País e Filho (07/25)

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- Continue assim Bruce. - Derek dizia enquanto o menino o atacava com rapidez e violência, enquanto ele apenas desviava.

Bruce tinha dez anos, e desde os cinco passava por aquele árduo treinamento com seu pai. Derek era duro neste quesito, sempre exigindo o seu melhor, e Bruce sempre fazia o que seu pai dizia. O resultado de tudo foi que acabou se tornando uma criança amadurecida para idade, mesmo sendo extremamente tímida. Ele também possuía uma inteligência fora do comum, capaz de formar estratégias enquanto lutava com seu pai. Por isso Derek nunca baixava a guarda quando lutavam, pois sabia do que seu filho era capaz.

Derek estava parcialmente transformado, com garras e o rosto enrugado em uma forma lupina, suas presas a mostra e seus olhos vermelhos seguindo cada movimento de Bruce, que por ser uma criança, era bastante rápido. Num descuido que Derek teve ao sentir alguém se aproximar, Bruce saltou e tentou um chute em direção a sua cabeça, que o mais velho conseguiu se defender do golpe agarrando o tornozelo do menino no processo. Bruce porém não parou e ainda no ar desferiu um soco em direção ao rosto de Derek, que com a outra mão parou o golpe. Contudo, o menino continuou e com um rosnado de fúria rasgou o peito do pai com as garras livres, fazendo listras ensanguentadas na camisa que o mesmo usava.

Derek sabia que algo estava errado. Bruce não costumava ser tão selvagem daquela maneira. Ele tinha aversão a machucar alguém, mesmo quando lutava contra consigo ele não usava garras ou presas, com receio de feri-lo. O homem suprimiu um urro de dor e jogou Bruce para longe, num contra-ataque um tanto desesperado.

Bruce rolou por alguns metros e ficou parado, imóvel no chão, sob o olhar atento de seu pai. O cabelo castanho do menino estava com algumas folhas presas, e outras saiam voando por conta de sua respiração ofegante. Sabendo que seu filho estava no limite, Derek decidiu.

- Pode parar Bruce. Está bom por hoje.

O homem deu alguns passos em direção a criança, preocupado se não abusou um pouco na força do arremesso. Um rosnado de aviso o fez parar na metade do caminho. Derek encarou o filho, que se levantava um tanto quanto tonto e com o corpo mole. O homem não podia ver seu rosto pois ele estava de cabeça baixa, mas ainda sim dava para notar suas orelhas pontudas e o rosto enrugado, o que significava que a semi-transformação dele ainda estava ativa.

- Bruce, eu disse que já está bom. - Derek rosnou, usando seu poder alfa para que o menino voltasse ao normal.

Bruce estremeceu com o tom do pai, por um segundo pareceu que fosse desmaiar, cambaleou um pouco mais e manteve-se firme no lugar, contrariando a ordem do seu alfa.

Derek podia sentir um certo orgulho tomando conta de si por saber que aquele ali era seu filho, resistindo ao poder de um alfa, no entanto também sentia-se irritado por não estar sendo obedecido. Aquela era prova de que seu filho não era um lobo normal. Bruce, mesmo sendo um beta criança, conseguia manter-se no mesmo nível de um beta adulto. Quando Bruce lutava com seu tio Scott, que era um beta bastante experiente, Derek observava com orgulho a sua prole o derrubar depois de alguns minutos de uma luta violenta.

- Filho...

- Ainda... posso... continuar papai... - Bruce disse, sua vozinha infantil estava grossa por causa de sua transformação.

- Não será neces-. - Derek parou no meio da frase ao olhar nos olhos do filho. Ao invés do azul gélido que tomava seus olhos na transformação, seus olhos agora brilhavam em vermelho sangue, idênticos aos seus.

O mesmo brilho, o mesmo olhar sanguinário. Os olhos de um alfa.

- Bruce... - Derek arfou surpreso, os olhos escarlates cintilavam. O menino tentou responder, porém engasgou e o vermelho dos seus olhos sumiram retornando ao castanho habitual. A pressão do poder alfa que antes não estava lhe afetando veio de uma vez e menor desmaiou. O homem foi rápido em pegá-lo no colo.

Derek sabia o que estava acontecendo, aquilo já havia acontecido em sua família muito tempo atrás, com sua mãe. Seu filho iria se tornar um alfa em algum momento de sua vida, e ele suspeitava que isso não iria demorar. Não era comum para um beta lobisomem mudar de status assim, a não ser quando o mesmo matasse um alfa, ganhando assim o seu poder.

