Do Templo

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Com certeza o gato não fora selecionado. Se já é raro um humano ser escolhido, imaginem os animais! Ainda assim Mariá o viu, no dia seguinte, empurrando com a cabeça a pesada porta de madeira e adentrando como se fosse sua própria casa.
Num pinote o seguiu, curiosa que só. O que o gato faria lá dentro? Estaria buscando proteção? Nunca saberemos ao certo, afinal, gatos ainda não aprenderam a falar neste país — tampouco no nosso, diga-se de passagem.
Pela primeira vez, teremos uma descrição do interior do Templo. Sugiro que leia atentamente, esta é uma oportunidade única que só os olhos estupefatos de Mariá poderiam proporcionar.
Todo o ambiente era escuro, exceto pela fraca luz de um lustre pendurado ao centro. Não havia imagens ou gravuras, como nos habituamos a ver em alguns templos de cá. As paredes eram por demais altas, quase não se podia ver o teto. Ao fundo, colado à parede, havia um espelho retangular e alto como um humano adulto, de molduras adornadas em metal brilhante.
Mariá, quando deu por si, estava no meio do Templo. Bancos e bancos de madeira se arrumavam à sua volta; todos vazios, com exceção daquele à sua extrema direita.
Um grupo de homens sorridentes proclamava um cântico, de pé frente ao banco. Mariá se atentou a eles: eram cinco, arrumados em fileira, engomados e empoados como se nobreza fossem. Sacerdotes, ela logo imaginou.
A canção nada tinha de rimas ou palavras, só chamo de canção pela melodia. Era composta por uma sequência numérica, a princípio sem sentido algum. Mariá só conseguiu entender alguns dos elementos, por isso também não teremos a sequência completa. Começava assim:
Oito.
Cinco.
Três.
E continuava eternamente, sem pausas para respirar.

MariáOnde histórias criam vida. Descubra agora