Lembro do dia em que eu soube da Rafa e da doença. Era uma manhã como essa, o céu cinza, o verde das plantas mais vibrantes, a janela da sala de aula embaçada, uma aula monótona e rabiscos de caneta colorida em meu caderno. Naquele dia, ela não tinha ido a aula, o que foi bem estranho, já que era de vir a todas as aulas mesmo com uma febre de 40°. Minha preocupação era pouca, porém, foi o suficiente para me distrair naquelas aulas. Peguei meu celular, o pus em baixo da mesa e mandei uma mensagem perguntando se estava tudo bem. Passaram-se três tempos de aula e nada de uma resposta, nem uma visualização se quer. Ela também era daquele tipo que te responde na hora, o que me fez ficar um pouco mais agoniada. Lembro que ela gostava de ir a escola, pois era o lugar onde ela meio que esquecia um pouco de seus problemas pessoais e podia ficar com seus amigos.
Mais tarde, após a aula, recebo uma ligação. Era Rafa. Tinha pego o celular com uma velocidade que quase o deixei cair. Assim que atendo, ouço a voz de sua mãe. Parecia abalada, cansada e muito triste. Meu coração havia disparado quando escutei ela. Mil coisas se passaram em minha mente até ela falar: "a Rafa está internada no hospital em estado grave". Nesse momento, meu coração parou, meu suor gelou, minha respiração ficou ofegante e meus olhos encheram d'água. Um aperto no peito me veio e uma ansiedade de querer vê-la era cada vez maior. A mãe dela havia me dito o endereço e fui correndo até lá, literalmente. Cheguei em seu quarto e lhe dei um abraço longo e apertado. Naquele abraço, fechei meus olhos e imaginei todos nossos momentos juntas, desde a escola até meu aniversário. Sentia algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto e escutava-a sussurrar que ficaria tudo bem e que ela sairia dali rápido. Ela havia leucemia... maldita doença onde o estado em que estava a expectativa de vida era bem pequena. Tinha ficado com raiva, pois ela não havia me contado sobre a doença, mas agora eu entendo o porquê dela não ter me contado antes. Ela sabe que eu tenho um grau de ansiedade alto e sabe que se ela tivesse me contado quando estávamos tendo aquelas conversas sérias, eu provavelmente teria uma crise, pois a última coisa que queria era que minha melhor amiga morresse. Eu sei, eu fui idiota em ter guardado rancor e ter ficado realmente brava com ela, mas eu não sabia o que fazer...
Lembro de quando olhei em seu rosto pela última vez, sorria, porém de uma forma fraca. Sua pele estava pálida, dando um realce em seus olhos verdes. Nosso último abraço foi ao mesmo tempo o melhor e o pior abraço de todos. Algo me dizia que era a última vez que a veria e não estava errada.
É um porre perder quem ama e mais confia. Aquela vez em que comemos pizza até doer a barriga, ou então a vez em que fizemos umas competições idiotas e nojentas... nada disso mais tem graça de se fazer. Eu... não sei mais o que falar de você. Eu tinha tanta coisa pra falar, mas meu choro está me atrapalhando. Daria tudo pra te der de volta, mas isso já não é mais possível. Eu queria te dizer que você faz falta e muita.
Me desculpa...
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Os Lados de Luna
Teen FictionLuana é uma garota de 17 anos que está no auge de sua vida escola: o ensino médio. Época que ocorrem as melhores festas, boatos, barracos, fofocas e muito mais. Através de um diário dado por sua amiga, Rafa, contará cada momento de sua vida, trazend...