoro surpreender

mais um cap pra vocês mores

Austrália, 1999.

Pov Alycia

Já era 12h e nada da mamãe vir me buscar no colégio, eu estava sentada na beira da calçada, sozinha. Normalmente Eliza estaria comigo, mas ela não tinha vindo na escola, e isso me preocupava. Será que ela está bem?
Depois de meia hora esperando, mamãe apareceu.

-Oi mamãe.
-Oi Ly. Eliza, onde está?
-Ela não veio na escola, mamãe... Eu posso ir vê-la assim que terminar meus deveres?
-Alycia filha, às vezes ela não está bem, e não quer visitas, é melhor se verem amanhã.
-Mamãe por favor, e se ela tiver mal? E se ela precisar de mim? Deixa...
-Ok Ly, mas será rápido! -Disse mamãe, e eu abri um sorriso, e ela sorriu também. Mamãe fingia ser brava, mas na verdade ela era boa comigo, boa demais.

Chegamos em casa, comi um pouco do assado que mamãe tinha feito. Papai não estava em casa, ele andou bem ausente essa semana. Mamãe dizia que era os "negócios" dele.
Comi bem rápido, e subi para fazer minha lição. Não parei enquanto não terminei. Peguei meu diário e resolvi escrever um pouco.

"Querido diário

Hoje eu acordei, e fui para a escola, Eliza não estava lá, mamãe disse que ela deveria estar doente. Então fiz todas as

minhas lições rapidinho para poder ir vê-la.
Eu preciso contar um segredo, que ninguém pode saber. Eu beijei Eliza, não sei se amigas fazem isso, mas eu não posso perguntar para mamãe. Só vejo pessoas se beijando em filme, eca, gente velha.
Mas a gente se aproximou muito mais depois disso, e eu gostaria de repetir isso, espero que não seja tão errado assim..."

Fechei o diário e o guardei debaixo da cama. Me arrumei e desci.
-Mamãe, eu posso ir agora?
-Terminou toda sua lição?
-Sim, mamãe.
-Então vá, mas quero você em casa em uma hora. Eu vou limpar a casa, e depois você vai me ajudar.
-Sim, mamãe. -Dou um beijo em seu rosto e saio.

Toquei a campainha de Eliza, e quem atendeu foi sua mãe.
-Eliza está?
-Oh Alycia, que bom que você veio, assim você pode me ajudar.
-O que? Por que? O que aconteceu com a Lizz?
-Ah, ela acordou com febre, não come nada, e não saiu da cama desde que acordou, você pode me ajudar?
-Sim claro... que tal, montarmos uma bandeja com comidas que Eliza gosta?
-Boa ideia! Você me ajuda? -Concordei com a cabeça.

Preparamos várias coisinhas, que tenho certeza que Liz gostaria.
Então subi com a bandeja, sua mãe abriu a porta para que eu entrasse no quarto.
-Surpresa!
-Alycia! Você veio! -Eliza deu um pulo da cama, e veio para me abraçar.
-Só posso te abraçar se você comer. Fiz uma promessa para sua mãe. -Ambas sorrimos, e Eliza pegou a bandeja, e começou a comer.

-Como está se sentindo agora? -Digo.
-Um pouco melhor, eu acho... deita aqui comigo. -Disse Eliza e foi para o canto da cama, para que eu deitasse ao seu lado.
Ficamos ali, sem dizer nada, até que acabei pensando no sono, e não teria acordado, se não fosse a mãe de Eliza me chamando.
-Alycia? -Acordei no susto. -Sua mãe está te esperando lá fora.
-Ah... eu já estou descendo.
-Tudo bem. -Disse a mãe de Liz, e fechou a porta, Eliza tinha acordado também.
-O que houve? -Disse Liz.
-Acho que esqueci da hora de ir embora. -Rimos. -Bom, a gente se vê amanhã no colégio?
-Sim, estarei melhor até lá! -Disse Lizz, e me levantei da cama. Estava quase saindo do quarto. -Aly! -Olhei para trás, e ela estava bem na minha frente. -Eu te amo, obrigado por ser minha melhor amiga. -Disse Liz e me beijou, na boca, senti meu corpo todo pulsando, meu coração disparou. Eliza me soltou e olhou em meus olhos, seus olhos eram tão azuis e tão lindos, seu sorriso era tão sincero, que não fiz esforço para sorrir de volta para ela.
-Eu também te amo Lizz!
Desci as escadas, pulando em cada degrau, até chegar no fim da escada, mamãe estava lá embaixo me esperando. Xii, ela estava brava, será que eu passei muito do horário que ela pediu? Acho que nunca a vi tão brava. Saímos da casa e eu peguei em sua mão, ela apertou com força, e começou a andar rápido.
-Aí! Você está me machucando, mamãe! -Ela não disse nada, não fez nada, fui praticamente arrastada até chegarmos em casa.
Papai estava na mesa, com as mãos na cabeça.
-Senta Alycia! -Disse papai. O que estava acontecendo? Por que todos estavam irritados comigo? O que eu tinha feito?
-Mamãe, me desculpa, por ter me atrasado, eu dormi, não queria te magoar, desculpa papai isso não vai se repetir. -Digo, e em seguida vejo minha mãe chorando, chorando bastante. Uma angustia começou tomar conta de mim, e senti uma vontade de chorar também.
-Papai... -Digo e ele atirou sobre a mesa, meu diário. Que estava em seu colo. -Vocês... onde vocês acharam meu diário? Vocês não leram nada, né mamãe?
-Vá para o seu quarto Alycia, e só saia de lá quando eu mandar. -Fico olhando para o papai, esperando uma resposta. -ANDA ALYCIA! -Meu coração batia acelerado, não de um jeito bom, de um jeito ruim, subi as escadas correndo, as lágrimas escorriam, e pingavam no chão.
Me fechei no quarto, e sentei na porta, ouvia a gritaria lá debaixo.

"-O que faremos com ela?
-Nos vamos colocá-la em um colégio interno, e nos mudarmos daqui, eu já estou de saco cheio desse lugar, foi uma péssima escolha vir pra cá, escolha sua é lógico!
-Tom, você acha que é minha culpa também, Alycia estar beijando a melhor amiga dela? O que mais você acha que é minha culpa.
-É claro que a culpa é sua, é o seu trabalho de mãe, olhar por ela, e ensinar o caminho certo das coisas."

Preferi sair da porta e parar de ouvir toda essa gritaria. Peguei o meu ursinho favorito, me deitei na cama, e desabei a chorar. Acho que nunca tinha chorado tanto na minha vida, até que eu peguei no sono.

Amanheceu, acordei e fui até a porta, eu estava trancada. Meu deus, eu precisava avisar a Eliza.
Olho pela minha janela, nunca tinha pensado em pular, então nunca tinha reparado, em como era distante do chão. Troquei de roupa, escovei os dentes, e amarrei dois lençóis. Eu tinha que falar com Eliza antes de ir embora. Joguei a corda que eu tinha feito pela janela.
"Vamos lá Alycia, você consegue!" disse para mim mesma, e fui, desci de vagar, quando eu estava próximo do chão, ouvi mamãe gritar em meu quarto, em seguida ela apareceu na janela. Foi quando eu descobri que eu ainda estava bem longe do chão, porque eu me joguei para sair correndo. Cheguei no portão mancando, e estava trancado. "Você não vai desistir agora!!" meu subconsciente me disse novamente, e lá fui eu tentar pular meu portão. Assim que cheguei em cima, tinha uma parte que espetava, mas agora era tarde demais para desistir, pulei mesmo assim. Senti uma ardência em minha perna, mas não me arrisquei a olhar, eu tinha que avisar Eliza.
Olhei pra trás, não vi mamãe, mas vi um rastro de sangue, e em seguida fui me sentindo fraca, corri mais um pouco, olhando para baixo, a luz estava muito forte. Olhei novamente para frente, e Eliza deu de cara comigo, ela parecia um anjo, já que tudo ficou muito claro e seu rosto se iluminou ainda mais.
-Alycia? Você está bem?... ALYCIA FALA COMIGO! -Fui caindo, nos braços dela, eu não conseguia me manter de pé mais.
-Desculpa Liz... -Foi o que eu consegui dizer.

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