Hard Times (ZAYLOR)

3. In The Mourning

Aqui estou eu, sentado em uma cadeira na sala de espera do hospital juntamente com minha mãe e meu tio Joshua, aguardando alguma notícia sobre minha avó. Minha perna está balançando muito, estou nervoso.

- Vai ficar tudo bem – eu disse enquanto abraçava com apenas um braço minha mãe que estava chorando com as mãos no rosto e com o braço livre acariciava o ombro do meu tio.

Eles não falaram nada e continuaram chorando até que um dos médicos apareceu para nos dar informações. Ele nos levou para uma sala reservada, fechou as portas e pediu para que nos sentássemos.

- Fizemos tudo que era possível – disse o médico que, segundo seu crachá, se chamava Jackie Grace e era neurocirurgião – mas houve uma hemorragia cerebral que se espalhou rapidamente, não conseguimos salvá-la.

Minha mãe soluçou de uma forma desesperadora, eu a abracei. Ela já havia perdido o pai quando mais nova e agora perdeu sua mãe. Este foi, sem dúvidas, um dos piores dias de nossas vidas.

Lembrei que quando eu era mais novo e minha avó, Annie York, que na juventude tinha a aparência exatamente igual minha mãe com cabelos ruivos com olhos escuros, dizia para que eu não tivesse medo da morte. Que não deveria ficar triste quando ela partisse desta vida, mas sim lembrar-se todos os dias dos momentos maravilhosos que passamos juntos.

Não conseguia sequer pensar em algo feliz. Não conseguia sequer me lembrar do último beijo que eu havia dado em seu rosto ou do último "eu te amo" que havia dito para ela. Eu apenas chorei e chorei até não ter mais lágrimas para chorar.

Passamos algumas horas na sala de espera reservada, até que os médicos preparassem minha avó para que pudéssemos vê-la. Estávamos em silêncio total quando meu tio me contou como aconteceu o acidente.

- Ela estava preparando biscoitos e eu estava sentado na sala assistindo ao jornal – disse ele emocionado – quando ouvi um barulho e levantei para ver o que era. Encontrei ela caída perto do forno, com a cabeça sangrando e vestígios de biscoitos espalhados pelo chão. Deduzi pelos objetos no chão que ela escorregou em um dos tapetes logo após ter retirado os biscoitos do forno, bateu a cabeça na quina da mesa da cozinha tão forte que, como os médicos disseram, que causou uma fratura no crânio que ocasionou uma hemorragia cerebral.

Minha mãe chorou mais ainda e eu a acompanhei. Imaginei o tanto de dor que minha avó sentiu quando bateu a cabeça. O quanto que ela gostava de cozinhar bolos e biscoitos e como esses hobbies acabaram matando-a.

O médico nos chamou para uma sala, onde o corpo estava exposto sobre uma mesa.

Minha mãe e meu tio se aproximaram dela, abraçaram, beijaram e disseram as últimas palavras para ela. Em seguida me aproximei e a toquei, um corpo que até ontem estava quente, aconchegante e que proporcionava os melhores abraços do mundo, agora estava gelado e mais pálido que o normal. Eu disse que a amava, a abracei e beijei seu rosto enquanto soluçava e chorava horrores.

Então tivemos de partir, deixa-la naquela sala. Sozinha.

No dia seguinte foram realizados o velório e o enterro de minha avó. Dezenas de pessoas foram prestar suas condolências. Haviam poucas pessoas de família, uma vez que ela tinha apenas dois filhos. A maioria eram amigos e vizinhos, incluindo Nichole, Piper e suas famílias. Todos choravam e falavam a quão boa pessoa minha avó era.

Lembrei de todos os momentos bons que passamos juntos, todos os sorrisos que trocamos, todos os biscoitos que cozinhamos juntos e me permiti sorrir no meio de tantas pessoas chorando. Era isso que ela queria, que as pessoas sorrissem quando pensassem nela, e não chorassem.