Dia 6- Surpresa

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Quinta-feira

O dia começou normal, mesmo pão de sempre, o café quase queimando, um frio agradável de inverno, céu nublado, aparência bagunçada, tudo estava como costuma ser. Peguei minha mochila e fiquei esperando na porta de casa a carona chegar para poder ir a mais um dia de aula. Mais um dia em que eu teria que olhar na cara das pessoas que me falaram de mim pelas costas, que se pervertiam em suas imaginações, que me julgaram sem ao menos saber o contexto que toda aquela história continha. De repente Guilherme aparece sorrateiramente atrás de mim, sussurrando um "oi" e me fazendo dar um pequeno pulo de susto. Estranhei ele estar ali e ele logo se justificou dizendo que como ele tinha se sentido muito mal por ontem e por não estar ao meu lado, falou que me levaria a um lugar muito divertido, para que não se sentisse tão culpado. Logo fiquei confusa, pois não sabia exatamente o porquê dele se sentir assim, mas relevei pois sabia que se culpava atoa. 

A carona chegou e fomos até a escola, porém só assistimos a duas aulas, pois ele não queria que fosse forçada a ficar ali naquele mini-inferno, com aqueles seres que estavam mais insuportáveis do que nunca. 

Guilherme sempre foi um garoto meio "vida louca" (odeio esse termo, mas foi o único que encontrei para defini-lo). Sempre desafiou as pessoas, conhecido por sempre zoar a escola, de vez em quando vai dar uma visitinha na coordenadora que por acaso é um amor com todos, inclusive com ele, que sempre foi extremamente educado com as autoridades (apesar da fama ruim). Diria que Gui é um rebeldezinho, um sem regras, espírito livre e isso sempre me cativou nele, pois por mais que ele seja esse garoto meio errado, ele quando quer, consegue ser incrivelmente maduro, possui uma capacidade de debater com argumentos muito bons, uma educação e respeito que espantam a quem olha. Quem o conhece de primeira sabe que é um demônio brincalhão, quase uma criança, mas quando ganha intimidade, ele se torna o príncipe encantado. Quem olha até acha que é hétero

Parecia que estávamos matando aula, mas tecnicamente não estávamos, pois tínhamos a autorização da minha e a da mãe do Guilherme para sairmos naquele horário. Ela não tinha me obrigado a ir para escola hoje, porque sabia que eu não estava muito feliz, por isso pôs um comunicado em minha agenda caso tivesse algum problema ou algo do tipo e quisesse sair. 

Ele era meu melhor amigo, sabia de todas as coisas, sabia das crises e dos piores segredos. Eu sempre o ajudei com tudo e ele podia contar comigo sempre. Ele é a pessoa mais autoconfiante que já havia visto em toda minha vida e nunca teve problemas com sua aparência (ainda bem que ele não tem, pois ele é muito bonito, sério). Digo que seu namorado é uma pessoa muito sortuda, pois não há pessoa melhor que ele e que se não fosse por suas ajudas naqueles momentos em que eu não queria falar nada, apenas abraçar alguém, não sei o que seria de mim. Ele é capaz de se tornar a pessoa mais irritante, chata, ignorante, arrogante ou até mesmo escrota, apenas para me proteger e assegurar de que não me façam chorar. 

1,78 de altura, ruivo dos cabelos cacheados, magro, porém levemente malhado (começou a fazer academia), levemente barbado, de voz grossa e suave, os olhos azuis como o céu, dentes perfeitinhos e uma maturidade meio bipolar, Guilherme gosta de ser chamado de foguinho, pois lembra de seu pai, que também teve uma morte trágica por um câncer no estômago que se alastrou rapidamente e levou ao seu fim aos 39 anos (por isso, ele é o único a ter tal compreensão comigo). Disse que sente seu coração aquecido e mais feliz quando o chamam assim. Um fator que normalmente faz as pessoas se apaixonarem por esse garoto é com certeza, sua personalidade. Sempre com um sorriso vibrante no rosto, uma energia contagiante, muito extrovertido e aberto a todos. Disposto a ajudar quem precisar, tem uma mente surpreendente e está sempre nos fazendo rir. 

Pegou em minha mão e seguimos até o ponto de ônibus, sem ao menos saber para onde estávamos indo 10 horas. Ele tinha tudo planejado em sua mente, enquanto eu estava ali, boiando, quase fazendo uma viagem para Júpiter sem volta. Tentei prestar atenção por todo o trajeto, mas essa cidade é imensa, havia cantos que eu nunca tinha visitado. Ele logo dá o sinal para pararmos, mas ainda estava perdida, precisando de um GPS para conseguir me localizar. Confesso que de primeira me assustei, pois achei que estivéssemos em outro estado de tão diferente que era aquele lugar. Um lugar simples, com casas muito bem estruturadas e bonitas, a vista para o mar era incrível, o cheiro de maresia, o som das gaivotas ecoando por aquele pequeno bairro do litoral e o que mais me chamou a atenção: um parque de diversões. Simplório, porém caprichoso e muito atraente. Não havia montanha-russa, mas tinha uma roda gigante na qual fiz questão de ir. Teve direito a boneco cigano, fotos muito bonitas, algodão-doce e aqueles joguinhos que você ganha uma pelúcia. Esses momentos com ele penso em gastar todos os segundos possíveis, pois por mais que nos vejamos todos os dias, raramente temos momentos assim, que nos fazem guardar com o coração. 

Sem prestar muita a atenção, uma mensagem de Davi acabara de chegar. Estranho, pois não é normal ele me mandar uma mensagem assim tão de repente:

- está tudo bem?

- sim! Obrigada por se preocupar...

- pode falar agora?

- claro

- então, não sei como é sua rotina ultimamente, mas, de repente, podemos marcar de sair amanhã, que tal?

Estava em estado de choque. Não sabia como reagir exatamente. Um sorriso nervoso e ansioso surgia levemente em meu rosto, fazendo Guilherme desconfiar um pouco. As mãos travaram, não respondiam a meus comandos (fiquei assim por uns 5 minutos). Tive que contar isso ao Gui e ele surtou por mim (o que foi bem engraçado). Depois de um tempo, finalmente havia conseguido responder a ele:

- por mim sem problemas, mas quando e onde?

- hm... o lugar é surpresa, mas pode ser a tarde, tudo bem?

- okay!

- te encontro às 18:00 na frente de sua casa

- na frente de minha casa? Como sabe onde moro?

- vejo você sair de casa todos os dias – ele põe um emoji rindo

- combinado então

Quando bloqueio a tela de meu celular novamente e volto a realidade não sabia exatamente o que tinha acabado de fazer. Guilherme implorava pelos detalhes, mas não conseguia explicar por conta da emoção que estava sentindo ali. Foi estranho, mas, ao mesmo tempo, foi bom. 

Fui refletindo durante o caminho de volta para casa o que exatamente tinha acontecido, não conseguia processar aquilo... Criei planos, mas não sabia exatamente o que aconteceria amanhã, então tentei não criar expectativas (o que foi bem difícil). De repente, uma notificação, era ele:

- Luana, prepare-se...

~fotos de hoje~

~fotos de hoje~

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Os Lados de LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora