O fruto do passado - #33

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Steve sentiu uma dor aguda em seu maxilar, e logo cambaleou uns três passos para trás. Levou a mão ao lugar atingido e quando a tirou pôde ver um filete de sangue em seus dedos.
- Acho que chega por hoje, – ouvia Steve encarando seu adversário, ainda sentindo o gosto adocicado de sangue na boca. - Você não está concentrado o suficiente para continuar. - Disse Thor.
- Isso foi um golpe de sorte. - Capitão respondeu colocando -se na base novamente, na intenção de mostrar para o outro que queria prosseguir com o treino.
- De jeito nenhum. – o Príncipe de Asgard disse sorrindo – Não quero correr o risco de te partir ao meio, sem você ao menos perceber o que foi que houve... – Os dois gargalharam, Thor guiou-se para perto de uma pilastra onde uma garrafa d'água e uma toalha branca jaziam – Vós humanos são muito engraçados. Você está como dizem "no mundo da lua". – continuou, assim que tomou um pouco de água e jogou o resto em seus cabelos louros suados – Só defende meus golpes por reflexo, porque é excelente guerreiro, mas a sua cabeça está há anos luz daqui... - Steve por sua vez deu dos ombros. Estava com o rosto sangrando e então resolveu ir até a enfermaria pegar algo para estancar aquele ferimento. Para sua surpresa a última pessoa que queria encontrar estava sozinha no local. Quando ele abriu a porta e entrou Laura permaneceu paralisada, encarou os olhos azuis frios o rosto impassível. A voz dele rompeu o silêncio confortável entre eles. — Tem alguma coisa aqui que eu possa usar para estancar esse Corte? — Perguntou. Laura caminhou até ele, esperando uma possível recusa, quase com a certeza ele se afastaria caso ela o tocasse.
— Se me permitir, Vou examinar o local do ferimento. — passou por ele em direção a pia lavou as mãos e colocou as luvas em silêncio, e se aproximou dele. Assim que ela o tocou ouviu o Loiro resmungar algo indecifrável. A maçã do rosto estava inchada, havia um corte no supercílio. O ferimento não era profundo, mas estava sangrando, quando ela ia pegar algo para limpar o sangue ele a agarrou pelos pulsos.– Deixa eu cuidar disso...- Não conseguia formular uma frase. Sentia vergonha e raiva em níveis proporcionais.
– Agora não. - Disse ele encarando a morena.
– Não esta doendo?
Ele nada respondeu, a pegou pelos braços e a encostou na maca, em seguida ele colocou Laura assentada sobre a cama hospitalar e fez com que ela ficasse junto a ele. Ele começou a fita-lá de maneira diferente, com o olhar parecendo focalizar seus lábios. Em seguida deu um profundo suspiro. Ela fechou os olhos por um momento quando ele encostou suas mãos nela, primeiro subindo pelos braços até tocar o pescoço e o rosto. Estavam face a face e com os lábios muito próximos, sentindo um a respiração quente do outro.
– Cap... – Falou Laura.
- Shiii. - Ele inclinou-se sussurrou próximo a boca dela. Laura deixou escapar um suspirar. Quando ouviram passos se aproximando no corredor, Laura rapidamente desceu da maca e caminhou para a outra extremidade da sala, enquanto Steve permaneceu onde estava. Alguns segundos depois um dos enfermeiros plantonista entrou pela porta.
– Capitão Rogers... Doutora Amandelli... precisa de algo?
– Não obrigada Toby... Vou examinar o ferimento do Capitão e tudo o que preciso já encontrei.
– Se precisar de algo, ou de ajuda, estou na estação ao lado.
– Ok obrigada... - O rapaz saiu da sala e ela pode respirar. - Por favor, se sente aqui. - Disse ela pedindo para que Steve se sentasse indicando uma poltrona próxima. Por ele ser mais alto, poderia verificar o ferimento sem problemas ali. Laura começou a limpar e desinfetar o corte do olho, com cuidado pegou o algodão com álcool 70% e começou a deslizar sobre o local.
— Sente dor? - Finalmente quebrou o silêncio.
— Não. Pode continuar. -Respondeu apenas.
— Não vou precisar de dar pontos...
— Porque voltou? – Steve perguntou à queima-roupa ignorando as palavras dela. Ela ficou uns minutos calada e então quebrou o silêncio.
— Porque é meu maior desejo. Voltei para reivindicar isso. - Disse firme.
Um fraco sorriso agraciou os lábios de Steve enquanto olhava a morena. - Você não tem consciência?
— Não tenho. - Laura disse e continuou fazendo o procedimento do curativo em silêncio. Ele encarou os olhos da morena e soltou: — Você não sabe mentir.

Já era 3 horas da manhã quando Steve jogou-se na cama, cruzando um braço atrás da cabeça e esfregando o polegar sobre a boca. Por pouco não se beijaram. Mas o sabor do beijo ainda estava lá. Gravado nas memórias. Esticou o canto dos lábios, num sorriso misterioso e irresistível.
Ela estava deitada no convés, barriga para cima, olhando as estrelas. Mais cedo, enquanto fazia o curativo, pensou nos momentos felizes que tiveram no aniversário dele um ano antes. Memórias que ela preferia esquecer. Perguntava-se também o porque dele querer saber o motivo de voltar.
Com um ultimo olhar para as estrelas, ela se resignou de que não conseguiria dormir mais naquela noite e decidiu explorar o centro de treinamento. Caminhou o mais silenciosamente possível pelos corredores desertos, o Helicarrier podia ser bem sombrio durante as primeiras horas da manhã se está sozinha. Mas a arena de treino era distração suficiente para que Laura esquecesse qualquer assunto incoveniente, ou naquele caso, qualquer par de olhos azuis. Agradeceu por ele não estar lá treinando, o que geralmente fazia.
Prendeu o cabelo num coque frouxo e começou a fazer o aquecimento. Ficou imersa nos treinamentos por horas a fio. Numa ação reflexo, ainda com o corpo ligeiramente trémulo e a mente nublada, virou-se para o seu possível atacante, adquirindo uma posição de ataque, a centímetros de acerta-lo no rosto com o pé.
O seu corpo relaxou quando encontrou à sua frente um surpreendido Steve Rogers, que ficou imóvel perante a ação súbita da agente. Envergonhada, Laura recuou e ficou de costas para ele.
— Desculpa. – optou por dizer num tom baixo, não encarando o super soldado.
— Está tudo bem. Eu é que peço desculpa, não era minha intenção assustá-la. – ouviu-o dizer atrás de si.
Ela não queria ficar ali nem mais um minuto. Deu-lhe as costas retirou as luvas e pegou a garrafa de água. Virou-se e viu que ele ainda a encarava. Ele estava descalço com uma calça de malha, sem camisa e com os cabelos molhados. Maldito! A sua boca masculina estava um pouco avermelhada devido a um corte no lábio inferior. Os olhares se cruzaram naquele momento. Laura estava atônita, mil coisas passavam-se em sua cabeça. Steve parecia estar em um conflito interno, ao mesmo tempo que era grande a vontade de se afastar, tinha vontade chutar o balde literalmente, prendê-la em seus braços como teria feito mais cedo e beijá-la. E pensar nessa idéia fazia seu coração se acelerar a tal ponto que ele estava quase que ofegante. Balançou a cabeça. Isso era loucura. De onde havia surgido tal necessidade?
— Boa Noite. - Ela se despediu dele, caminhando com os olhos fixos no chão quando se chocou contra a parede de músculos. Ele havia bloqueado sua saída. Ele a amparou com seus braços para que ela não caísse. Sentiu como que se uma corrente elétrica atravessasse todo o seu corpo naquele instante, seus rostos estavam próximos, os olhos azuis intensos. Laura arregalou os olhos, e deu impulsivamente um passo para trás, levando uma das mãos à frente do peito.
— Você... — Estava ofegante, com o coração aos pulos e uma pequena tremedeira no corpo. — Capitão...
— Você amava o Storm ? — Steve perguntou, olhando-a seriamente.
A jovem ficou paralisada, não esperava por aquela pergunta.
Laura não conseguia desviar de seu olhar. A forma como suas emoções reagiam àquilo estavam a deixando confusa e insegura.
— Isso não é da sua conta! — Respondeu deixando as lágrimas caírem, uma após a outra.
Ele, no fim das contas sentiu que ela ainda mexia com ele mais do que imaginava. Ele pode sentir um leve estremecimento em seu corpo quando, ela se afastou.
— Isso é da minha conta sim! Pra mim você não mente mais! - Fez uma pausa passando as meus pelos cabelos- Quando te conheci eu não queria me envolver...quando aconteceu o acidente eu fiquei devastado, fingir indiferença ao que aconteceu foi a coisa mais difícil que já fiz, olhe nos meus olhos e veja se estou mentindo. — E realmente não teve êxito em encontrar mentiras nos olhos azuis do Capitão. Eles apenas brilhavam com a verdade. — Você o amou Laura?
— Amei... mas não o amei da mesma maneira... - respondeu ela, com a voz embargada.
— ...que amei você. — ela abaixou a cabeça, para não encontrar os olhos do loiro. Ele por sua vez ergueu o queixo dela para olhá-la diretamente nos olhos, esses antes castanhos estavam vermelhos e inundados pelas lágrimas.
— Eu não sabia que estava grávida Steve! Quando minha mãe me contou, eu quis morrer...- colocou a mão sobre seu próprio ventre. - Eu pensei neste bebê por vários dias...nosso... - Não pode completar a frase. Os soluços escapavam de sua boca descompassando ainda mais sua respiração já agitada.
—Vai ser o melhor para nós dois esquecer isso. – Steve puxa de leve uma mecha de trás de sua orelha, sentindo a textura — É melhor esquecer isso. – E saiu para o corredor, fazendo-a ainda mais vazia e confusa.
Steve voltou a sentir-se como um rato de laboratório. Ainda que ela continuasse com a gestação, Ele não sabia quais efeitos o soro teria sobre aquela criança.
— É melhor esquecer isso. - Ele dizia em voz alta mais para ele fixar em sua mente, do que para Laura.

Continua ...

I Knew you were troubleOnde histórias criam vida. Descubra agora