Certo dia o pai de Mariá chegou em casa com a mão direita enfaixada. "Uma das máquinas da Indústria se desregulou e me feriu", assim ele narrou o acidente de trabalho. Usual, de fato, pode ocorrer em qualquer serviço, mas não é por sua frequência que aqui trago. Trago pelo que Mariá percebeu e não tomou com a mesma naturalidade que os outros: mesmo relatando terrível incidente, o pai de Mariá carregava o sorriso de quem escuta uma anedota.
De fato, Mariá já tinha questões sobre os sorrisos de seu povo, mas naquele momento todas elas a invadiram como uma saraivada de flechas. Com um braço ardendo em dor, era possível rir? Inconcebível. Inassimilável. Que sorriso é esse, que ultrapassa mesmo o horror?
Mariá paralisou brevemente, mas dali em diante não pararia mais de se perguntar.
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Mariá
Short StoryAcredito que você, como leitor versado que suponho ser, já deve ter passado por relatos históricos de todo tipo. Sou obrigada a dizer que este relato não é como os outros, não é daquelas histórias escritas nos livros e inscritas no que se estuda sob...