Bruce tinha apenas dez anos e era um beta com olhos azuis, que tem essa cor por serem marcados pela tragédia de matar um ser de alma pura. Era uma dura realidade para uma criança suportar, principalmente ele, que era um menino tão doce.

Derek o começou a andar com o filho no colo com cuidado, pondo a cabeça do filho no vão do seu pescoço. O ferimento no seu peito fumegava regenerando-se pouco a pouco, até que enfim se fechou, não deixando nem mesmo uma cicatriz.

- Ele sem sombras de dúvidas tem a mesma determinação de Stiles. - Peter surgiu de trás de uma árvore.

Derek já sabia que seu tio estava ali o observando a algum tempo, havia sentido quando o mesmo se aproximou. Porém, não foi a presença dele que o homem sentiu quando lutava com Bruce. Era alguém familiar, era a mesma sensação de conforto que sentia quando estava com Stiles antes dele...

"Ah, Stiles. Mesmo depois de você ter ido, você ainda se recusa a se separar do nosso filho." - Derek pensou, sentindo um bolo na garganta. Jamais superaria sua perda.

- Sim. - Derek respondeu.

- Não acha que está sendo muito duro com ele? - Peter perguntou, ambos caminhando lado-a-lado.

- Quero que meu filho possa ser forte, mas do que já é. Assim poderá defender sua família e amigos. - Não quero que falhe igual a mim, completou mentalmente. - Bruce tem potencial para se tornar um alfa, um bem mais forte que eu.

- Entendo. - Peter disse pensativo. - Você não vai levá-lo para lhe fazer uma visita? Faz tempo desde a última vez.

- Eu... não consigo ficar muito tempo lá. - Derek respondeu. Olhar para o túmulo de seu amado Stiles fazia seu coração espremer, e a dor a qual lutava para superar voltava mais forte.

- Já faz dez anos Derek. Lembra do que Stiles lhe pediu? - Peter relembrou, olhando para o sobrinho e notando o quanto ele parecia ainda mais frio. Perder Stiles, outra pessoa que ele amou, o quebrou de todas as formas possíveis. Bruce era sua âncora agora, o único motivo para Derek não acabar com sua dor de uma vez.

A mansão Hale surgiu depois de um tempo de caminhada, reformada e com uns toques de modernidade, mas não tirando sua beleza rústica que lembrava Derek de sua infância. O casarão tinha até um parquinho ao lado agora, para que os filhos dos membros do pack pudessem brincar enquanto os adultos conversavam.

Tudo ideia de Stiles. Ele sempre pensava em tudo.

- Ele me pediu que seguisse em frente, amasse alguém novamente e protegesse nosso filho. - Derek fechou os olhos sentindo náusea. - Jamais amarei alguém novamente, já não sou capaz de sentir o mesmo sentimento que tinha por Stiles. No entanto - Derek olhou o filho adormecido - Irei cuidar de Bruce, o protegerei mesmo que isso custe minha vida. Ele é a coisa mais importante agora.

•••

- Como o papai Stiles era? - Bruce perguntou.

Derek suspirou. Estavam de frente para o túmulo dele, onde tinha gravados na pedra os dizeres:

STILES STILINSKI / 1996 - 2016

"Filho e pai amado."

- Era um homem engraçado, estabanado até. Nunca desistia quando fazia algo, e fazia o que podia pelos seus amigos. Foi essas qualidades que me fizeram me apaixonar por ele, e o fruto disso é você. - Derek deu um beijo em seus cabelos castanhos.

Bruce caminhou até o túmulo e colocou um buquê de flores na lápide.

- Queria você ao nosso lado papai. Nunca vi o senhor, mas eu te amo.

Derek fechou os olhos com força, evitando chorar. Já havia chorado tanto. Puxou o filho e o abraçou de lado, vendo sua força ali.

Uma brisa suave balançou os cabelos compridos de Derek, como se fosse um beijo. Então uma voz meio sussurrada chegou aos seus ouvidos.

Sempre estarei com vocês...

Derek sentiu um toque no ombro, e quando olhou viu seu amor ali por um segundo, depois a imagem enevoada sumiu. O homem pode seu coração voltar a bater novamente. Stiles nunca os abandonaria.

- Não se preocupe filho. Nós sempre estaremos com você.

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