04. Shape Of You

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Formato de você.

Tudo está escuro. A meia luz do bar confunde o que meus olhos veem. A música é alta e chiada, como se estivesse sendo reproduzida por um rádio antigo. Levo o copo gélido com cerveja aos lábios e dou um gole vasto. O gosto amargo me desce fácil como água. Este é o instante em que percebo o quão bêbada estou. Talvez a iluminação do bar não esteja parcial, mas, sim, minha visão turva.

Em meio aos rostos embaçados, consigo reconhecer o delicado de um dos garotos que frequentam o Crossfit. Shawn Mendes. Hoje mais cedo desistiu da série de levantamento de pneu de caminhão. Apesar de me decepcionar, devo confessar, ele é uma gracinha com esse rosto sem barba.

Doutro lado do bar, o aluno toma uns shots com os amigos. As conversas não aparentam das melhores, analisando que cada um dos rapazes precisa falar três vezes seguidas para ser respondido. De repente, percebo todos os pares de olhos rumarem a mim. Eles me viram. Que vergonha. Viro o copo de cerveja por inteiro na boca e levanto-me para ir ao banheiro, fugindo, propositalmente, dos olhares.

Os passos desconexos me levam à porta apertada ao lado do jukebox. Atrapalho-me com a maçaneta e entro. Pela sujeira, constato que não sou só eu quem estou alterada pelo álcool. Puxo o vestido para cima as pressas, agacho-me de mal jeito e esvazio toda a minha bexiga lotada. Seco-me, dispensando o papel, e tento ao máximo colocar a roupa como estava. O banheiro é apertado demais para qualquer tentativa certeira. Lavo as mãos e toco-as no próprio vestido.

Sem mais tardar, saio do cubículo. Meu pé me falha e escorrego no piso úmido. Um par de braços me ampara e encaro os olhos imensos e azuis. Abro um sorriso de agradecimento e noto as bochechas ferverem em vexame. Peço desculpas ao moreno e congelo ao ver quem o acompanha.

— Personal. — cumprimenta-me o rapaz próximo a jukebox.

— Shawn, oi. — tento parecer sã. — Começando o dia do lixo mais cedo?

— Você está.

Reviro os olhos. Ele, sem sombra de dúvidas, surpreendeu-me com a resposta.

— Nash, esta é srta. Reynalds, minha personal trainer no Crossfit. — apresenta-nos. — Srta. Reynalds, este é o Nash, um amigo da faculdade.

— Eleonor. — corrijo-o. — Obrigada por me segurar, Nash. Se não fosse por você, eu estaria no chão.

Ele assente em menção a não ter sido um esforço. Sorrio. Tudo gira, de súbito. Solto uma gargalhada.

— Aproveitem que estão no jukebox e mudem essa música horrorosa, por favor. — disparo sem pensar.

— E coloco o quê? — rebate o aluno.

Com as pernas ainda trocadas, cambaleio até e encaixo no espaço entre ele e a máquina de música, seguro a mão grande e levo aos botões.

— Van Morrison, o cara. — murmuro.

A distância mínima entre nossos corpos permite que eu sinta brevemente a respiração febril alcançar minha nuca. É possível que seja o álcool, mas o arrepio é imediato. Viro-me bruscamente para ele e roço meu nariz nos lábios rosados. No susto, ele arregala os olhos e, hesitante, afasta o rosto para trás.

— Acho melhor você se juntar às suas amigas, está perdendo a noção das coisas. — cicia em tom baixo, completamente consciente das atitudes.

— Sei com exatidão o que estou fazendo.

— Shawn, Cameron ficou sozinho à mesa, acho melhor eu ficar com ele. — tenta disfarçar o de os azuis, antes de se retirar.

Sem pedir permissão, encaminho as mãos do aluno à minha cintura e sou um passo largo para frente. Nossos narizes se alinham, nossos olhares se prendem. O castanho no azul. O azul no castanho. Meu coração dispara, e a perna me falha, derrubando-me sobre ele.

Ficstape - Divide (Ed Sheeran)Onde histórias criam vida. Descubra agora