De volta ao passado

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Londres, 1999.

Olá diário,

Eu estou cansada de escrever todos os dias, sobre as mesmas coisas, mas desde que mamãe e papai me deixaram aqui, eu me sinto tão sozinha...

Acredite eu até procuro fazer algumas amizades, mas as pessoas aqui são tão diferentes...sinto falta da mamãe, e até mesmo do papai, sinto falta também a Eliza.

Não entendo porque coisas ruins acontece com pessoas boas.

Não consigo entender porque mamãe quis se afastar de mim.

Depois do que aconteceu, eu acordei no hospital, e assim que melhorei, mamãe me disse que eu iria para um lugar bom, aprender sobre coisas novas, e que viriam sempre me visitar...

Mas já fazem meses, na verdade já está próximo ao natal, e eles se quer vieram me ver. Nem uma carta, um telefonema, nem se quer um recado...talvez eu não seja uma boa filha, talvez eles não gostem de mim...

Londres, 2006.

-Alycia! ACORDA! –Dizia uma voz aguda, era Marny.

-Marny! Hoje é sábado, não é dia de acordar cedo. –Digo tampando minha cabeça com o travesseiro.

-Foi a Jessica que pediu para te chamar, eu só estou passando o recado. –Marny havia se jogado na cama, do meu lado.

-O que a Jessica quer? – Digo, tirando um pouco o travesseiro do rosto.

-Ela disse que quer conversar com você...

-Sem chances. –Digo e coloco o travesseiro no rosto novamente.

-Para de ser dramática Alycia!

-Você quer que eu vá lá para que? Para depois ela ir lá, e contar tudo para diretora. Eu fiquei UMA semana de penitência, enquanto ela se divertia.

-Ela ficou com ciúmes e você sabe.

-Não, e não. Fala para ela, beijar a nova amiga dela. Eu tô fora.

-Teimosa. Depois vai ficar atrás dela. –Disse Marny, e se deitou ao meu lado.

-Você não tem nada para fazer hoje? Algo que possa fazer...e me deixar dormir? –Digo, e Marny bateu no travesseiro.

-Tenho, mas você vai comigo.

**

Chego a noite, pego meu livro, e resolvo escrever, não é sempre que escrevo. Até porquê falo com Marny, o dia todo, tem vezes que a gente nem tem mais o que falar.

Marny era uma boa amiga, sempre estava comigo, independentemente da situação. Ela era como eu, não tinha muitos amigos, era bem reservada na verdade, andávamos juntas, todos os dias. Marny me fazia companhia até mesmo quando eu ficava de penitência.

Reviro os olhos ao lembrar.

Odeio essa escola, odeio estar trancada aqui, não vejo a hora de fazer 17 anos, e poder finalmente estar livre.

Minha mãe vinha me visitar uma vez por ano, normalmente no meu aniversário, mas meu pai nunca vinha, já estava me acostumando com a ausência deles...

Parei de escrever no momento em que ouvi alguém abrindo a porta.

-Marny vai embora, eu vou dormir. -Digo antes mesmo de vê-la entrar.

-E se eu disser que não é a Marny, posso entrar? -Reviro os olhos, Jessica.

-O que você veio fazer aqui?

-Eu vim te ver, você não quis me procurar. -Disse Jessica, e já foi entrando, sentando na minha cama.

Jessica era uma das meninas mais populares. Sempre rodeada de amigas, ao contraio de mim.

-Eu não te procurei, porque eu não quero saber o que você tem pra dizer. -Digo me levantando da cama que ela estava sentada, para guardar meu diário.

-O que é isso na sua mão?

-Não é da sua conta, agora você pode ir embora? Estou com sono.

-Alycia, é sério... -Olho para Jessica, pela primeira vez desde que ela entrou no quarto. Sua boca estava roxa, sobrancelha cortada.

-O que aconteceu com você? -Digo cruzando os braços.

-Lembra aquela freira grandalhona? -Disse Jessica.

-Aquela que você vivia com medo? Que anda com uma bíblia debaixo do braço?

-Ela me bateu...depois que você foi embora, disse que eu não deveria beijar garotas. E que se eu contasse para os meus pais, seria expulsa do colégio. Meus pais me matariam Alycia, você sabe. -As lágrimas começaram a escorrer no rosto dela.

-Jessica...eu sinto muito...-Digo e tento limpar as lágrimas com meu polegar. -Não entendo...por que você e não eu?

-Eu sei lá, sinto que ela não gosta de mim, ela fica atrás de mim o dia todo, agora à noite que sumiu.

-Isso é ridículo. -Sento na cama, e me aproximo da cabeceira. Faço sinal para Jessica se aproximar. -Então por causa dela, eu fiquei de castigo...

-Provavelmente.

-E agora? -Digo.

-Vamos ter que parar...pelo menos por enquanto. Ela disse que contaria para madre, o que faria com que nos duas fossemos expulsas, e falta pouco tempo para eu sair, não posso arriscar. -Fecho os olhos, e respiro fundo, concordando. Esse era o último ano de Jessica.

-Quer ficar comigo aqui hoje? -Digo.

Jessica apenas se aconchegou, ficando mais perto, e fez sinal positivo com a cabeça.

Logo pegamos no sono.

This Side Of ParadiseWhere stories live. Discover now